Crítica de cinema - Pique-esconde com dinossauros
Edgar Vianna de Andrade 18/06/2018 18:08 - Atualizado em 19/06/2018 13:34
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(Jurassic World: reino ameaçado) -
Quem se propõe a ser crítico de qualquer assunto numa província quase escreve para si mesmo. Não sei o que se passa na mente de um espectador comum ao assistir a um filme como “Jurassic World: reino ameaçado”. A meu parecer foi a mais desastrada produção de toda a franquia, que começou bem com Steven Spielberg e revela agora grande cansaço e falta de criatividade neste mais recente.
O discurso inicial é ecologista, não mais econômico. A ilha ocupada pelos dinos e abandonada pelos humanos, em que se criou o parque dos dinossauros a partir de restos de DNA está ameaçada por uma devastadora erupção vulcânica. O que fazer: deixar que os dinos se extingam pela segunda vez ou salvá-los? Ian Malcolm (Jeffe Godblum), o cientista defensor da teoria do caos no primeiro filme da franquia, opina pela reextinção diante de um congresso norte-americano imaginário que se preocupa com questões relacionadas à humanidade. Mas Benjamin Lockwood (James Cromwell), o velhinho remanescente da experiência de reviver os dinossauros, deseja agora uma ilha que permita aos animais do Mesozoico viverem em paz. Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e Owen Grady (Chris Pratt) são reconvocados para comandar a operação de transferência dos animais.
Mateusinho viu
Mateusinho viu / Divulgação
Esse caminho é logo abandonado. Se ele fosse seguido, o filme assumiria feição de documentário. Então, o discurso e os interesses econômicos logo assumem o primeiro lugar. O casal Grady e Dearing, acompanhado de uma veterinária e de um especialista em computação, foi enganado. Na verdade, o salvamento é apenas uma operação de caça aos dinossauros por um grupo de caçadores truculentos sob comando de Eli Mills (Rafe Spall), um bandido em pele de mocinho que goza da confiança de Lockwood, o velhote simpático. Sempre na tentativa de ver em filmes ruins algum aspecto que o salve, quis vislumbrar uma metáfora: os interesses econômicos vencem sempre os interesses humanitários e ambientais. Não consegui. Colin Trevorrow e Derek Connolly, os roteiristas, não deixaram. Eles escreveram pouco roteiro para um longo filme.
Do princípio ao fim, o filme foi saturado por clichês e tiradas que pretendiam arrancar risos da plateia. Ninguém escaparia da explosão da ilha e da lava: nem dinossauros nem humanos. Mas escaparam. Cabia um pouco mais de realismo. Creio que os pterossauros não ficariam confinados à ilha em momento algum porque têm asas. Idem com os répteis marinhos. As cenas de aventura são primárias. Elas poderiam ser melhor concebidas.
Mas a parte final do filme é simplesmente ridícula. Os humanos fogem se escondendo dos dinos. Depois de um leilão risível de dinossauros, um deles foge e acaba com a festa. O dinossauro inventado para ser a mais mortífera arma foge da jaula e come os maus. Depois, persegue os bons como se fosse um matador profissional frio e calculista. Vive-se um pique-esconde com a fera. Quis ver nessa perseguição alguma referência a “Encurralado”, filme de estreia de Spielberg. Eu estava forçando muito a barra. Mas o bem e o mal não apenas dividem a humanidade. Eles estão presentes também no reino animal. Um dino bonzinho mata o mau e salva todo mundo. Os animais fogem e ganham o mundo. Malcolm, então, em tom patético, dá boas-vindas aos congressistas à era dos dinossauros.
O filme é uma mera demonstração do nível alcançado pelos efeitos especiais. Como tal, qualquer diretor poderia assumir a batuta. O escolhido foi Juan Antonio Bayona. A única alegria que o filme me proporcionou foi a curta participação de Geraldine Chaplin. Ela ainda está viva. Bom, o próximo filme da franquia está pronto. Agora, será preciso caçar dinossauros nas cidades.

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