Felipe Fernandes
01/06/2018 18:07 - Atualizado em 05/06/2018 14:37
(Não se aceitam devoluções) - O ator e humorista Leandro Hassum se notabilizou além de seu trabalho na TV, como ator de cinema. Praticamente todo ano ele lança um novo filme, sempre comédias com o mesmo estilo de piadas rasas e situações absurdas, mas que parecem agradar ao grande público, já que consegue grande retorno em bilheteria. A partir de 2017 ele parece tomar um novo rumo, trazendo à tona em seus trabalhos mais o lado ator que o de comediante, não que seu novo trabalho o remake do fenômeno mexicano “Não se aceitam devoluções” não tenha traços de humor, mas aqui ele aposta em uma tragicomédia, em um longa que abusa um pouco menos das piadas fracas e mais em um drama familiar, mas que não encontra um tom e não faz rir nem emocionar.
Juca Valente (Leandro Hassum) é um boa praça mulherengo que vive trocando de mulheres e fugindo de relacionamentos até que uma ex-namorada surge em sua casa e abandona com ele uma bebê que ela alega ser filha dele. Procurando pela mãe da criança, ele segue para Los Angeles onde acaba se tornando dublê de cinema e buscando suprir a ausência da mãe, criando a filha em um mundo de fantasia. Anos depois, a mãe reaparece querendo conhecer a filha e vai mexer de vez com a vida dos dois.
O primeiro ato do filme tem as características da filmografia habitual de Hassum, piadas forçadas seguidas de situações absurdas, tudo narrado com uma certa pressa no intuito de estabelecer a relação de pai e filha e chegar ao ponto onde a história de fato se passa. Do segundo ato em diante, o roteiro se mostra uma comédia mais família, tocando assuntos mais sérios, trabalhando melhor as relações e com um ritmo mais adequado a esse tipo de gênero.
Mas o longa deixa de lado aspectos que poderiam criar camadas dramáticas interessantes, como a questão de serem estrangeiros levando a vida numa terra distante, para abordar sequências que acrescentam muito pouco a narrativa e não divertem. Após o retorno da mãe, uma reviravolta previsível, mas que poderia gerar uma abordagem interessante, o filme se perde vez. O desfecho é irregular, perde o foco ao tentar ser mais do que é, tentando adentrar diferentes gêneros, virando um drama familiar de tribunal, trazendo ainda uma reviravolta final fajuta que assusta de tão artificial (mas ao menos mostra coragem por parte dos realizadores).
A direção do brasiliense André Moraes (em seu segundo longa) também não ajuda. Ele trabalha cenas mais longas que privilegiam o estilo de humor de Hassum, mas acaba ressaltando o trabalho irregular do restante do elenco. Abusando ainda de efeitos como a câmera lenta e cenas carregadas de clichês cansativos, cinematograficamente falando, o filme é pobre.
Hassum é um ator dedicado, até tem algum carisma, mas não consegue levar o filme nas costas. A química de Hassum com a jovem Manuela Kfouri até funciona, mas o trabalho da jovem atriz soa muito artificial em diversos momentos, prejudicando em várias cenas. Contando com um elenco de coadjuvantes que não consegue dar o suporte necessário (característica essencial nesse tipo de filme), muito também por culpa do roteiro, é verdade, passando por situações bizarras como a ponta do vocalista Derrick Green do Sepultura (cena que previsivelmente traz uma trilha de heavy metal) e a pitoresca e injustificada participação de um ator se fazendo passar por Ozzy Osbourne, uma referência deslocada que não alcança o grande público do filme e parece divertir apenas os realizadores, pois nem aos fãs do cantor consegue.
O estilo do filme lembra muito os trabalhos de atores como Ben Stiller e Adam Sandler. Foge do comum dentro da cinematografia nacional, mas ao final fica a sensação de ter visto filme repetido. O longa poderia ter inovado mais. Mas mesmo com inúmeros defeitos, “Não se aceitam devoluções” parece indicar um novo caminho na carreira de Hassum. Se o público comprou a ideia ou não, só a bilheteria vai dizer.