Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales
19/05/2018 20:52 - Atualizado em 23/05/2018 17:04
Em palestra no auditório completamente lotado da Faculdade de Direito de Campos (FDC), no último dia 8, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) já tinha mostrado que o avanço da direita no Brasil não é exceção na planície goitacá. Pré-candidato ao Senado com liderança acentuada nas pesquisas, ele voltou ao município na última sexta (18), quando deu uma entrevista à Folha. Nela, analisou o avanço da pré-candidatura do seu pai, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), à presidência da República, também líder em todas as pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Lula (PT). Ele defendeu pontos polêmicos, como endurecimento no enfrentamento contra o crime, redução da maioridade penal, liberação do porte de arma e até a ditadura militar brasileira (1964/85), que ele prefere chamar de “regime”. E credita à popularidade de seu pai ao fato de ter tirado a direita brasileira do armário.
Folha da Manhã – Feita entre 4 e 9 de maio, a pesquisa Paraná foi a primeira ao governo estadual e às duas vagas fluminenses ao Senado. Nesta, você apareceu liderando com 32,3% das intenções de voto. Foram mais de 10 pontos à frente do segundo colocado, o ex-prefeito do Rio, César Maia (DEM), com 20,6%. Observadas as limitações da Justiça Eleitoral, que só permite falar como candidato após as convenções, a que credita tanta vantagem?
Flávio Bolsonaro – Em primeiro lugar, sempre faço uma ressalva com relação a pesquisas oficiais. Quando os institutos não erram propositalmente, jogando o (Jair) Bolsonaro (PSL) para baixo na margem de erro e alguns adversários para cima. Eu sou a prova viva. Aconteceu comigo em 2016 na campanha à Prefeitura do Rio. O Datafolha me deu 7% no sábado e no domingo eu tive 14%, 100% de diferença. Então a gente nunca sabe se é intencional ou se nosso eleitor é difícil de ser captado em pesquisa.
Folha – Você acha que pode ser intencional?
Bolsonaro – Acho que pode ser intencional. Em grande parte das vezes, é. Ainda mais quando são institutos ligados a veículos que fazem claramente oposição a Bolsonaro.
Folha – Você se refere ao Datafolha e à Folha de S. Paulo?
Bolsonaro – A Folha de S. Paulo, principalmente. O instituto Paraná Pesquisas, eu acho que não tem muitos motivos para desconfiar que faça maldosamente, mas sempre faço essa ressalva, que o nosso eleitor é muito pulverizado. Tecnicamente é difícil de captar. Qualquer candidato que tenha no eleitorado uma parcela grande de público religioso ou público de opinião, a margem de erro é bem maior. Onde os pesquisadores vão, não consegue refletir a realidade. Feita essa consideração, eu entendo que a força do nome do Bolsonaro no Brasil seja o motor para essa diferença tão grande. E nessa pesquisa, especificamente, parece que nem o César Maia e nem a Martha Rocha (PDT, que teve 20,4% na pesquisa) são pré-candidatos ao Senado.
Folha – Eles não são pré-candidatos.
Bolsonaro – Então a diferença para o segundo lugar, não sei se é o Chico (Alencar, Psol) ou o Lindbergh (Farias, PT)...
Folha – Chico está na frente, com 16,3%.
Bolsonaro – Acho que as candidaturas ao Senado ainda vão se definir nas convenções. Alguns nomes podem aparecer. Mas eu sempre falo que a gente está trabalhando para dar o maior percentual de votação no Rio de Janeiro ao pré-candidato à presidência da República Jair Bolsonaro. Então, como estou 100% com ele, meu nome acaba aparecendo bem pontuado. E fico feliz com isso.
Folha – Depois da vitória de Marcelo Crivella (PRB) à Prefeitura do Rio, com outro ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) bem na consulta Paraná a governador e dois nomes conservadores, você e César Maia, liderando ao Senado...
Bolsonaro – César Maia, um parêntese, não é tão conservador assim. Ele tem umas ideias progressistas que até o colocam no campo da centro-esquerda.
Folha – Ele começou com Brizola (1922/2004) e depois foi migrando para o centro e para a direita.
Bolsonaro – Eu coloco na direita sempre conservador nos valores e liberal na economia. Não vejo o César Maia conservador assim nos valores. Ele quer se aproveitar do momento em que falar que é de direita é bonito para ele. O próprio DEM, onde ele está, qual é a inspiração? É o Partido Democrata dos Estados Unidos, que é de esquerda.
Folha – Nos Estados Unidos você ser liberal é ser de esquerda.
Bolsonaro – É, lá são os conservadores é que são os republicanos. Então o César Maia trouxe essa inspiração de um partido de esquerda nos Estados Unidos. Mas acho que ele se coloca no campo da centro-direita porque ele é um cara que faz muitas pesquisas. Ele gosta de se posicionar sempre ao lado da maioria. É muito mais nessa linha do que de convicção ideológica mesmo.
Folha – Mas com Eduardo Paes, você e César Maia bem cotados, dá para supor que o eleitorado fluminense, tradicionalmente mais à esquerda, virou à direita?
Bolsonaro – Olha, eu acredito que hoje, o que acontece é que pessoas que pensam como nós, mais à direita, estão mais encorajadas de se assumir.
Folha – A direita saiu do armário?
Bolsonaro – A direita saiu do armário, muito em função dos posicionamentos do Jair Bolsonaro há tempos no Congresso Nacional, muito em função da atuação muito importante do professor Olavo de Carvalho, que é um filósofo, um grande influenciador de todo esse aspecto que se coloca à direita. E com a internet as pessoas foram se identificando conosco e assumindo essa posição porque antigamente a grande imprensa coloca essas discussões ideológicas de uma forma que parecia que quem era conservador era a minoria. Havia uma imposição do silêncio e as pessoas não se manifestavam. E com a internet é o contrário, com a perda de poder da grande mídia, as pessoas conseguem perceber que a grande maioria é conservadora, inclusive no Rio de Janeiro. Os números estão aí para mostrar o que estou falando.
Folha – Com larga vantagem na corrida ao Senado e com seu pai à frente em todas as pesquisas para presidente, sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)...
Bolsonaro – E está até inelegível. Acho que agora até os institutos estão tratando sem ele.
Folha – Eles trazem cenários diferentes com Lula e sem. E seu pai lidera no cenário sem Lula.
Bolsonaro – E você vê como tem um pinguinho de preferência ideológica dos institutos de pesquisa. Não tem sentido alguém que não vai concorrer continuar nas pesquisas. Inclusive alguns veículos querem fazer sabatina com ele dentro do presídio. É uma forçação de barra surreal.
Folha – O Lula pleiteou isso.
Bolsonaro – Eu vi a Folha de S. Paulo falando que quer fazer, acho que o Datafolha, não sei.
Folha – A iniciativa veio do PT e não de algum órgão de mídia. Mas, enfim, tendo em vista as situações boas sua e do seu pai em duas eleições majoritárias, não seria um erro estratégico não lançar um nome do seu grupo também a governador do Rio?
Bolsonaro – Não estamos preocupados com disputa de poder. A gente não está nessa batalha por poder, não. O principal projeto que nós enxergamos para tirar o Brasil desse grande mar de lama, corrupção e incompetência que o PT nos afundou e o PMDB não conseguiu tirar. A solução passa por Brasília, pelo Congresso Nacional, pela presidência. E o que a gente enxerga hoje no cenário dos candidatos aqui no Rio de Janeiro, muitos deles terão em suas legendas pessoas que vão pedir voto para Bolsonaro. A partir do momento que ele pede apoio a um candidato, ele perde esse apoio espontâneo que haveria de eleitores desses outros candidatos. Então, neste momento, não posso falar lá na frente, nós não pretendemos lançar ninguém ao governo do Estado. Até porque o governo do Rio está completamente quebrado, o Pezão (MDB) está fazendo de tudo, se endividando até onde não pode para conseguir terminar o seu mandato. O próximo governador terá seríssimas dificuldades, não tem nem mais margem de endividamento. Então, a saída para a crise no Rio vai depender, mais do que nunca, do apoio da União. Tenho convicção de que lá em Brasília poderemos ajudar muito mais o Rio de Janeiro neste aspecto.
Folha – Outra pesquisa Paraná, feita entre 27 de abril e 2 de maio, foi a que registrou até aqui a menor diferença entre Lula (27,6%) e seu pai (19,5%) na corrida presidencial. A diferença de 8,1 pontos percentuais pode cair a apenas 4,1, forçando a margem de erro de dois pontos. Como alguém que era considerado o antagonista de Jean Wyllys (Psol) na Câmara Federal se tornou em tão pouco tempo o principal adversário do líder político mais popular do Brasil, desde o ex-presidente Getúlio Vargas (1888/1954)?
Bolsonaro – O tamanho do Bolsonaro não tem nada a ver com Jean Wyllys. Simples assim. Alguns ditos “especialistas” em análise política tentaram forçar essa barra para tentar trazer o Jean Wyllys a reboque do Bolsonaro. E os números estão mostrando que ele é muito maior do que isso, maior do que Lula, do que Jean Wyllys. O tamanho dele tem a ver com todo o cenário nacional que estamos enfrentando, com altíssimo desemprego, grave crise na Segurança Pública, de corrupção desenfreada. A população enxerga que precisa escolher um perfil mais conservador do que já foi apresentado até agora. Os progressistas só afundaram o nosso país, incluindo a Educação. Então estão enxergando no Bolsonaro uma tábua de salvação para o país dar uma endireitada. Dar uma guinada para a ordem, desenvolvimento e progresso. E como se dá isso? Com uma pessoa com independência política, que não vai chegar, se for a vontade de Deus, a uma presidência da República e fazer tudo que os outros estão fazendo. Por exemplo, comprando deputado para aprovar matéria de interesse do governo. Não é nossa linha. Por qual motivo o Bolsonaro está com mais de 20% das intenções de votos e nenhum partido quer se aproximar dele para fazer coligação, já que ele é o principal potencial candidato à presidência? Nós não falamos a mesma língua deles e queremos preservar esse valor até o final de nossas vidas públicas. Se quiserem caminhar conosco, a forma de fazer política é diferente. Garantindo que o Congresso Nacional cumpra o seu papel legítimo de fiscalizar, de participar, sim, do orçamento, trazer as demandas da população que são responsabilidade do presidente para que sejam resolvidas. Você pega qualquer pleito de uma bancada ruralista, bancada da segurança, bancada religiosa. Quais são os pleitos em cada localidade? Vamos resolver, sem toma lá, dá cá. É assim que acreditamos que vamos tirar o Brasil desse buraco.
Folha – Sem Lula, seu pai lidera para presidente em todas as pesquisas. A mais recente foi feita pela CNT entre 9 e 12 de maio. Nela, sem Lula, Bolsonaro ficou com 18,5% das intenções de voto. Entre 20% a 20,9%, ele também liderava nos três cenários sem Lula da pesquisa anterior do mesmo instituto, realizada entre 28 de fevereiro e 3 de março. Mesmo dentro da margem de erro, é uma queda de cerca de dois pontos. Mas o fato é que, pela CNT, Bolsonaro não cresceu nos últimos dois meses. Não é muito cedo para bater teto? Como superá-lo?
Bolsonaro – Tenho a convicção de que, primeiro, os números de Bolsonaro não são esses e, definitivamente, são muito maiores. Qualquer pesquisa no Google, no Youtube mostra como ele é recebido em aeroportos, em cidades de onde são muitos dos políticos que estão aí, que mantiveram o povo na pobreza e desempregado. A gente não faz política para agradar ou desagradar alguém ou preocupado com os números. Nosso trabalho é diário. Tijolinho por tijolinho, para construir essa força. Não gosto de ficar analisando esses números friamente. Como falei, tenho muita desconfiança com relação a essas pesquisas. Tenho certeza, o Lula nem está nesse tamanho todo. Você pega a Marina com 12%. Eu não conheço uma pessoa que vote na Marina. Nem o amigo de um amigo que conhece alguém que vote nela. Ninguém. Como que ela está com isso tudo? Dez por cento é muito. Não está. Se, oficialmente, Bolsonaro está mais do que os segundo e terceiro colocados juntos, é sinal de que ele está muito maior. A gente percebe que quanto mais a verdade aparece, mais o Bolsonaro cresce.
Folha – Sem falar nos números, vamos discutir a tendência. Como a CNT em duas pesquisas com dois meses de diferença e não indica crescimento, a questão do teto é algo importante em qualquer eleição. Todo candidato tem um teto. Ele pode alcançar antes ou depois, como um atleta, que tem um pico e depois cai. Se essa pesquisa CNT estiver certa e esse teto tiver sido batido, não está muito cedo?
Bolsonaro – Primeiro que se você pegar da CNT, dá 18%, se pegar da Paraná Pesquisas dá 26%, 25%. A diferença é muito grande...
Folha – A Paraná deu a Bolsonaro 19,5% com Lula e 20,5%, sem.
Bolsonaro – Na minha avaliação, o que os institutos estão pegando é o piso dele e não o teto. Além disso, tem as pessoas que não declaram voto, o que é uma característica do nosso eleitorado. Vota quietinho. Está mudando esse panorama, esse perfil com a internet. Além dos indecisos também. Hoje, Bolsonaro tem dois aspectos que está buscando e que não tem nenhum outro candidato com essa capacidade. É o perfil, melhor dizendo, para buscar. São os votos nulos. Então, o voto de protesto contra toda essa corrupção pode ser o Bolsonaro. Acho que isso está muito longe de ser o teto dele.
Folha – E qual seria o teto?
Bolsonaro – Não dá para saber. Acredito que, dependendo de como as coisas forem acontecendo até a campanha, os fatores forem influenciando, como Lava Jato, as operações aqui no Rio de Janeiro também, e as alianças que muita gente faz, vendendo a alma ao diabo em troca de tempo de televisão, podem acabar favorecendo ao Bolsonaro também. O único que é contra esse sistema podre, realmente, é o Bolsonaro.
Folha – Você falou da desconfiança sobre o Datafolha. Das três últimas pesquisas, falamos da CNT e da Paraná. A Datafolha mais recente, feita entre 11 e 13 de abril, deu seu pai, com 17% das intenções de voto, empatado na margem de erro de dois pontos com a ex-senadora Marina Silva (Rede), que teve 15%. É uma pesquisa mais antiga que a Paraná e a CNT, que deram Bolsonaro isolado, respectivamente, com 20,5% e 18,5%, contra os 12% e 11,2% de Marina. Acha que a próxima Datafolha confirmará essa tendência e trará seu pai já descolado na liderança?
Bolsonaro – Acho que o Datafolha nunca assumirá que o Bolsonaro está disparado na frente desse jeito. Eles manipulam as pesquisas. E se não manipulam, são muito incompetentes, porque eles erram. Dei o exemplo que aconteceu comigo, com 100% de diferença de um dia para o outro. Como o Datafolha é ligado à Folha de São Paulo, que é um veículo que está apontando claramente contra nós com inverdades. Eles não têm a menor credibilidade, são totalmente fake news para mim.
Folha – Além de Marina, criticada pelos petistas por ter apoiado Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014 e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a esquerda tem ainda Ciro Gomes (PDT), que aparece em terceiro nas pesquisas. Mas depois de ter uma aliança com o PT, que daria a vice, descartada por Lula, o político cearense já teria sondado o presidente da Coteminas, Josué de Alencar, e estaria agora flertando com Benjamin Steinbruch (PP), banqueiro e um dos homens mais ricos do país, para compor sua chapa. Isso sinaliza a demanda de virar à direita, ou pelo menos ao centro, para se eleger presidente?
Bolsonaro – Isso demonstra uma manobra para tentar enganar o grande empresariado do Brasil. O Ciro Gomes é um cara altamente estatista, que tem falado abertamente que vai perseguir os grandes empreendedores e qualquer um que gere emprego e renda neste país e que tenha lucro. Ele acha que o empresário que tem lucro é explorando os trabalhadores de uma forma cruel. Ele diz até que pretende rever o aumento da contribuição de impostos por parte dessas pessoas. O empresariado não é bobo. O Ciro não passa nenhuma credibilidade para esse setor.
Folha – Seu pai também tem quebrado ao centro para tentar desfazer a imagem de radical de direita. Após ter proposto em 1999 o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por conta das privatizações do governo, ele hoje admite privatizar até a Petrobras, como fez em visita aos EUA em outubro. Um dos principais problemas do Brasil, a economia é tida com um dos pontos fracos de Bolsonaro. Em evento de fevereiro em São Paulo, para empresários e investidores, ele admitiu: “não entendo nada de economia”. Basta ter o economista e ex-banqueiro Paulo Guedes na equipe?
Bolsonaro – O radicalismo do Bolsonaro é contra a corrupção, contra os marginais, então, esses rótulos que tentam colocar nele como se fosse uma pessoa desequilibrada são totalmente equivocados. Ele é uma pessoa extremamente preparada, inteligentíssima, passou em um dos concursos mais difíceis do Brasil, na década de 1970, na Academia Militar das Agulhas Negras. Uma pessoa que sempre estudou em escola pública e subiu na vida pelos próprios méritos. E o que ele passa ao falar de economia é a sinceridade. Ele não vai vender uma coisa que ele não é para a população, ele não vai topar qualquer parada pelo voto, ele não vai enganar a população. Se ele não tem domínio profundo, tem entendimento razoável sobre todos os temas. Se na economia não possui um profundo conhecimento, está com um dos melhores economistas do país na equipe, talvez o melhor, que é o Paulo Guedes. É uma pessoa que tem o orientado, o convencido de muitas ideias que ele antes não compreendia muito bem e que agora compreende muito melhor. Mostra que é uma pessoa flexível nesse aspecto. Todos que escolherem Bolsonaro como representante, se assim a convenção partidária definir, vão saber os nomes de muitos de seus futuros ministros porque ele é o único que vai ter independência para escolher os melhores quadros.
Folha – Outro dos principais problemas do país, a Segurança Pública é o maior cabo eleitoral do seu pai. Na última quarta (16), completaram-se três meses desde que o Exército assumiu essa pasta com a intervenção federal no Estado do Rio. E a sensação geral não é de melhora. Considerado em 2017 como a 45ª cidade mais violenta do mundo (14ª entre as 17 cidades brasileiras listadas) pela organização mexicana Segurança, Justiça e Paz, Campos teve 103 homicídios em 2018, 13 só em maio. A causa principal é uma disputa entre facções criminosas pelo domínio do tráfico de drogas em Guarus. Qual a solução?
Bolsonaro – Passa por vários setores. Vamos falar só da parte final. Em primeiro lugar, tem que mudar muita coisa dentro da própria corporação. O policial tem dificuldades para trabalhar, tem dificuldades financeiras, o Estado não honra com seus compromissos e, sem falar, que estrategicamente estão muito mal distribuídos. Esse projeto da UPP começou muito bem, mas depois que passou a ter um cunho eleitoral. Quando chegou até 10 UPPs no Rio, a Polícia Militar tinha o controle, dava para abrir mais uma por ter efetivo. Mas chega ao momento, hoje, que temos 39. Todo efetivo que foi empregado em UPPs deixou de ser empregado nos efetivos dos batalhões, que foram perdendo, ao longo do tempo, como aconteceu aqui em Campos. Então, o efetivo do batalhão aqui hoje é muito menor do que o de cinco anos atrás. A criminalidade espalhada por todo o estado, mais uma vez, por uma estratégia das UPPs que anunciava onde iria ser instalada a próxima, dando tempo para os marginais fugirem.São Gonçalo e Niterói viraram um inferno. Niterói era uma das cidades com melhor qualidade de vida do Rio de Janeiro, mas hoje é altamente violenta. Aconteceu também com Macaé, com Campos... E como se resolve isso? Primeiro, é ter coragem de dar um passo para trás para dar cinco para frente. Revendo totalmente as UPPs.
Folha – Essa frase “dar um passo atrás para dar dois à frente” é de Lenin (líder da Revolução Russa de 1917).
Bolsonaro – Mas eu falei cinco à frente, então é Bolsonaro. Lenin é atrasado (risos). A questão do efetivo precisa ser revista para áreas onde há maior incidência de crimes. E, segundo, mudar a legislação. Hoje se você perguntar para qualquer policial na rua, ele vai dizer que tem medo de agir. Se ele age contra um cara armado que está assaltando e dá cinco tiros, a chance de ele responder por ter agido com excesso é muito grande. O policial pode ir para a cadeia por ter matado um marginal. Ou se ele não age, a chance de ele morrer também é muito grande. O marginal o identifica como inimigo e atira para matar, tem certeza da impunidade. Precisamos mudar a legislação para dar segurança jurídica para nosso policial agir sem medo de virar réu. E eu posso garantir uma coisa: implementando isso, o governo Bolsonaro vai ser marcado por aumentar a taxa de homicídios, mas de marginais. Com bandido que está portando fuzil, levando terror para as nossas ruas, não tem que ter pena, tem que ser eliminado, como aconteceu na intervenção militar no Haiti. E além disso, aqui a polícia tem outro complicador, mas aí é culpa do Judiciário. Hoje existe uma coisa chamada audiência de custódia e é uma resolução do Conselho Nacional de Justiça. O que é isso? O policial prendeu alguém em flagrante. Em 24 horas esse policial tem que apresentar esse bandido ao juiz, que vai decidir se ele responde em liberdade ou não. Aqui no Rio de Janeiro, em quase 60% dos casos o marginal sai antes do policial da audiência de custódia e ainda responde em liberdade. Não tem como dar certo com uma legislação assim, por exemplo, que ainda protege o menor de idade. Um bandido, um estuprador, um sequestrador, um assaltante. Com 16 anos, faz o que faz, certo da impunidade e rapidamente está de volta às ruas. Três fatores: segurança jurídica, para o policial ter tranquilidade para trabalhar; fim da audiência de custódia; e redução da maioridade penal.
Folha – O discurso é de não fazer qualquer coisa para ganhar o voto dos deputados. O fato é que a Constituição de 1988 é considerada parlamentarista. Entretanto, o regime de governo que venceu o plebiscito de 1993 foi o presidencialismo. Ficamos um hibridismo chamado de presidencialismo de coalisão ou de “cooptação”. Você está falando de mudança na legislação, de Código Penal. Como fazer isso?
Bolsonaro – Quem vai responder é o Congresso, e mais, temos uma eleição pela frente. Estamos batendo na tecla, há algum tempo, da importância do voto em deputados e senadores com os perfis que seriam favoráveis a essas medidas. A bola está com a população. O presidente tem a influência maior de tentar pautar esses projetos com mais prioridade. Então, pautou o projeto sobre a redução da maioridade penal, se o Congresso entender, ao contrário da população, de que não deve reduzir, a responsabilidade não é da presidência, é do Congresso. E como é que o Jair está tentando buscar esse apoio amplo? É não haver troca de voto por ministério, por cargo, por dinheiro. O que ele está propondo é de dar uma real autonomia para os deputados e senadores e trazer o que for de demanda. Por exemplo, a bancada da segurança traz uma demanda para conseguir um convênio da União com o seu respectivo estado para investir na Polícia Militar. Ele, o parlamentar, é o padrinho dessa medida, ele que tem o ganho político. Esse é o papel do parlamentar. Outra medida que ele pretende tomar para diminuir essa margem para negociações espúrias é a redução de ministérios, a extinção de várias estatais.
Folha – Ninguém imagina que o PSL vá sair dessa eleição com uma bancada próxima a de MDB, PSDB, PT ou DEM. Vai ter que ter algum tipo de mediação. Muito se fala que se o próximo presidente da República não fizer a reforma da Previdência, não termina o mandato. E se tentar fazer, pode ser que caia também.
Bolsonaro – O erro do Temer foi enviar para o Congresso uma reforma impossível de ser aprovada. O ótimo, nesse caso, foi inimigo do bom. Se ele manda uma proposta mais diluída no tempo, para que as mudanças fossem feitas mais ao longo do tempo, ela passaria. Como você fala para um cara do Nordeste, que tem a expectativa de vida de quase 70 anos, e que ele vai ter que trabalhar até 75? Vai trabalhar até morrer? Aí não passa mesmo. O que a gente tem falado muito é de propor um novo modelo de previdência para aqueles que estão entrando agora, algo que seja autossustentável. Mas os detalhes disso estão nas mãos do Paulo Guedes e em breve todos vão saber na proposta de governo.
Folha – Outro dos carros chefes de Bolsonaro é a imagem de probidade em meio à corrupção sistêmica eviscerada pela Lava Jato. Acredita que isso tenha sido arranhado pela matéria da Folha de São Paulo que revelou a evolução patrimonial dele, sua e de seus dois irmãos políticos (Eduardo, deputado federal por SP, e Carlos, vereador no Rio), que hoje são donos de 13 imóveis, no valor de mercado de R$ 15 milhões? O que pode dizer sobre as operações envolvendo 19 imóveis na Zona Sul do Rio e na Barra, que você teria feito?
Bolsonaro – Quem dera (risos). Essa matéria fortaleceu o Jair. Ela é tão ridícula, tão banal, tão amadora, que todo mundo percebe que existe uma perseguição por parte desse veículo de imprensa. Primeiro, eles pegam o patrimônio de quatro pessoas diferentes, de quatro CPFs diferentes e colocam em um bolo só para dar a impressão de que a família inteira enriqueceu ilicitamente junta. Eu sou casado, meu irmão é solteiro, meu pai já foi divorciado. A evolução de nossos patrimônios é completamente diferente. Quem dera meus imóveis valessem tanto assim. Queria vender tudo para a prefeitura e para o governo do Estado para ver se eles vão me pagar um terço disso. Não ia. Uma matéria fraquíssima, que tenta induzir o eleitor como se fôssemos corruptos e enriquecidos ilicitamente. O nosso patrimônio, e digo por nós quatro, são todos declarados no Imposto de Renda. É um desrespeito com os leitores do próprio jornal nessa ânsia de querer atacar Bolsonaro com coisas que não existem.
Folha – Bolsonaro e boa parte dos seus eleitores defendem a nossa última ditadura militar (1964/85). Dá para defender um regime em que 434 opositores políticos foram mortos ou desaparecidos, que torturou e exilou outros tantos, suprimiu garantias individuais básicas como a habeas corpus, impediu eleição direta de presidente por 25 anos, censurou a imprensa e as artes, fechou o Congresso, praticou atendados com bombas como no caso do Rio Centro, dissolveu violentamente passeatas coma as que depois levariam ao impeachment de Dilma, além de entregar o país com uma inflação de 239% ao ano?
Bolsonaro – Regime militar, a gente chama. O Brasil deve muito aos militares, inclusive a democracia que a gente vive hoje. Em 1964 o que aconteceu foi o Congresso Nacional, cumprindo as normas constitucionais, declararam vago o cargo de João Goulart e elegeram Castelo Branco presidente do Brasil, com apoio em peso da população, de praticamente todos os veículos de comunicação, OAB, todas as igrejas. Você sabia que Afonso Arinos votou em Castelo Branco? Você sabia que Ulysses Guimarães votou em Castelo Branco? Está publicado no Diário Oficial da União. Só não lê quem não quer. Então se houve golpe em 1964, houve golpe agora com a Dilma. Essa é a narrativa que a esquerda tenta trazer para a população e que é mentirosa.
Folha – Você sabia que o general Mourão Filho deslocou suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964?
Bolsonaro – Os militares tinham um planejamento e, no final da década de 1960, os militantes terroristas de esquerda começaram a assaltar banco, sequestrar autoridade, roubar fuzil de quartel. Qual tratamento você quer que dê para eles? Rosinhas? Porrada mesmo, era guerra. O mundo vivia a Guerra Fria, o Brasil existia o receio de que virássemos comunistas aliado a países altamente atrasados e autoritários com ditaduras, como União Soviética, Coreia do Norte, Cuba. O brasileiro não queria isso, o brasileiro apoiou os militares para chegarem ao poder. Houve essa radicalização dos terroristas que exigiu por parte do governo uma resposta à altura.
Folha – Você tem aparecido com seu colega na Alerj Bruno Dauaire (PRP) e hoje está vindo a Campos com Gil Vianna (PSL), que chegou a ocupar uma cadeira de deputado estadual. Quais são as relações com a política do município e da região? Vai apoiar alguém daqui em outubro, caso sejam confirmadas as candidaturas após convenções?
Bolsonaro – Meu apoio aqui será para os candidatos do PSL. Tem aqui o Gil Vianna, pré-candidato a deputado estadual, tem o (ex-vereador) Papinha, pré-candidato a deputado federal, tem o (policial rodoviário federal) Charles Batista, que esteve recentemente comigo em uma palestra e, apesar de não ser de Campos, tem o apoio da Direita Campos, um movimento de apoio voluntário. A relação que tenho com o Dauaire, primeiro que ele foi meu colega de faculdade. Fizemos Direito juntos na Cândido Mendes. Ele foi meu calouro. Estamos exercendo o mandato e estivemos juntos em um evento dos guardas municipais do Rio, que é uma bandeira que também defendo, a exemplo dele. Mas o nosso apoio institucional será para os candidatos do PSL. É óbvio que se ele quiser pedir voto para mim, não vou negar. Vindo dele, considero uma pessoa qualificada, que exerce um bom mandato, representa bem, inclusive, as guardas e as forças de segurança. Ele pedindo voto para Flávio Bolsonaro para o Senado vou aceitar de bom grado.
Folha – Ele está no grupo do ex-governador Anthony Garotinho (PRP). Qual sua relação com ele?
Bolsonaro – Como falei, o eleitor escolhe a pessoa e não o partido, o grupo. Óbvio que isso pode influenciar negativamente no meu candidato. Desde que Rosinha Garotinho (Patri) foi governadora, eu fui deputado de oposição. Garotinho era secretário de Segurança Pública e foi convocado por mim na Comissão de Segurança da Alerj para explicar os problemas que a PM enfrentava.
Folha – Foi nesse período que ele foi condenado como “chefe de quadrilha armada”.
Bolsonaro – O Garotinho tem sérios problemas (com a Justiça).
Folha – Pela atuação dele como secretário de Segurança foi condenado na Justiça Federal como “chefe de quadrilha”.
Bolsonaro – Não sei se foi uma condenação definitiva ou não...
Folha – Foi em primeira instância.
Bolsonaro – Algumas vozes correntes que chegam aos nossos ouvidos dizem que ele mantinha uma “normalidade” no sistema penitenciário muito esquisita, muito suspeita. Acho que se ele fosse um pouco mais rigoroso nas regras do sistema penitenciário...
Folha – Tinha o Álvaro Lins na mesma condenação...
Bolsonaro – Votei para ele ser cassado como deputado. Então, obviamente, não tenho nenhum interesse em me aproximar do clã Garotinho e nem ele da gente, acredito eu. Mas o Bruno Dauaire é uma pessoa que exerce um bom mandato, mas está muito mal amparado com o clã Garotinho (risos).
Folha – Na noite do último dia 8, você fez uma palestra que lotou o auditório da Faculdade de Direito de Campos (FDC). Além da presença maciça de público, o evento também ficou marcado pela parte mais à frente da plateia ter sido composta de policiais rodoviários federais fardados e armados, além de praticantes de jiu-jtsu vestidos com quimonos de luta. Essa é a indumentária que se espera em um evento político? Ou foi pensado para tentar intimidar fisicamente qualquer opositor que aparecesse?
Bolsonaro – Não, intimidar de forma alguma, não. São pessoas, representantes de segmentos que eu respeito demais. Tenho o maior orgulho de tê-los no meu time. Repito, pessoas legalmente armadas trazem segurança para mim e para todo o público que estiver ali. Havia uma pessoa na mesa da categoria, dos policiais rodoviários federais, que convidou aqueles profissionais para estarem ali e eles são muito bem-vindos. Queria que todo mundo no auditório tivesse arma. Seria o sinal de que ninguém ali correria o risco de sofrer qualquer ação de algum bandido.
Folha – Falando sinceramente, se um comício de alguém do PT tivesse na plateia pessoas de kimono e armadas, você iria assim mesmo?
Bolsonaro – Mas não podemos ter esse olhar discriminatório para a luta. É a vestimenta deles. Inclusive são as pessoas ali das mais graduadas nesse segmento no estado. Inclusive recebi a faixa preta honorária de um deles, simbolicamente.
Folha – Você pratica jiu-jitsu?
Bolsonaro – Não pratico, mas foi uma faixa preta honorária. Eu pratico tiro esportivo (risos).