Guilherme Belido Escreve - De um 'elenco de peso' à escassez
19/05/2018 19:06 - Atualizado em 21/05/2018 16:51
Na eleição de 1989, a primeira pelo voto direto desde 1960, ao eleitor foi oferecida uma grande avenida, larga e bem iluminada, fartamente sinalizada e que mostrava com clareza diferentes caminhos que poderiam ser acessados para se chegar onde se desejava.
Mas o povo brasileiro, àquela época possivelmente mais despolitizado do que em qualquer outro momento da história, vindo de uma ditadura de 21 anos e de uma eleição indireta que acabou levando ao Palácio do Planalto o oligarca José Sarney – uma figura, senão alinhada, no mínimo amistosa ao regime miliar – deixou-se levar pela ingenuidade e, tendo bem à frente a majestosa e conhecida avenida, optou por um atalho duvidoso (e existe ‘atalho’ senão duvidoso?), sinuoso e escuro, chamado Fernando Collor de Melo. Deu no que deu!
Enganado, o eleitor foi seduzido pela armadilha da propaganda populista que pregava o combate aos marajás e a luta em favor dos descamisados. Que bela retórica: abaixo os marajás e viva os descamisados.
Muitos nomes num pleito histórico
Retomando o tema central da matéria, vale destacar que o conjunto dos presidenciáveis de hoje – quer na quantidade, quer no peso político – fica bem distante daquele de 1989.
Bem entendido, não se trata de individualizar ou fazer comparações pessoais. Mas do todo, do leque de escolhas disponibilizado há 29 anos, com o que ora se apresenta.
Para citar apenas alguns, na primeira eleição direta pós-ditadura – logo, um pleito emblemático... histórico – os nomes que participaram da sucessão de Sarney exibiam trajetória, bagagem e importância política como não se viu em nenhuma outra época de corrida presidencial.
Disputaram o Planalto, entre outros, Celso Brant, Fernando Gabeira, Leonel Brizola, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Roberto Freire e Ulisses Guimarães. (*Desta relação parcial não se está incluindo Paulo Maluf, àquela época nome de prestígio na política nacional).
O que não se pode negar é que todos esses – ou quase todos – tinham inequívoca expressão política, quer pela história que traziam, quer pela relevância dos cargos que já haviam ocupado ou quer, ainda, pela liderança já então reconhecida, notadamente aqueles que lutaram contra o regime militar.
Note-se, Collor – independente do desfecho desastroso que tivera – está fora desta lista porque o então jovem político de 40 anos não trazia nada de mais significativo senão dois anos no governo de Alagoas. E não por tratar-se do 2º menor estado brasileiro – o que em absoluto não lhe tira a tradição, importância e beleza – ao contrário, poderia ser, por exemplo, São Paulo. Mas apenas dois anos como governador e praticamente nenhuma história, é pouco para merecer estar numa relação em que se deixou de fora gente do naipe de Fernando Lyra, Afif Domingos, Paiva Neto e outros.
Limites em uma eleição decisiva
Quando se fala em ‘peso político’, entenda-se importância e liderança em patamar acima do mediano. Não se cuida, portanto, de potencial eleitoral ou capacidade de arregimentar votos.
Dando um exemplo prático, Tiririca foi um dos deputados mais votados da história do Brasil. Mas tal feito não lhe confere, necessariamente, notabilidade ou influência política. Da mesma forma – mas sem inferir nenhuma semelhança – Jair Bolsonaro, igualmente, não tem ‘importância política’ na acepção do termo.
Com o registro de que a observação feita é subjetiva e, como tal, plenamente cabível, a juízo de cada um, entendimento em sentido contrário – para ilustrar a questão como tal se deseja frisar, estamos a considerar como detentores de peso político, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Fernando Henrique, Mário Covas, Leonel Brizola, Juscelino Kubitschek , Vargas... e por aí segue.
Assim, na sucessão que se avizinha – retirados os nomes dos que estão desistindo ou não poderão concorrer por problemas na Justiça – salvo engano, não se verifica esse ‘tamanho político’ senão nos presidenciáveis Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva. E, ainda assim, com muita boa vontade. Exagerando na boa vontade, talvez Álvaro Dias. E ponto. Mas seria fugir da realidade para o otimismo.
O famigerado "governo" Collor
Apenas para constar, o engano de 1989 não pode ser creditado ao comportamento bizarro de Collor – que, em tese, até poderia ter feito um bom governo, – mas em se ter optado pela insegurança do desconhecido em detrimento do mais confiável.
Fugindo a todos os debates (só compareceu no 2º turno) o Brasil elegeu uma celebridade. No período entre o pleito e a posse, já dizia a que veio: era Collor saltando de paraquedas, pilotando carros de corrida, voando em supersônicos, praticando lutas marciais, esquiando em trajetos ultra-perigosos... Enfim, excentricidades que nada combinam com quem iria sentar na cadeira de presidente do Brasil.
Ante a perplexidade daquilo que, ‘de cara’ fez à frente do governo – confiscando até dinheiro de caderneta de poupança – e o assombro dos episódios surreais que marcaram os últimos meses da ‘Era Casa da Dinda’, o Brasil adernou estarrecido, viu de muito perto o naufrágio resultado da tormenta do mar em fúria, mas, felizmente (em mais uma demonstração inequívoca do quanto este País, historicamente, se reinventa, junta os próprios destroços, levanta e dribla a fatalidade) saiu da tempestade, ‘achou’ – sabe-se lá onde – o porto seguro chamado Itamar Franco e ancorou em terra firme.

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