Antes da largada ao Guanabara
12/05/2018 17:36 - Atualizado em 15/05/2018 13:50
Palácio Guanabara
Palácio Guanabara / Divulgação
Se o panorama eleitoral nacional está conturbado devido aos escândalos de corrupção eviscerados pela operação Lava Jato desde 2014, no cenário eleitoral fluminense não é diferente. Considerada a maior força política do Estado desde 2006, o PMDB, agora MDB, parece estar desmantelado, com caciques como o ex-governador Sérgio Cabral e os deputados Jorge Picciani e Paulo Melo presos pelos desdobramentos no Rio daquela que é apontada como a maior iniciativa mundial contra corrupção. Sem o peso da máquina, já que o governador Luiz Fernando Pezão não pode ser candidato à reeleição e não há, por ora, um nome lançado pelo MDB, o período pré-eleitoral segue confuso e muitas surpresas podem ocorrer até o voto no primeiro turno, em 7 de outubro.
Na última quinta-feira, o Jornal do Brasil divulgou a primeira pesquisa antes da largada ao Guanabara. Nos bastidores da política, os números do Instituto Paraná são apontados como aqueles que norteiam o período pré-eleitoral, mas ainda cercados de dúvidas. Como esperado em um cenário conturbado, os líderes são pessoas mais conhecidas da população. Além disso, a rejeição é alta.
O senador Romário Faria (Podemos) lidera nas intenções de votos com 26,9%. Em segundo aparece o ex-prefeito da capital Eduardo Paes (DEM) com 14,1%, seguido do ex-governador Anthony Garotinho (PRP), com 11,6%. O deputado federal Indio da Costa (PSD) bate 8,8%. Depois aparecem o deputado federal Miro Teixeira (Rede, 6,2%), o ex-ministro Celso Amorim (PT, 3,6%), o juiz Wilson Witzel (PSC, 3,2), o vereador carioca Tarcísio Motta (Psol, 3,1%) e o antropólogo Rubem César Fernandes (PPS, 1,1%), fundador da ONG Viva Rio.
A Folha tentou contato com todos os pré-candidatos que pontuaram na pesquisa. Romário considera o resultado um reconhecimento por seu trabalho político. Indio também comemorou, observando que seu nome tem potencial de crescimento por não ser o mais conhecido no cenário. Celso Amorim destacou que vem trabalhando no Rio, mas que a principal preocupação no momento para o PT é o quadro nacional. Tarcísio pôs em xeque a credibilidade do instituto, mas salientou que seu resultado na primeira pesquisa é três vezes superior ao apresentado pela primeira sondagem de 2014. Apesar disso, o pré-candidato do Psol apontou uma possível incoerência, uma vez que já disputou o governo do Rio, foi eleito vereador na capital, mas ficou atrás do petista, que nunca foi candidato, o que o torna, em tese, menos conhecido do eleitorado. Rubem César também comemorou o resultado. O pré-candidato enfatizou que tem potencial de crescimento, já que nem oficializou a pré-candidatura, nunca ocupou cargo público e chamou atenção para o alto nível de rejeição dos outros pré-candidatos. Eduardo Paes disse que não é pré-candidato e não está falando sobre eleição. Garotinho, Miro Teixeira e Wilson Witzel não responderam.
A primeira pesquisa pode ser apenas um norte, uma balizadora para corrida eleitoral. Mas, se houve algo unânime entre os discursos dos pré-candidatos que a avaliam abaixo, é que a rejeição ao político no Rio é o principal desafio a ser superado por quem quer trabalhar no Palácio Guanabara a partir de 1º de janeiro de 2019.
Líder de rejeição tem mais de 70%
A pesquisa do Instituto Paraná aferiu também a rejeição aos pré-candidatos. Este quesito foi avaliado no potencial eleitoral de cinco dos nomes considerados pela metodologia da sondagem como os principais: Romário, Eduardo Paes, Garotinho, Indio e Tarcísio. Os entrevistados apontaram o ex-governador como o político mais rejeitado, já que 71,9% dizem não votar nele de jeito nenhum.
E não é de hoje que a liderança no ranking negativo tem atrapalhado o político da Lapa em alcançar seu desejo de voltar ao Guanabara. Nas pesquisas de 2014, Garotinho liderou no quesito rejeição desde o início, chegando a 48% na última sondagem do Datafolha, realizada três dias antes do pleito em que o campista foi derrotado já no primeiro turno, ficando atrás de Pezão e do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).
Na pesquisa do Instituto Paraná, a rejeição é alta até para o líder das intenções de votos. Romário aparece com 43,7%, último entre os cinco. O vice-líder do ranking negativo é Eduardo Paes, com 65,3%, seguido por Tarcísio Motta (58,1%) e Indio (56,3%).
O alto índice de rejeição do eleitorado fluminense aos nomes que aparecem como possíveis candidatos chamou atenção do diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo. Em declaração ao JB, ao ser revelado os números do levantamento, ele disse ter a percepção de que o atual panorama abre espaço para um novo nome. “O problema é que esse candidato ainda não existe”, concluiu.
O pré-candidato Indio da Costa também avalia que existem possibilidades de mudanças: “A decisão das candidaturas vai ser em julho [pelo calendário eleitoral, as convenções deverão ocorrer entre os dias 20 de julho e 5 de agosto]. Então, muita gente que acha que não vai ser candidato pode aparecer e tem alguns desses aí que podem desistir, ou serem desistidos também”.
Na sondagem encomendada pelo Jornal do Brasil, o Instituto Paraná Pesquisas ouviu 1.850 eleitores, entre 4 e 9 de maio. A margem de erro é de 2,5% para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a inscrição RJ-09134/2018.
“Sou muito grato pelo reconhecimento e confiança que a população do Rio de Janeiro tem no meu trabalho. São oito anos de política, os desafios são complexos e diários, mas eu sigo confiando que, mesmo sendo difícil, dá para fazer política do bem, conectada com os anseios da população. Apesar dessa lama que é a política nacional, principalmente no meu Estado”. Romário Faria (Podemos)
“Recebemos essa pesquisa com muito entusiasmo. Quando você faz o cruzamento, vê que eu sou, entre os primeiros, o menos conhecido. Então, o meu potencial de crescimento é muito maior do que o deles. Na medida em que você ficando conhecido, as pessoas passam a ter alguma opinião. Ninguém vota em quem não conhece. Sou o menos conhecido e com uma rejeição menor”. Indio da Costa (PSD)
“A pesquisa é muito inicial, visto que os nomes que estão na frente são todas as pessoas que já concorreram antes. Há um fator aí, evidentemente, de conhecimento. Continuo trabalhando positivamente no Estado. Agora, a decisão final, se serei candidato, depende de muitos fatores, inclusive do encaminhamento do quadro nacional, que é o mais importante”. Celso Amorim (PT)
“Em 2014 na primeira pesquisa divulgada eu apareci com 1% e no resultado da eleição eu tive quase 10%. Agora começamos melhor, com mais de 3%, apesar desse instituto já ter mostrado não ter credibilidade. Tenho a convicção de que o Psol sempre esteve do lado certo da história, nunca compactuamos com o golpe, com o governo Sérgio Cabral (MDB), com a gangue do guardanapo”. Tarcísio Motta (Psol)
“Ficamos satisfeitos e até um pouco surpresos com o resultado. Nossa pré-candidatura não foi nem oficialmente lançada, começou a ser discutida outro dia. O que chama atenção na pesquisa é a rejeição enorme aos pré-candidatos, que confirma o sentimento de que as pessoas não aguentam mais a política tradicional. Sou o único pré-candidato que nunca ocupou função pública”. Rubem César Fernandes (PPS)

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