Guilherme Belido Escreve - Desistências vão dando contornos à sucessão
12/05/2018 17:42 - Atualizado em 15/05/2018 13:49
Ciro Gomes em entrevista durante campanha de 1998
Ciro Gomes em entrevista durante campanha de 1998 / Divulgação
Finalmente a sucessão presidencial 2018 começa a ganhar contornos, mais por aspectos negativos – desistências e implicações legais – do que pelo crescimento de pré-candidaturas que estariam a conquistar o eleitor com propostas convincentes.
Em resumo, não se firmam em circunstâncias favoráveis, mas, ao contrário, em desfavoráveis, os motivos pelos quais vemos, enfim, aclarar o processo eleitoral. É dizer: impedimento de Lula da Silva, desânimo de Michel Temer que jogou a toalha e desistência oficial de Joaquim Barbosa.
Assim, por vias transversas e não por ascensão propriamente dita, ganharam fôlego as candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) – pré-candidatos melhor colocados em diferentes pesquisas.
Não se traz para esse tabuleiro de mudanças o deputado Jair Bolsonaro porque o presidenciável do PSL, ora na prateleira de cima do processo, não é beneficiado nem prejudicado pelas desistências de Barbosa (PSB) e de Temer (MDB), posto que à luz das intenções de votos só a presença ou ausência de Lula interfere na liderança de Bolsonaro.
Mas, bom que se diga, é um olhar sobre o quadro de hoje: prematuro, oficioso e passível de alterações. Só as convenções partidárias de agosto vão decidir os candidatos que efetivamente irão disputar o pleito. Até lá, tudo é especulação. Da mesma forma, somente quando a campanha eleitoral ganhar as ruas é que se saberá quem é quem.
Indefinições ante o momento inusitado
Foi a partir de 2014, quando as revelações da Lava Jato abriram os olhos do Brasil para práticas então encobertas no pântano da criminalidade, é que o País se viu frente a desafios complexos e sem precedentes.
Daí que a soma de todas as indefinições caiu em 2018, quando em meio ao novo e inusitado o Brasil vai escolher seu presidente.
Vejamos: Dilma perdeu o mandato numa controvérsia sem fim acerca da edição dos créditos suplementares. Temer foi o primeiro presidente da história a ser denunciado no exercício do cargo por corrupção. E Lula trava uma batalha insana com a Justiça para dizer que não é dele o que todas as evidências dizem ser; abarrota o Supremo com recursos e obriga que também a Corte se debruce sobre questões as quais nunca tratou.
Enfim, uma mata virgem na qual se terá que abrir trilhas para que em 2022 o Brasil veja alguma pavimentação.
Desde 1998, luta incansável contra as desigualdades
Há 20 anos, já então com a vasta bagagem de prefeito, deputado, governador e duas vezes ministro, Ciro Gomes (PDT) tinha como proposta de governo o mesmo pilar-central que hoje embasa sua candidatura: reduzir as diferenças sociais no Brasil e conter a imensa desigualdade entre ricos e pobres.
Evidente, é frase comum de todo candidato. Mas para Ciro, com a contundência que o caracteriza, resultado do temperamento forte de todos conhecido – não raro criticado por esse jeito agudo de ser – o discurso é embasado por uma vontade obstinada, da qual não se afasta.
Em 1998, quando de sua primeira campanha para presidente, o titular deste espaço conversou com o ex-ministro, em cuja longa entrevista exclusiva publicada na imprensa local e parcialmente em veículos do Ceará, Ciro Gomes enfatizou as mesmas questões que esta semana, no programa ‘Band Eleições’, voltou a destacar. Entre elas, que sua primeira medida como presidente é aquela que irá dizer de onde vem o dinheiro para o Brasil mudar: “São duas faces de uma mesma moeda que tem como base a reforma fiscal, que é o sistema de impostos (sistema previdenciário) e a reforma política”.
Disse, ainda, que vai acabar com o “atual conjunto absurdo anti-povo, anti-pobre e anti-nacional”. Em termos gerais, a busca pelo equilíbrio, aumentando os impostos sobre os que detêm as grandes fortunas do Brasil e reduzindo os tributos que massacram 90% da população: “Eu quero unir o Brasil que produz com o Brasil que trabalha e revogar esta reforma trabalhista que penaliza o trabalhador”. 
O PT e os balões de ensaio
Chovendo no molhado e apesar de tudo apontar sua inviabilidade, não cessa o discurso do PT sobre a pretensa candidatura de Lula.
O ex-presidente está condenado a 12 anos de prisão. Hoje completa um mês e uma semana que está preso. Outros processos na fila lhe são desfavoráveis. Os recursos que vem impetrando estão sendo negados um após outro e, ainda mais contundente, a Lei da Ficha Limpa torna inelegível candidato condenado por tribunal colegiado.
E mais: ainda que o petista consiga registrar a candidatura em agosto, os votos – pelo que diz a jurisprudência – não serão computados. Então, Lula, Gleisi Hoffmann e demais próceres do PT podem bradar o quanto quiserem que o ex-retirante Nordestino vai concorrer à Presidência, porque não vai.
Agora, como no Brasil a legislação é uma colcha de retalhos e o que diz uma corrente de juristas é negada por outra... tudo é possível onde não se tem segurança jurídica.
Cuidado com o ‘Arlequim’
Até pouco tempo, Jair Bolsonaro nada representava senão uma figura exótica, retrógrada e que ninguém levava muito a sério. Hoje, lidera as pesquisas para presidente.
Isto posto, como vivemos num país livre e democrático, onde o voto é a expressão maior da prerrogativa de escolha a todos garantida, os que votarem em Bolsonaro que o façam conscientes de que sua vitória pode levar ao retrocesso político-social e, até mesmo, a um certo recrudescimento.
Assim sendo, se vale a pena correr tais riscos em troca de um suposto e eficiente combate à insegurança, à corrupção, bem como face à expectativa de ‘retomada da moralidade’, – que façam bom proveito.
Mas que não o tomem como um arlequim (como fez o povo americano que elegeu Donald Trump e... deu no que deu) e se deixem levar pelas “verdades” ditas nas redes sociais – extraordinária e revolucionária ferramenta de comunicação – mas que, infelizmente, não raro valendo-se do anonimato, destila ódio, radicalismo, mentiras e ofensas aos contrários.
O Brasil – admita ou não Bolsonaro – viveu, sim, uma ditadura. Gente foi tortura e gente foi morta.
Ainda agora o general Ernesto Geisel, penúltimo presidente do regime militar e até então tido como aquele que se levantou contra as botinas e os porões, livrando o Brasil da “linha mais dura”, teria autorizado pessoalmente a execução de opositores ao regime.
Então, quem optar por Bolsonaro, que o faça por suas próprias convicções e não porque o deputado nega ter sido ditadura um regime que intimidou, humilhou, perseguiu, oprimiu, torturou e matou. Se isso não foi ditadura, foi o quê?

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