Arnaldo Neto
05/05/2018 18:13 - Atualizado em 08/05/2018 18:23
Nesta segunda-feira (7), completa um mês que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba. Considerado por muitos o político mais popular desde Getúlio Vargas (1882-1954), o petista continua na frente nas pesquisas eleitorais em que aparece como candidato, embora seja improvável seu registro de candidatura. A liderança, porém, vem perdendo força nas sondagens e os cenários sem Lula mostram pouco crescimento de nomes ligados aos partidos de esquerda. Do cárcere, o ex-presidente vê sua viabilidade eleitoral, por ora, sangrando, enquanto cresce o pré-candidato conservador Jair Bolsonaro (PSL). Forçando a margem de erro, Bolsonaro fica a 4% de Lula na mais recente pesquisa do Instituto Paraná, divulgada na última quinta-feira. Ele ainda abre vantagem com relação aos pré-candidatos Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB), quando lidera no cenário sem o petista. Para o cientista político George Gomes Coutinho, a disputa presidencial, que acontece daqui a cinco meses, é totalmente imprevisível.
A candidatura de Lula é considerável improvável não só pelo fato de ele estar preso há um mês por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Mas, sobretudo, por sua condenação ter sido confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Assim, o petista passe a ser enquadrado como ficha suja. Sancionada por Lula em 2010, a chamada Lei da Ficha Limpa impede que políticos com condenação na Justiça por decisão de um colegiado disputem eleições. Contudo, o PT mantém o nome de Lula, enquanto a defesa tenta recursos no TRF-4, no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para George Coutinho, há um cenário de insegurança que interfere no campo político. “O Judiciário, hoje, é um agente desestabilizador do sistema político. Não que a própria classe política não tenha levado água a este moinho. Levou sim. Mas é um momento muito esquisito. No STF, cada ministro é um STF dele mesmo. Há um grande grau de imprevisibilidade também, sobre as decisões jurídicas e isso, obviamente, gera um cenário maior de insegurança jurídica. A própria situação do Lula, neste momento, não é uma situação consolidada. Está preso, mas amanhã pode não estar, justamente por conta desse grau de insegurança jurídica que a gente vive e de imprevisibilidade que o Judiciário adicionou ao jogo político”, avaliou.
Espólio lulista
A prisão do Lula, analisa Coutinho, certamente tem influência na queda das intenções de votos registradas pelas últimas pesquisas. Porém, para o cientista político, não é tão simples fazer uma análise do espólio lulista, uma vez que o PT não abriu mão da candidatura do ex-presidente, o que só deve acontecer “no deadline do registro”:
— A tendência do eleitorado histórico do Lula é migrar para candidaturas de esquerda, de centro-esquerda, não para de direita. Porém, o eleitor circunstancial do Lula, aquele que se viu beneficiado pelo crescimento econômico na era Lula, pode migrar, por razões pragmáticas, para o Bolsonaro.
George comenta também sobre a imprevisibilidade no cenário político, que se altera com muita velocidade, principalmente desde as manifestações que aconteceram no Brasil em junho de 2013.
Os extremistas
Para George Coutinho, o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas é uma realidade e, diante do atual cenário, é possível que o deputado chegue ao segundo turno. Porém, o cientista político avalia também o teto de candidatos considerados extremistas:
— Todos os que tenham discursos muito radicais não conseguem grande penetração no eleitorado, salvo em casos muito excepcionais. Normalmente, o eleitor mediano opera com certa moderação. Sejam radicais de direita ou de esquerda, em condições mais ou menos normais, eles não conseguem crescer muito em termos de preferência do eleitorado. Creio que o Bolsonaro tenha um limite, que não deve ser desprezado, em termo de crescimento de campanha.
O deputado despontar no período pré-eleitoral tem a ver, para o cientista, com o pragmatismo de parte do eleitorado brasileiro. “O eleitor quer quem resolva os problemas dele. De alguma maneira, o Bolsonaro apresenta, embora de forma não muito sofisticada, algumas soluções. Sobretudo o apelo dele com relação à questão da segurança pública”.
Fim da bipolarização
A corrida eleitoral de 2018 é classificada por muitos analistas como um cenário confuso, tanto ou mais que o de 1989. Isso ocorre pelo grande número de pré-candidatos, bem como pelo fim da bipolarização PT x PSDB.
Como mostra a pesquisa do Instituto Paraná, o deputado Jair Bolsonaro aparece em primeiro com 20,5% no cenário em que Lula não é candidato. Na sequência aparecem Marina Silva (12%), Joaquim Barbosa (11%), Ciro Gomes (PDT, 9,7%), Geraldo Alckmin (PSDB, 8,1%), Álvaro Dias (Podemos, 5,9%), Fernando Haddad (PT, 2,7%), Manuela D’Ávila (PCdoB, 2,1%), Michel Temer (MDB, 1,7%) e Flávio Rocha (PRB, 1%). Outros pré-candidatos não chegam a 1%.
Segundo Coutinho, tudo leva a crer que a esquerda vá fragmentada para o primeiro turno, com a esperança de chegar ao segundo turno e, se conseguir, formar uma frente ampla, um “blocão”, para “tentar dirimir a possibilidade de um candidato de centro-direita, ou de direita, no caso do Bolsonaro, ganhar as eleições para presidência”.
O cientista político também avalia que os candidatos de centro-direita, centro-esquerda e esquerda, vão estar todos contra Bolsonaro no momento em que ele se apresentar de forma mais contundente.
Há um mês preso, Lula é uma peça importante no jogo. Preso ou não em outubro, o que conseguir preservar de confiança que o eleitorado deposita nele, pode ser um peso importante para o desfecho do primeiro turno.
Joaquim Barbosa entra no jogo
Com o fim da bipolarização e o combate a corrupção como pauta de maior relevância para opinião pública, o nome do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa ganha destaque na corrida eleitoral. Ele foi o relator do Mensalão, maior escândalo de corrupção envolvendo o PT até a deflagração da operação Lava Jato. Barbosa registrou dois dígitos na pesquisa Datafolha de 15 de abril e também na do Instituto Paraná.
O ex-ministro ainda não oficializou a pré-candidatura, mas os resultados estão empolgando dirigentes do seu partido, o PSB. Dirigente da legenda no estado do Rio, o deputado federal Alessandro Molon comenta sobre a chegada do ex-ministro: “A filiação de Joaquim Barbosa ao PSB representa a esperança de uma candidatura compromissada com a justiça social, com a política limpa e com um desenvolvimento econômico eficiente e sustentável”.
Apesar de ser um partido socialista, o PSB tem em seu histórico alianças, também, com a centro-direita. Na avaliação de Gerorge Coutinho, é preciso esperar o possível candidato se posicionar para então avaliar se estará mais ligado à ideologia de direita, centro ou esquerda. “Ele é mais um ator que confere complexidade ao sistema. O Joaquim Barbosa se projetou, justamente, como um arauto da justiça, que enfrentou a questão da corrupção no Brasil. Ele está surfando a onda do que é colocado pela opinião pública brasileira como a grande prioridade de agenda pública no Brasil, que é o enfrentamento da corrupção. Por outro lado, ele fez sucesso como pedra, mas será que tem resistência para ser vidraça?”.
No jogo também aparece Marina Silva, mas a ex-ministra é considerada uma incógnita. Na centro-esquerda, Ciro Gomes aparece como nome viável e tenta buscar apoio do PT para herdar ao menos uma parte dos votos de Lula. Já na centro-direita, o tucanato deve confirmar o nome de Geraldo Alckmin. Alvaro Dias é outro que começa a ser observado com mais atenção no jogo devido ao seu desempenho na última pesquisa.