Testemunha diz que vereador e miliciano estariam envolvidos na morte de Marielle
08/05/2018 20:19 - Atualizado em 15/05/2018 14:01
Marielle Franco
Marielle Franco / Divulgação
Uma testemunha chave das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, revelou à polícia que o vereador Marcello Siciliano (PHS) e Orlando Oliveira de Araújo - ex-PM preso em Bangu acusado de chefiar uma milícia - queriam a vereadora morta. A informação foi divulgada com exclusividade pelo jornal O Globo, nesta terça-feira (8).
Segundo a reportagem, a testemunha relatou reuniões entre o miliciano, que, mesmo preso, ainda chefia uma milícia na Zona Oeste, e o político. As conversas, que teriam começado em junho de 2017, tratavam dos prejuízos causados pelo combate da vereadora ao avanço de grupos paramilitares em comunidades de Jacarepaguá. Nos depoimentos, além do político e do chefe da milícia, também foram mencionados os nomes de outros integrantes, que teriam participado da execução.
Marcello Siciliano
Marcello Siciliano / Divulgação
Nos três depoimentos à Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil, ela deu informações sobre datas, horários e até locais de reuniões entre o vereador e o miliciano. Também deu detalhes de como a execução teria sido planejada. Procurado pelo Globo, Siciliano disse que não conhece Orlando de Curicica e afirmou que se trata de "notícia totalmente mentirosa".
A testemunha procurou a polícia para relatar as informações, em troca de proteção. Ela relatou que chegou a testemunhar um encontro entre o vereador e o ex-PM em um restaurante na Avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes. Na ocasião, ela teria ouvido os dois falando sobre Marielle.
— Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: “Marielle, piranha do Freixo”. Depois, olhando para o ex-PM, disse: “Precisamos resolver isso logo”— afirmou a testemunha, referindo-se a uma menção feita ao deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), de quem Marielle foi assessora durante a CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa do Rio.
O delator afirmou que o vereador e o ex-PM têm negócios em conjunto na Zona Oeste. Em seus depoimentos, ele mencionou os nomes de pelo menos 15 pessoas, incluindo policiais, bombeiros e empresários, que seriam participantes do grupo comandado pelos dois. Segundo a testemunha, o político dá suporte financeiro a várias ações da suposta milícia:
— O ex-PM era uma espécie de capataz do vereador, que passou a apoiar a expansão do grupo. Pelo que sei, era apoio político, mas ouvi comentários de que a milícia agia em grilagem de terras na Zona Oeste, especialmente no Recreio dos Bandeirantes.
A testemunha disse que esteve presente nas reuniões entre o vereador e o ex-PM porque, por aproximadamente dois anos, foi obrigado a trabalhar como segurança do miliciano, depois que o criminoso tomou a comunidade onde o delator instalava equipamentos de TV a cabo - um trabalho que, segundo ele, estava em processo de regularização. Como foi ameaçado de morte na ocasião, acabou coagido a trabalhar para o grupo criminoso chefiado pelo ex-PM.
Segundo ela, a desavença entre o vereador e Marielle foi motivada pela expansão das ações comunitárias da parlamentar do PSOL na Zona Oeste e sua crescente influência em áreas de interesse da milícia, mas que ainda seriam controladas pelo tráfico. Uma das brigas, segundo a testemunha, envolvia comunidades em Jacarepaguá. A testemunha explicou ainda que o ex-PM é dono da comunidade Vila Sapê, em Curicica, que trava uma guerra com os traficantes da Cidade de Deus. Segundo a testemunha, a vereadora passou a apoiar os moradores da Cidade de Deus e comprou briga com o ex-PM e o vereador, que tem uma parte do seu reduto eleitoral na região.
A testemunha conta ainda que, um mês antes do atentado, o ex-PM, já na cadeia, teria dado a ordem para o crime da cela de Bangu 9. Primeiro mandou que homens de sua confiança providenciassem a clonagem de um carro. O serviço teria sido feito por dois homens identificados nas investigações. Já clonado, o Cobalt prata foi visto circulando antes do crime próximo ao campo de futebol na comunidade da Merk, na Zona Oeste, controlada pelo ex-PM. A testemunha afirmou que um homem identificado como Thiago Macaco foi encarregado de fazer o levantamento dos hábitos da vereadora: onde ela costumava ir, o local que frequentava e todos os trajetos que Marielle usava ao sair da Câmara de Vereadores.
Fonte: O Globo

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