Paulo Renato Pinto Porto
19/05/2018 18:44 - Atualizado em 22/05/2018 14:40
Construção simbólica da literatura do dramaturgo e escritor Nélson Rodrigues, “a pátria de chuteiras” ainda não entrou no clima da Copa do Mundo, pelo menos em Campos. É o que se constata na Pelinca e na avenida Princesa Isabel, principais pontos de coloração com tons em verde-amarelo que prenunciam o espírito dos dias que antecedem o Mundial. Os dois locais também concentram a maior massa de torcedores em dias de jogos da Seleção Brasileira. Este ano, porém, em nenhum espaço dessas vias se observa qualquer vestígio com as cores do selecionado canarinho.
Nem mesmo calçadas e paredes foram adornadas pelos torcedores para expressar o sonho de que o Brasil volte da Rússia com o sexto título mundial na bagagem.
Mas nem tudo é apatia. Advogado e servidor público federal aposentado, o paulistano Osvaldo Silva de Azevedo, 71 anos, que se define como um “como um corinthiano exilado em Campos”, acredita que as ruas, ainda que tarde, logo estarão coloridas.
— O que me preocupa mesmo é o Corínthians, com essa possível saída do técnico Fábio Carille. A seleção vem depois. Mas acredito que a seleção brasileira vai trazer alegria para o nosso povo que merece um pouco de alegria diante de tanto sofrimento, tantas incertezas. Afinal, quem está lá é o Tite, que é ‘nosso’ — disse.
Osvaldo acredita que a falta de empolgação se deve à correria do cotidiano.
— As pessoas hoje cada vez têm menos tempo para o lazer. Por isso acredito que deixamos para mais tarde essa decoração. Logo as ruas estarão embandeiradas porque, afinal, o futebol está entranhado na alma do brasileiro — frisou.
Em algumas ruas, moradores costumam fazer a tradicional ‘vaquinha” para arrecadar dinheiro com a ajuda de empresas privadas ou de políticos. “Sem ajuda ou patrocínio fica difícil”, disse o comerciário José Roberto Dias, morador de Guarus, onde há uma rua famosa que costuma se vestir de verde amarelo nos dias que antecedem um Mundial, a Advaldo Maciel, no Jardim Carioca. ali o panorama é diferente de outros anos de Copa.
— A tradição de comemoração aqui é muito forte há várias Copas. Havia até uma disputa para disputar o “título” de rua mais animada durante a Copa. Espero que até o primeiro jogo do Brasil o pessoal se empolgue e ela esteja ornamentada — afirmou Dias.
Era Tite para apagar o vexame dos 7 a 1
O pesadelo pela vexatória goleada por 7 a 1 para a Alemanha, na última Copa no Brasil, pode ser um fator que explique a apatia? Guardador de carros, Adriano Braga acredita que o resultado acachapante pode ter sido determinante para a aparente indiferença.
— Pode ser que o 7 a 1 tenha feito o povo ficar com esse desânimo, mas aquilo foi um “apagão”, uma desgraça que não vai se repetir. A seleção hoje é outra, tem bons jogadores, e a maioria joga lá fora. E o Tite é um grande treinador. Eu acredito... Se vai ganhar é outra história — disse Adriano.
Em contraste com o clima morno, o jornaleiro Jadílson Monteiro Moço já tem motivos para comemorar.
— Tenho vendido bastante figurinhas, ao contrário da Copa anterior. Mas a seleção já mostrou que pode trazer o caneco com uma nova formação e um novo treinador. Acho que a falta de animação existe por causa da crise. As pessoas também deixam tudo para a última hora — comentou.