(Deadpool 2) - Criado nos anos 90 (década a qual os quadrinhos americanos mainstream ficaram marcados pelo exagero), Deadpool é o tipo de personagem que atrai devido a irreverência com que esse exagero é tratado.
Em 2016, o mercenário tagarela ganhou os cinemas em uma produção de censura 18 anos, uma decisão ousada, já que tirava das bilheterias um número considerável do público, algo ainda inédito em filmes do gênero. Foi justamente a violência pesada, associada ao humor ácido repleto de referências que fizeram do longa um sucesso de público e agradou a crítica.
Dois anos depois, ele retorna respaldado pelo estrondoso sucesso do original, com a missão de ser ainda mais violento, divertido, irreverente e ainda expandir aquele universo. Funções básicas de qualquer continuação, mas agora sem o artificio da surpresa.
Em meio a todos esses elementos, em alguns momentos o novo filme do mutante se perde no tom. A carga dramática do primeiro ato não funciona, por mais que seja uma ideia interessante (quase necessária). O protagonista é praticamente inserido nas situações (motivado pelas ações de terceiros), suas únicas decisões são de cunho moral, uma decisão que reforça o lado heroico do personagem.
Com a chegada dos coadjuvantes no segundo ato, o longa ganha em ritmo e segue intenso até o final. Sem o elemento surpresa do primeiro longa e apesar de alguns excessos (que acabam sendo inevitáveis), o humor funciona, são situações e diálogos que provocam o riso, novamente até a violência é bem sucedida em provocar humor e se os personagens secundários da primeira produção voltam para ajudar na construção desse humor, são os novos personagens, que trazem a carga dramática e a ação que fazem deste filme superior.
Nesse sentido a escolha do diretor David Leitch (John Wick, Atômica) se mostra muito acertada. Seus trabalhos anteriores mostram que ele trabalha muito bem cenas de ação intensas, com coreografias complexas, takes mais longos e um esmero técnico que impressiona. Mesmo que aqui não tenhamos uma sequência como a luta das escadas em Atômica, a ação do filme empolga e é significativamente superior ao primeiro filme. Certamente o maior orçamento (devido ao sucesso do anterior) colaborou nesse sentido.
Ryan Reynolds (Lanterna verde) é carismático e bem humorado, mas não é um grande ator, porém ele encontrou em Deadpool o personagem de sua carreira. Ele definitivamente tem o tom certo do personagem — característica fundamental para o funcionamento do longa — e consegue trabalhar suas maiores qualidades como ator em um personagem que não exige muito dramaticamente.
Já Josh Brolin (Onde os fracos não tem vez, Vingadores: Guerra infinita) interpreta outro importante personagem das HQ’s. Cable é um dos únicos personagens além do protagonista com algum background e mesmo que pouco desenvolvido, tem uma jornada muito clara. O visual do personagem ficou incrível, o trabalho de Brolin também, é certo que muito em breve veremos o soldado temporal em outras produções.
Outro destaque é Zazie Beets (Atlanta) como Dominó. É uma personagem com o poder da sorte (é sério) que acaba gerando situações que permitem ao diretor David Leitch mostra toda sua criatividade visual e mesmo que ela não tenha nenhum tipo de desenvolvimento, funciona muito em sua interação nas sequências de ação.
Apesar de não ter o elemento surpresa do original, Deadpool 2 conserva seus principais elementos, é bem sucedido como cinema descompromissado e principalmente em expandir a franquia para uma nova direção. Curiosa e inesperadamente o personagem se tornou peça fundamental no universo cinematográfico mutante e mostra que assim como nas HQ’s, funciona melhor em grupo do que sozinho.