Filipe Fernandes
04/05/2018 18:09 - Atualizado em 07/05/2018 16:54
(Paulo, apóstolo de Cristo) - A história do soldado perseguidor de cristãos, que após um encontro com Cristo, se torna um de seus principais apóstolos, é sem dúvida interessante e fonte poderosa para o cinema religioso, que desde o polêmico “A paixão de Cristo” de 2004, vem dando cada vez mais ênfase a outros personagens da Bíblia (recentemente tivemos um filme sobre Maria Madalena, por exemplo) buscando assim expandir um gênero tão carente de bons exemplares. “Paulo, apóstolo de Cristo” chega aos cinemas nacionais nessa leva, uma produção de baixo orçamento que não se destaca em meio a outros longas do gênero.
Cruelmente perseguidos e assassinados por toda Roma, os cristãos se veem ainda mais fracos quando seu líder, o apóstolo Paulo (James Faulkner) é preso, acusado de causar um grande incêndio. Com o objetivo de registrar e propagar os ensinamentos do apóstolo, Lucas (Jim Caviezel) passa a se encontrar secretamente com ele no presídio e assim registra sua história e sua mensagem de amor ao próximo, de perdão e não violência.
O longa tem como parte principal o relacionamento entre Paulo e Lucas, mas apesar do título e das mensagens do apóstolo serem de fato os principais temas do longa, são ações de Lucas que fazem o filme andar, uma situação inusitada, já que o personagem do título está preso desde o início.
O roteiro escrito pelo diretor Andrew Hyatt e seu parceiro Terence Berden até consegue estabelecer bem a situação da minoria cristã daquela época, que perseguida pelo imperador romano Nero, vivia às escondidas enquanto buscava espalhar as mensagens de Cristo. Dentro dessa situação, surgem alguns temas interessantes, como a questão da intolerância religiosa, onde vemos o cristianismo como minoria (uma situação bem curiosa comparada ao nosso tempo), e o embate entre os ensinamentos de Cristo e as formas de resistir a perseguição romana.
São temas mal desenvolvidos, em um roteiro formulaico que adota três tramas que superficialmente e por meio de flashbacks narra muito pouco da transformação do personagem título e busca mostrar como seus ensinamentos atingem e influenciam a comunidade cristã.
A trama de Lucas com a doença da filha do “prefeito” da prisão é previsível e não acrescenta muito — a intenção de fazer um paralelo com a transformação de Paulo soa desnecessária. A trama da comunidade cristã tem como estopim a morte de um garoto que é assassinado quando agia em uma “missão” sem explicação e funciona como mecanismo barato do roteiro para justificar a revolta e desejo de vingança por parte do grupo. Com diálogos fracos e frases de efeito o roteiro não se sustenta e não permite ao espectador criar nenhum vínculo com nenhum dos personagens.
O que salva o longa de um desastre maior é o bom elenco que entrega atuações razoáveis, principalmente a dupla de protagonistas que demonstra uma química essencial para o funcionamento do relacionamento dos dois. James Faulkner constrói um Paulo sereno, que transmite a convicção que o personagem necessita (apesar dos fracos diálogos). Jim Caviezel interpreta Lucas, o personagem que demonstra mais que convicção, mas disposição para propagar e praticar as mensagens de Cristo e ainda traz um leve humor que caiu bem.
“Paulo, apóstolo de Cristo” tem estética de filme de TV. Direção burocrática, fotografia inexpressiva, uma trilha sonora bem genérica e direção de arte que deixa claro o baixo orçamento do projeto. Fica a certeza que se não fosse por alguns dos nomes do elenco esse filme passaria totalmente batido dos cinemas. A história de Paulo ainda carece de uma produção à altura.