O destaque entre as estreias desta quinta-feira (3) nos cinemas de Campos dos Goytacazes é o filme “Paulo, Apóstolo de Cristo”.
Deve-se ressaltar que se o espectador esperar uma narrativa linear sobre a vida de Paulo deve ficar surpreso. Apesar do título, Paulo (James Faulkner) não representa o foco principal do filme, que alterna os ensinamentos do discípulo de Cristo com a busca de Lucas (Jim Caviezel) por conhecimento religioso, a perseguição dos cristãos por parte dos romanos e a eventual conversão dos inimigos ao cristianismo. Durante quase toda a narrativa, o apóstolo permanece preso numa cela, proferindo palavras sobre o bem e a fé. Ele funciona mais como veículo de ideias do que como personagem munido de conflitos próprios.
Assim, “Paulo, Apóstolo de Cristo” apresenta ambições históricas para além da vocação religiosa. O diretor Andrew Hyatt investe em locações grandiosas, letreiros informativos sobre o Império Romano, imagens espetaculares em câmera lenta, figurinos de época e cenas com dezenas de figurantes. Ele tenta contornar as evidentes dificuldades de produção, dispondo de US$5 milhões — orçamento limitadíssimo para os padrões de Hollywood — para erguer uma narrativa épica que necessitaria mais recursos e, principalmente, de maior refinamento no roteiro.
Em termos narrativos, o resultado sofre com a falta de coesão. A história inclui subtramas em excesso e mais personagens do que consegue desenvolver, enquanto pula de um núcleo para o outro como se estivesse numa série de televisão. A trama espera bastante tempo para fornecer alguns flashbacks explicando em linhas gerais a trajetória de Paulo, que perseguiu os cristãos até encontrar o amor de Jesus. A maior parte de seus feitos é resumida nos letreiros finais. O filme fica indeciso entre abordar Paulo, Lucas ou os romanos — ou ainda, entre ser piedoso ou feroz, intimista ou espetacular. A montagem faz o que pode para equilibrar tantas atenções, mas alguns personagens soam inevitavelmente acessórios. As crianças, por exemplo, funcionam como mero instrumento de chantagem emocional.
Esteticamente, o projeto transparece suas indecisões. A fotografia, em especial, muda de estilo diversas vezes ao longo da história. Em alguns momentos, tenta se passar por algo cruel e realista (os corpos queimados em público), enquanto nos flashbacks, assume um tom ultracolorido e kitsch, próximo de um comercial de televisão. Ora a imagem opta por profundidades de campo limitada, ora abusa dos flares e do desfoque produzido na pós-produção, o que gera um efeito bastante estranho nas imagens. Dentro da prisão, Paulo é banhado numa constante luz que vem do alto, numa representação típica da bondade divina, mas o contraste é tão extremo que prejudica a boa atuação de James Faulkner.
A propósito, o elenco constitui o ponto forte de “Paulo, Apóstolo de Cristo”. A impostação solene de Jim Caviezel cabe muito bem ao seu personagem, e o ator ainda arrisca alguns diálogos em tom informal e cômico, se saindo bem na maior parte do tempo. Joanne Whalley e John Lynch são coadjuvantes muito competentes. A única nota dissonante é Olivier Martinez, uma figura vilânica de sotaque ostensivamente francês.
Julgando pelo resultado final, o espectador poderia supor que se trata de uma obra escrita a várias mãos, tendo passado por diversos editores e enfrentado conflitos criativos até chegar à versão final. Curiosamente, o diretor é também o roteirista, e o filme tem um único editor, além de um único diretor de fotografia. Essa configuração seria ideal para garantir um resultado coeso, uma linguagem única. Mesmo assim, o projeto perde sua força entre tantos caminhos, tons e ambições.
Entra também em cartaz nesta quinta “Verdade ou Desafio”. Permanecem em exibição “Vingadores: Guerra Infinita”, “Sete Dias em Entebbe” e “Um Lugar Silencioso”. (A.N.) (C.C.F.)