As delações que começaram a ser divulgadas na última semana e envolveram atores políticos fluminenses de diferentes partidos, mas com personagens principais do MDB, chegaram ao ex-secretário estadual de Segurança do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame. Depoimento de Carlos Miranda, considerado o operador financeiro do esquema que envolve o ex-governador Sérgio Cabral, em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aponta mesada a Beltrame, conforme publicação do jornal O Globo do último domingo. Ex-secretário dos governos Cabral e Luiz Fernando Pezão (MDB), Beltrame nega as acusações.
Segundo a reportagem, Miranda disse que Beltrame recebeu, de 2007 a 2014, R$ 30 mil por mês do esquema de corrupção, que envolveria também o ex-governador Sérgio Cabral. Os valores teriam sido entregues à mulher de Beltrame, Rita Paes. O delator também contou que, antes de chegar às mãos dos Beltrame, o dinheiro seria repassado ao empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto. Paulo Fernando é investigado por ser “laranja” de Cabral.
Em nota, Beltrame disse que a denúncia é uma história “fabricada por alguém que está coagido e, sabe-se lá porque, usando meu nome para jogar fumaça sobre os próprios dramas”. Beltrame diz ainda que ele mal conhece o delator e que Carlos Miranda corre o risco de passar os próximos 20 anos na cadeia.
O ex-secretário de Segurança afirmou também que já foi caluniado outras vezes pelo fato de ter sido inquilino de um assessor de Cabral, Paulo Roberto, que, de acordo com Miranda, seria o intermediário de Beltrame para receber a propina. “Oportunistas de plantão — em especial o ex-governador [Anthony] Garotinho (PRP) — usaram e abusaram dessa história do imóvel, tentando fazer de meu inquilinato uma prova contra minha honestidade. Fui caluniado algumas vezes. Com os recibos de aluguéis e minhas declarações de Imposto de Renda, venci todas as ações no Judiciário, com direito a indenizações reparatórias”.
Beltrame, que foi o mais longevo secretário de Segurança do estado (de 2007 a outubro de 2016) e responsável pela implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), encerra a nota dizendo que a acusação, “além de fantasiosa, não tem pernas. São as únicas metáforas que encontrei para substituir o já tão desgastado ‘absurdo’”.
Outras citações — Na semana passada foi revelada uma proposta de delação do ex-secretário Hudson Braga. Ele cita Cabral, Pezão e também pagamentos ilícitos aos senadores Romário Faria (Podemos) e Lindbergh Faria (PT), além do deputado federal Indio da Costa (PSD). Todos figuram como possíveis candidatos neste ano e negam as ilegalidades que foram delatadas. (A.N.)