Fala de Saud confirma esquema
Suzy Monteiro 21/04/2018 18:28 - Atualizado em 24/04/2018 16:59
Diretor de relações institucionais da J&F — holding que controla a JBS, gigante de produtos alimentícios — Ricardo Saud trouxe à luz, em depoimento à Polícia Federal (PF), confirmado em fevereiro último ao Ministério Público Eleitoral e Justiça Eleitoral, uma complexa engrenagem envolvendo propina e contrato fraudulento com uma empresa para repassar R$ 3 milhões à campanha de Anthony Garotinho, que tentava voltar ao Governo do Estado em 2014. Garotinho não foi eleito, mas o esquema denunciado por Saud resultou na operação Caixa d’Água, que levou à prisão o ex-governador, junto com a esposa e outras seis pessoas, em novembro do ano passado. Em Campos na última quarta-feira para interrogatório que acabou não acontecendo, Garotinho afirmou estar tranquilo: “Não há nada que me implique. Li o depoimento e Ricardo Saud disse que nunca falou, nem esteve comigo”, afirmou.
Folha da Manhã
De acordo com o ex-executivo, cujo depoimento foi mostrado em primeira mão na edição de quarta-feira da Folha da Manhã, a JBS simulou um contrato com a empresa de serviços de informática Ocean Link para repassar R$ 3 milhões para a campanha de Garotinho ao Estado em 2014.
Saud — que à época estava preso na Papuda — confirmou que foi ele quem escreveu em uma nota fiscal fria, com brazão da Prefeitura de Campos, o nome “Garotinho” e a sigla “PR”, para identificar a qual pagamento se referia.
Ricardo Saud explicou que havia um acordo entre a J&F, conglomerado ao qual pertence a JBS, e o PT para repasse de dinheiro destinado à campanha da então presidente Dilma Roussef, candidata à reeleição. Ainda segundo Saud, o PT “comprou” o PR em troca de apoio. Em princípio seriam R$ 20 milhões, mas, ao final, acabou sendo R$ 40 milhões a serem utilizados para eleger a presidente Dilma (PT), o vice-presidente Michel Temer (MDB), além do maior número de deputados federais e senadores .
Ainda segundo o ex-diretor, Antônio Carlos Rodrigues tentou não dar o dinheiro a Garotinho, mas depois afirmou que o ex-governador o estava pressionando para receber R$ 4 milhões, com o que Saud concordou. Rodrigues, então, teria colocado o genro, Fabiano Alonso, em contato com o executivo para operacionalizar o repasse da propina. A solução encontrada foi a simulação de um contrato entre a Ocean Link e a JBS.
Quando a nota fiscal chegou, ao verificar que a Ocean Link possuia baixo capital social, o ex-diretor disse que contestou e sugeriu que o pagamento fosse parcelado. Porém, Alonso teria afirmado que levou “uma bronca” de Garotinho, que queria o pagamento imediato. Operações deste tipo, segundo o ex-executivo, tinham que passar por quatro diretorias da JBS, além do compliance — um comando interno segundo o qual é preciso estar em conformidade com leis e regulamentos.
Empresário denunciou “10% para Garotinho”
As investigações que resultaram na operação Caixa d’Água tomaram por base o depoimento de Ricardo Saud à Polícia Federal, ano passado. Ele indicou a ponta do iceberg, porém, outros empresários fizeram novas denúncias envolvendo relação nada convencional entre empresas e a Prefeitura de Campos, na gestão da então prefeita Rosinha.
O que Saud contou à PF e, confirmou em 21 de fevereiro último, no 3º Juizado Especial Criminal de Brasília, onde foi ouvido através de precatória, mostra o esquema revelado pelo empresário campista André Luiz da Silva Rodrigues, o Deca. Um dos sócios da Ocean Link e proprietário da Working, que tinha contrato com a Prefeitura de Campos na gestão da prefeita Rosinha, Deca revelou pressão e até retenção de valores devidos.
Paulo Pinheiro
Em 15 de março, outro empresário ouvido como testemunha de acusação do caso Caixa d’água afirmou que 10% do que era faturado nas obras realizadas na gestão Rosinha tinham que ser devolvidos. Segundo José Joaquim Gomes Ribeiro de Castro, as informações eram que os 10% seriam para as campanhas políticas de Anthony Garotinho.
O empresário relatou como ocorria, segundo ele, a divisão de obras na Prefeitura de Campos. Ele disse que havia um direcionamento das obras, às vezes por parte do governo, outras através de sorteio.

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