Ano de eleição e de mudanças
Arnaldo Neto 21/04/2018 17:54 - Atualizado em 24/04/2018 16:59
Folha da Manhã
O fim da janela partidária evidenciou um dos impactos da Lava Jato no Rio de Janeiro. Em meio a tantas denúncias envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral, seu partido, uma espécie de fortaleza fluminense, foi o que mais perdeu representantes na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e entre os parlamentares do Rio na Câmara dos Deputados. O agora MDB, que aposentou o P de outrora, continua sendo forte na Alerj, tem a maior bancada, mas perdeu praticamente 1/3 dos seus representantes, comparando ao número de eleitos em 2014. No parlamento federal, dos oito que tomaram posse pelo PMDB fluminense, hoje restam apenas três no MDB. Entre os da região, a única mudança na última janela da Alerj foi a do deputado estadual Bruno Dauaire, que saiu do PR para o PRP. Na Câmara, Clarissa Garotinho saiu do PRB e foi para o Pros.
Para o cientista político George Gomes Coutinho, as mudanças acontecem, em parte, porque a legislação é permissiva, mas também destaca questões históricas. Coutinho classifica dois perfis do que ele chama de “político profissional: o que tem adesão aos princípios ideológicos — ideologia, segundo ele, como sinônimo de visão de mundo, valores — e os adeptos ao uso de certa instrumentalidade com relação às legendas partidárias.
— As pessoas têm leituras que acho um pouco exóticas sobre políticos. É como se estes fossem de Marte, e os eleitores fossem de Vênus. E, na verdade, o político profissional está pensando em uma carreira, assim como nós todos pensamos. Ele faz cálculos e, obviamente, quer ser bem sucedido dentro dos empreendimentos que faz. Inclusive, ganhar uma eleição. Como a legislação é permissiva, o político profissional vai usar isso a favor dele, pensando entre as possibilidades, de legendas e coligações, as que seriam mais adequadas ao seu projeto. Também há, por outro lado, e você vê isso tanto na esquerda, quanto na direita, políticos que fazem movimentos e ações que são coerentes com perspectivas ideológicas — avaliou George.
No Rio, se por um lado o partido de Cabral, que também é o do atual governador Luiz Fernando Pezão, encolheu, o PP, partido do vice-governador Francisco Dornelles, aumentou sua bancada na Alerj. O número de representantes que era quatro após a apuração do último pleito, agora chega a seis deputados. O PRP, que não tinha nenhum, agora tem dois. O partido foi o destino de boa parte do grupo político liderado pelo ex-governador Anthony Garotinho. Contudo, o número de representantes é bem menor que os sete deputados eleitos pelo PR em 2014, quando o político da Lapa disputou o Governo do Estado e acabou derrotado em primeiro turno.
Mas as mudanças na Alerj vão além da última janela partidária. O deputado estadual Geraldo Pudim, atualmente no MDB, foi eleito pelo PR. Contudo, rompeu com Garotinho, que era presidente regional da legenda — até ter sido preso pela terceira vez, a primeira na operação Caixa d’Água, que teve uma das pontas do esquema revelada pela delação premiada de Ricardo Saud, ex-executivo da JBS, e levou para a prisão, também, o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues. Pudim chegou a disputar a Prefeitura de Campos em 2016, já fora do partido do ex-aliado. Outro nome da região que deixou o PR lá atrás foi Jair Bittencourt, que passou a integrar o PP de Dornelles, mesmo caminho do macaense Christino Áureo, eleito em 2014 pelo PSD.
Na Alerj, da região, o único eleito por um partido e que continua nele até o fim da legislatura é João Peixoto. Ele também segue na presidência regional do PSDC.
Na Câmara dos Deputados, MDB fluminense encolhe
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Das oito cadeiras que o PMDB elegeu para a Câmara dos Deputados, restam três ao MDB. No último pleito, elegeram-se Eduardo Cunha, Leonardo Picciani, Pedro Paulo, Marco Antônio Cabral, Washington Reis, Celso Pansera, Soraya Santos e Fernando Jordão. Restaram apenas os representantes dos clãs Cabral e Picciani, além de Celso Jacob — que era suplente, mas foi efetivado em janeiro de 2017. O ex-prefeito de Três Rios, aliás, foi condenado a 7 anos e meio de prisão em regime semiaberto pelos crimes de falsificação de documento público e fraude em licitação.
No MDB, durante a última janela partidária saíram Celso Pansera, Soraya Santos e o suplente, efetivado a deputado, Zé Augusto Nalin; Alexandre Serfiotis e Altineu Côrtes, que ingressaram na legenda na janela anterior, também saíram. Cunha foi cassado e preso. Pedro Paulo foi para o DEM. Washington Reis elegeu-se prefeito de Duque de Caxias em 2016 e Jordão foi eleito prefeito de Angra dos Reis.
O pré-candidato à presidência da República Jair Bolsonaro, que havia sido eleito pelo PP e estava no PSC, acertou sua ida para o PSL. Bolsonaro, contudo, não conseguiu levar nenhum parlamentar do Rio para o seu partido. O DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi a legenda que mais recebeu deputados nesta janela: quatro (Laura Carneiro, Roberto Sales, Sergio Zveiter e Zé Augusto Nalin), além de ter incluído outros três nomes durante a legislatura.
Campista, mas com reduto eleitoral na região metropolitana, Chico D’Ângelo deixou o PT para integrar o PDT. Clarissa Garotinho, que foi expulsa do PR e ingressou no PRB, agora foi para o Pros. Outro nome da região, Paulo Feijó continua no PR, mas o parlamentar vem sinalizando que não vai concorrer ao pleito neste ano.
Balanço nacional — Mesmo em um dos seus piores momentos históricos, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT voltou a ter a maior bancada na Câmara dos Deputados: são 60 parlamentares, segunda dados disponibilizados pela assessoria da Câmara. O MDB do presidente Michel Temer tem 51 — mesmo número de deputados do PP. Vale destacar que o MDB e o PP são partidos que também estão no centro das investigações da Lava Jato. O PSDB caiu para 47 deputados, enquanto o DEM saltou de 21 eleitos em 2014 para 44 após o encerramento da última janela. A chegada de Bolsonaro ao PSL pode não ter tido resultado na bancada fluminense, mas no balanço geral ajudou o partido a subir de um eleito no último pleito para oito representantes atualmente.
Flexibilização e contexto histórico do troca-troca
O cientista político George Coutinho avalia as possibilidades de mudança partidária por vários aspectos. Seja o ideológico, o mecanismo utilizado pelos políticos para obter êxito em suas campanhas, o contexto histórico, mas também a flexibilidade do sistema eleitoral. Segundo Coutinho, essa flexibilização permite algumas situações que podem soar para o eleitor como situações confusas e constrangedoras.
— Se o eleitor, às vezes, se choca com certa promiscuidade por parte dos políticos profissionais, ele tem alguma razão. Mas isso não se dá meramente por vontade do político profissional. Isso também se dá por certa permissividade da legislação. Nós temos ainda certa dificuldade de estabelecer a questão da fidelidade partidária, nós temos brechas no âmbito das leis que regulam isso, que permitem esse troca-troca que causa, sim, certa confusão para o eleitor com relação à vinculação dos políticos com as legendas — avalia.
Para George, a questão histórica com a identificação partidária também deve ser lembrada. Durante a Ditadura Militar, uma das mais longas na América Latina, o sistema era bipartidário. “Era o MDB e a Arena, que é o antecessor direto do que hoje é o Democratas. Quando você tem um sistema bipartidário artificial, você já gera, nessa época, um problema muito sério que a vinculação, no caso do político profissional, militante, ao que estava disponível. Por exemplo, na época, o MDB que era a chamada oposição consentida pelo regime militar, abrigava de comunistas ao centro político em geral”, observou Coutinho.

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