Lula sai andando, se entrega à PF e está preso em Curitiba
07/04/2018 22:52 - Atualizado em 09/04/2018 19:03
Lula deixou Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a pé em meio a tumulto
Lula deixou Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a pé em meio a tumulto / Reprodução
Teve fim na noite desse sábado (7), depois de dois dias de negociações, a resistência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de cumprir o mandado de prisão do juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba. Lula tentou sair da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em um carro, mas foi impedido por militantes. Momentos depois, a senadora e presidente do PT, Gleise Hoffman, alertou que a Polícia Federal (PF) havia dado um ultimato, então, por volta das 18h45, o petista deixou o sindicato a pé em meio a um tumulto e entrou em um carro descaracterizado da PF. O comboio seguiu pelas ruas da capital paulista até a sede da instituição antes de ir para o Aeroporto de Congonhas, de onde foi conduzido para a capital paranaense.
O partido dos Trabalhadores (PT) informou, neste domingo (8), que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva "continua sereno e tranquilo". Ele "dormiu tranquilamente" na primeira noite que passou preso em uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba.Pela manhã, foram entregues o café da manhã e o almoço que são servidos aos presos da PF – pouco antes das 8h e às 11h, respectivamente. O jantar deve ser oferecido às 18h. Advogados do ex-presidente vão apelar ao Superior Tribunal de Justiça, por meio de recurso especial, depois ao Supremo Tribunal Federal, com recurso extraordinário, mantendo rigorosamente a tese de 'atipicidade de conduta' e que 'ninguém pode ser condenado por fato que não seja criminoso'.
O advogado Cristiano Zanin Martins visitou o ex-presidente Lula na tarde deste domingo (8). Logo depois, ele publicou no Facebook um vídeo afirmando que o ex-presidente está bem, "embora indignado com a situação". “Essa prisão foi decretada sem que houvesse fundamento jurídico seja pela condenação sem base legal, seja porque a nossa Constituição não permite a pena antecipada, que foi o caso imposto a ele”, afirmou Cristiano Zanin.
O advogado disse também que continua tomando as medidas jurídicas cabíveis para reverter esta prisão e que tem expectativa de que isso ocorra em um futuro próximo.
Antes da prisão de sábado
Condenado a 12 anos e um mês de reclusão por lavagem de dinheiro e corrupção no caso do triplex do Guarujá, Lula passou o sábado no Sindicato dos Metalúrgicos, onde participou de uma missa em memória da sua esposa e ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em fevereiro e faria 68 anos ontem. Em um discurso inflamado para milhares de militantes, Lula afirmou que iria se entregar, voltou a dizer que é inocente e atacou Moro e Ministério Público Federal (MPF). Pela manhã, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou um pedido de liminar dos advogados de defesa que queriam que o político começasse cumprir a pena após o julgamento dos embargos dos embargos no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.
Lula discursou após missa em sindicato
Lula discursou após missa em sindicato / Sindicato dos Metalúrgicos do ABC / Divulgação
— Nenhum deles (Moro e o promotor Deltan Dallagnol) tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, com a honestidade e inocência que eu durmo, nenhum deles. Eu não estou acima da Justiça, se eu não acreditasse da Justiça, eu não teria feito um partido político, teria proposto revolução. Acredito na Justiça, mas na a Justiça justa, baseada nas acusações, na prova concreta. Eu não posso admitir um procurador que fez um PowerPoint dizendo que o PT é uma organização criminosa criada para roubar o país e que o Lula é o chefe, ‘eu não preciso de provas, eu tenho convicção’, disse ele. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas e asseclas dele. Não pra mim — afirmou.
Durante o ato, ao lado dos pré-candidatos à presidência, Manuela d’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (Psol), Lula disse que o seu “coração continuaria a bater” com os militantes. “Minhas ideias estão pairando no ar, não há como prendê-las. Quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês. Não adianta achar que tudo vai parar quando o Lula enfartar, o meu coração baterá pelo coração de vocês. Por milhões de corações”.
Após o discurso, o ex-presidente voltou para dentro do Sindicato dos Metalúrgicos. Depois da primeira tentativa de se entregar, que foi barrada pelos militantes, Hoffman avisou em um carro de som que, caso Lula não conseguisse sair, Moro poderia decretar a prisão preventiva, que complicaria juridicamente novos possíveis recursos no Supremo Tribunal Federal.
Sem algemas, por determinação de Moro, Lula, então, deixou o local a pé até o carro da PF. Na chegada do comboio à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, um pequeno grupo de manifestantes contrários e favoráveis ao petista se concentrou no portão. Após realizar exame de corpo de delito, o ex-presidente foi transportado de helicóptero ao Aeroporto de Congonhas, de onde seguiu em um avião para Curitiba.
Sheyden Afroindígena / Mídia NINJA
Na capital paranaense Lula ficará em uma cela separada na Superintendência da PF, que fica no quarto andar, tem 15m² e possui cama e banheiro privativo. A sala foi reformada, mas não conta com confortos como televisão ou frigobar. O chuveiro foi trocado e a cama beliche, substituída por uma de solteiro. A janela dá vista para a parte interna do prédio. Os próprios servidores do órgão têm pouco acesso ao local. Lula não poderá circular pelos corredores. O cômodo não tem grades, mas será vigiado 24 horas por dia por equipes da polícia.
No mandado de prisão, o juiz Sérgio Moro afirmou que, “em razão da dignidade do cargo ocupado”, foi preparada uma sala reservada, “espécie de Sala de Estado Maior”, na qual Lula ficará separado dos demais presos. O local é previsto no Estatuto dos Advogados. Segundo o texto, os advogados têm o direito de não serem presos antes do trânsito em julgado, salvo nesta sala, “com instalações e comodidades condignas”.
Jornalistas são agredidos por manifestantes
MBL/Divulgação
Depois de uma sexta-feira repleta de manifestações em favor de Lula em 24 estados e no Distrito Federal, ontem, os protestos foram mais concentrados durante o dia na frente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, onde jornalistas voltaram a ser agredidos por militantes do petista. Em Belo Horizonte, membros do Movimento Brasil Livre (MBL) limparam a fachada do prédio onde mora a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, que foi pichado de vermelho durante um ato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). No Rio de Janeiro, o prédio da Justiça Federal também foi alvo de vandalismo durante as manifestações de sexta.
De acordo com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), pelo menos seis repórteres foram agredidos ou ameaçados ontem. Uma jornalista da Band sofreu um tapa no braço durante uma entrada ao vivo na programação da emissora. Já uma repórter da rádio BandNews FM foi vítima de um tapa na barriga. Já à noite, o repórter da Globo, Roberto Kovalick, foi expulso do Aeroporto de Congonhas.
Após a prisão de Lula, foram registradas algumas manifestações a favor da operação Lava Jato, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul e em Curitiba, onde apoiadores e pessoas contrárias foram separadas pela Polícia Militar.
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(Clique na imagem para ampliar) / Folha da Manhã
(A.S.)

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