Ao fazer o seu primeiro discurso após a ordem de prisão expedida pelo juiz federal Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está pronto para atender à determinação da Justiça. Essa foi a primeira aparição de Lula após dois dias no prédio do Sindicato dos Metalúrgico no ABC, em São Paulo. Nessa sexta-feira (6), ele recusou se entregar à PF no prazo de até as 17h dado por Moro. Após o discurso, durante uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, ele retornou para o sindicato. Agentes da Polícia Federal aguardam o ex-presidente Lula em São Bernardo do Campo, desde o fim da cerimônia. No entanto, toda a logística da prisão está sendo mantida em sigilo pela PF.
Desde que desceu do carro de som, o petista segue no sindicato, onde já almoçou com familiares e aliados. A ideia era que ele “descansasse” um pouco, segundo o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
O ex-presidente continua no segundo andar do sindicato, onde fica a sala da presidência, mas já há uma movimentação no portão lateral, inclusive um plástico foi colocado para dificultar a visibilidade na parte interna do estacionamento coberto. No entanto, há outras saídas da sede. A previsão é que Lula deixe o sindicato num carro da Polícia Federal descaracterizado, a partir das 16h30. De lá, deve seguir diretamente para o aeroporto de Congonhas. Em Curitiba, segundo informações, Lula será embarcado em um helicóptero que o levará para a carceragem da PF.
Ao discursar mais cedo, Lula afirmou: "Eu vou atender ao mandado deles porque quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece é por minha causa, eu já fui condenado a três anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de armas, mas eu tenho uma língua ferina", disse, complementando: — A morte de um combatente não para a revolução.
Lula deixou o prédio do sindicato neste sábado (7), por volta das 10h40, para participar de uma missa em memória de Marisa Letícia, que completaria neste sábado 68 anos. Depois da homenagem, Lula fez o discurso de um caminhão de som, ao lado de aliados, como a ex-presidente Dilma Rousseff; o presidente estadual do PT, Luiz Marinho; os ex-ministros Fernando Haddad e os pré-candidatos à Presidência Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB).
No discurso, ele ainda disse que o juiz Sérgio Moro mentiu ao confirmar a acusação de que o tríplex era dele. Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
— Estou sendo processado, mas tenho dito claramente. Sou o único ser humano processado por um apartamento que não é meu. Que o (jornal) O Globo mentiu quando disse que era meu. A que a Lava-Jato mentiu quando disse que era meu. Eu pensei que o o juiz Moro ia resolver e ele mentiu também — disse Lula.
Diante da militância, ele abordou vários assuntos. Defendeu uma nova constituinte, elogiou candidatos às eleições que estavam com ele no palco, criticou a ideia de privatizar estatais como o BNDES e a Caixa Econômica Federal. Mas logo voltava ao tema principal do ato e atacava a forma como vem sendo tratado pela justiça.
— Não estou acima da Justiça. Se não acreditasse, eu tinha proposto uma revolução nesse país. Acredito numa Justiça justa que faz processo baseado nos autos, na prova concreta que tem a arma do crime — disse ele, continuando:
— O que não posso admitir é um procurador que fez um powerpoint e foi pra TV dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil. E que o Lula, por ser a figura mais importante, e ele é o chefe. E se o Lula é o chefe não preciso de prova, eu tenho convicção. Guarde a convicção dele para os comparsas.