Jonatha Lilargem
24/04/2018 10:55 - Atualizado em 25/04/2018 17:24
Os pescadores que atuam na foz do rio Paraíba do Sul, em São João da Barra, têm enfrentado dificuldades nos últimos dias para trabalhar. E o problema não é só o avanço do mar, em Atafona, mas também o fato de a região voltar a ficar assoreada. Ou seja, a água está com acúmulo de sedimentos (areia, terra, lixo, rochas e outros materiais). Assim, a circulação das embarcações é prejudicada, já que o leito fica mais raso e há risco de erosão. Os barcos podem até ficar encalhados. Apesar da dificuldade da situação, o problema pode estar chegando perto do fim. Pescadores reclamaram junto à Prefeitura e, na última sexta-feira (20), a secretária de Meio Ambiente e Serviços Públicos de São João da Barra, Joice Pedra; a coordenadora de Meio Ambiente, Marcelle Terra; e o coordenador de Defesa Civil, Adriano Assis, participaram da reunião do Conselho dos Secretários Municipais de Meio Ambiente do Norte e Noroeste Fluminense (Cosemma-NNF), na sede do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), para solicitar o retorno das máquinas de limpeza e desobstrução dos canais.
Não é a primeira vez que esse transtorno acontece, mas, desde quando as dificuldades voltaram a surgir, os grupos afetados têm estudado formas de solução. Alguns trabalhadores prejudicados solicitaram para a Prefeitura, que vinha estudando formas de intervenção, que fosse feita uma limpeza. No dia 13 deste mês, a secretaria de Meio Ambiente de São João da Barra participou de uma reunião com representantes do Porto do Açu, na sede da Secretaria de Estado do Ambiente (SEA), para discutir ajustes técnicos da compensação ambiental referente ao Terminal Sul, para realização das intervenções no rio Paraíba do Sul.
A ideia inicial do órgão municipal foi de desassorear a margem direita da foz, para que as embarcações voltem a circular normalmente. Além disso, os agentes da secretaria também estudam fazer uma desobstrução do canal, que fica localizado em uma ilha no leito do rio e, dessa forma, melhorar a captação para o abastecimento de recursos da população. A expectativa é de que a limpeza seja realizada ainda neste semestre para que a situação seja normalizada.
Não são só os profissionais da pesca que sofrem com o assoreamento causado do mar, mas também os que trabalham nos frigoríficos, já que, muitas vezes, eles são abastecidos pelas navegações que ficam impedidas de passar pela região.
O pescador Rodrigo Peixoto trabalha na região há mais de 10 anos e disse que, em épocas de assoreamento, o lucro da atividade cai drasticamente. “Não é a primeira vez que vejo isso acontecer. Infelizmente, é normal que a água fique com esses sedimentos. Um dos passos para evitar esse problema seria a conscientização da própria população, que não deve jogar lixo no mar jamais. Poluir o mar mata os peixes e também atrapalha quem vive da pesca, porque fica mais difícil para conseguirmos pescar. Os nossos barcos não conseguem navegar nessa região. Precisamos de apoio do poder público. Este mês, tive um grande prejuízo em relação ao que costumo ganhar”, afirmou.
Acompanhando a situação atual da foz do Rio Paraíba, o ambientalista Aristides Soffiati afirmou que o desassoreamento iria ser de grande contribuição para os profissionais da pesca. “A dragagem só tem a acrescentar para quem trabalha pescando. Esta limpeza foi pedida inclusive pelos pescadores. Se ela for mesmo realizada, será aberto o canal até a foz, o que facilita a circulação das navegações, já que os sedimentos serão removidos. Desta forma, os pescadores voltam a trabalhar normalmente".
O ambientalista também comentou sobre as causas e consequências que deixam o mar assoreado. “Quando há desmatamento, muitas vezes, a terra vai pro rio, sem contar o lixo que a população joga no mar. Os sedimentos ficam indo para o rio com frequência e atrapalham a vida dos pescadores. Uma consequência causada pela limpeza é que os peixes podem ser levemente afetados porque, às vezes, eles são atingidos pela areia que é tirada do fundo do rio pela draga flutuante”, concluiu.
Solução paliativa a um antigo problema
O desassoreamento é uma obra considerada cara e, mesmo se for realizada, o problema pode voltar a acontecer em um curto espaço de tempo, segundo Aristides Soffiati. “Apesar de ser muito positivo que haja a limpeza, a situação é complicada. A tendência é de sempre ficar assoreado. Sempre que elas (limpezas) são realizadas, o problema é resolvido temporariamente, porque o canal será fechado com o tempo novamente, já que os sedimentos vão voltar para o rio e, assim, as embarcações e os pescadores voltarão a ter o problema”, disse.
Ciente de que a limpeza será apenas uma solução temporária, Elialdo Meireles, presidente da Colônia de Pescadores de Atafona (Z-2), também acredita que a dragagem não irá resolver a situação por completo. “Sem dúvidas, o desassoreamento vai trazer benefícios para os pescadores e para quem navega pela região, mas precisa ser melhor conversado e estudado. Os sedimentos irão voltar para o mar com o passar do tempo. É preciso que seja pensada uma atividade mais eficiente. O avanço do mar também atrapalha, mas isso não temos como evitar”, afirmou.
Valdemir Alves é presidente da Associação dos Pescadores do Parque Prazeres do rio Paraíba do Sul (Apappriopos), em Campos, mas também está ciente da intervenção que o poder público quer realizar na foz do rio, em São João da Barra. Ele acha que vai haver uma perda de dinheiro, caso a situação não seja sempre revisada. “O desassoreamento tem um custo caríssimo. Não adianta apenas fazer isso e achar que irá resolver. Só se for feito com frequência. Tem que haver uma permanência desse ato para não deixar que os sedimentos fiquem voltando sempre para a água”, comentou.
Mobilização em busca de apoio e recursos
Embora já esteja avançado o plano de desassorear a foz do Rio Paraíba, ainda não está confirmada a intervenção. As autoridades se reuniram no último dia 13 e na última sexta (20), na sede do Inea, na capital, para conversar sobre a situação. De acordo com Joice Pedra, secretária de Meio Ambiente de São João da Barra, a documentação das intervenções já foi encaminhada para os órgãos competentes: Inea, SEA, Ministério Público Federal (MPF), Superintendência do Patrimônio da União (SPU) e Porto do Açu.
Desde o ano passado, a Prefeitura de São João da Barra tem a autorização do Inea para fazer a limpeza na foz do Rio Paraíba, como disse o superintendente regional do órgão, Renê Justen. “Nós demos a permissão para a realização da obra para a Prefeitura do município em 2017, mas, como é necessário que todas as instituições envolvidas concordem com o plano, houve um pouco de demora. Eu, particularmente, acho que é muito bom que haja a dragagem, porque irá abrir o canal, o que é necessário para que as embarcações possam circular tranquilamente”, disse.
Cabe ressaltar também que segundo a Prefeitura, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) irá realizar um monitoramento ambiental durante todo o processo da intervenção na foz. Ainda segundo o órgão municipal, a empresa Porto do Açu contratará os serviços especializados que serão atestados pela secretaria municipal de Meio Ambiente.
Na sede do Inea, a equipe da Prefeitura sanjoanense discutiu as dificuldades identificadas pelo Cosemma e buscou o apoio para aquisição de recursos materiais (máquinas, equipamentos e aparelhos de monitoramento e controle ambiental), que serão gerenciados pelo Cosemma NNF, através do termo de compromisso e estudos técnicos, beneficiando os 18 municípios que compõem o Conselho.