Dora Paula Paes
29/04/2018 12:44 - Atualizado em 02/05/2018 19:31
No palco do Teatro de Bolso Procópio Ferreira, as cortinas fecharam a história de Maria Helena Gomes da Silva, a Leninha, como era carinhosamente chamada. A atriz foi velada no palco do TB entre a noite desse sábado (28) e a manhã deste domingo (29). Por volta das 11h, no cemitério do Caju, familiares e amigos disseram adeus à campista. As filhas, Raquel Simen e Fernanda Campos, também atrizes, na despedida, cantaram Belchior, num coro A Palo Seco, e mais palmas fecharam o ato da sua vida.
Figura importante na cena cultural de Campos, Maria Helena, 61 anos, morreu na tarde de sábado, no Hospital Beneficência Portuguesa, após 23 dias de internação, vítima de complicações provenientes de uma fibrose cística pulmonar. Leninha foi diretora e presidente da Associação Regional de Teatro, diretora da Federação Estadual de Teatro, diretora do Teatro de Bolso, superintendente do Trianon e vice-presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL).
— Ela marcou sua trajetória com muita garra, persistência e estudo. Ela se destacou no teatro de Campos nesses últimos 40 anos e, por certo, será lembrada com amplo reconhecimento. O teatro vai se ressentir muito sem sua presença. Sem dúvida, uma grande perda para a cultura da cidade — disse Orávio de Campos Soares, com quem ela teve uma filha, que também é atriz.
Leninha começou sua carreira no teatro no início de 1973, no projeto Teatro Escola de Cultura Dramática, sob a direção de Orávio de Campos Soares. Desde então, dedicou sua vida aos palcos. Foram muitas peças e projetos nos quais a dedicação absoluta era palavra de ordem nas funções por ela desempenhadas. Com garra e tenacidade, Lena – como carinhosamente era chamada por todos – nunca desistiu do teatro, apesar do pouco incentivo que a cultura recebe, no Brasil.
Em conversas com amigos, Lena dizia que o teatro era transformador e revigorante. E, de fato, ele transformou sua vida. Seu talento foi herdado pelas filhas Fernanda Campos e Raquel Simen, com as quais dividiu o palco em “Nossas e Outras Histórias”, em 2016, no Teatro do Sesi, através do Cena 7 Grupo de Teatro.
— Acompanhei o movimento teatral que construiu o Teatro de Bolso Procópio Ferreira, inaugurado em 1968. Quando passei a fazer parte do movimento teatral, me envolvi afetivamente com aquela casa e, com orgulho, por muitas vezes, encerei o chão daquele palco, acompanhada de Antonio Roberto Kapi — lembrou Lena, durante entrevista em novembro de 2015.
Em 2009, na condição de vice-presidente da FCJOL, Lena participou da criação do Curso Livre de Teatro, montando diversas produções, iniciadas com “Tribobó City”, de Maria Clara Machado. Ao lado de Neusinha da Hora e de outros atores consagrados, Lena viveu, na condição de coordenadora do Curso Livre de Teatro, um período intenso de trabalho, revelando talentos. Uma das grandes produções do projeto foi a remontagem de “O Auto do Lavrador na Volta do Êxodo”, de Orávio, em julho de 2016.
Nas redes sociais, amigos homenagearam Maria Helena: “A lágrima se transforma em arte e toma a forma de Lena”, afirmou o maestro Jony William, presidente da ONG Orquestrando a Vida. A atriz Iara Souza Lima também se manifestou: “Minha amiga se foi. Mais uma. E, com ela, seus personagens que um dia interpretou. Como ela fazia, no discurso quando algum ator deixava a terra, vou sentir muita saudade da sua generosidade e do seu ouvido amigo. Lena, descanse em paz. O seu amor pela arte continuará”.