Celso Cordeiro Filho
26/04/2018 19:46 - Atualizado em 30/04/2018 16:51
“Este filme de 1985 é da fase criativa de Martin Scorsese que, a partir dos anos 90, mudaria sua perspectiva através de grandes produções. ‘Depois de Horas’ tem um orçamento baixo, dentro da linha do cinema independente, e deu a Scorsese o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes do mesmo ano. Gosto muito do filme e, por isso mesmo, decidi exibi-lo no Cineclube Goitacá”. As observações são do advogado e crítico de cinema Gustavo Oviedo na apresentação de “Depois de Horas”, quarta-feira (25), no Cineclube Goitacá.
A trama se circunscreve a um escritório, suas máquinas, trabalho desgastante, onde o personagem principal convive com pessoas enfadonhas, vê sempre os mesmos rostos e objetos, ouve sempre os mesmos sons, sucumbe à rotina diária tão costumeira. A partir deste argumento, aparentemente despretensioso, Scorsese comprova sua genialidade (e versatilidade), de acordo com Oviedo, numa comédia de humor negro, que mais parece um filme de terror com toques surrealistas, tentando responder a seguinte pergunta: o quão ruim seria para alguém — acostumado a fazer sempre as mesmas coisas — mudar um pouco sua rotina por um dia?
Scorsese e o roteirista Joseph Minion tentam responder isso em apenas uma noite, através de Paul Hackett (Griffin Dunne), um editor de livros apegado a rotina, que busca colocar um pouco de emoção em seu dia-a-dia. O que aparentemente seria um dia normal vai aos poucos se transformando numa grande aventura pela noite da cidade de Nova York, onde Paul se vê cercado de confusão e tenta, de forma desesperada, apenas retornar à sua casa. “É uma história bizarra, pois coloca Paul num mundo o qual não pertence. A trama é kafkniana e Scorsese usa inclusive um fragmento do livro ‘O Processo’, de Franz Kafka, para homenageá-lo. Enfim, é um filme bem conduzido e que prende a atenção do espectador durante todo o seu desenrolar”, acrescentou Oviedo.