Matheus Berriel
10/04/2018 19:27 - Atualizado em 12/04/2018 13:53
Nesta quarta-feira (11) à noite, o jornalista e poeta Aluysio Abreu Barbosa, diretor da Folha da Manhã, apresentará o clássico “Era uma vez no Oeste” (C’era una volta il West, 1968) no Cineclube Goitacá. Dirigido pelo cineasta Sergio Leone, o filme é um épico western spaghetti (bang-bang à italiana) que gira em torno de uma crítica à Revolução Industrial e ao capitalismo na figura do avanço das rodovias, que unificaram as Costas Leste e Oeste dos Estados Unidos. Teve participação na história do roteirista Bernardo Bertolucci, hoje consagrado diretor, mas, na época, ainda um jovem promissor. A sessão está marcada para as 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, situado na esquina das ruas Conselheiro Otaviano e Treze de Maio, no Centro de Campos. A entrada é gratuita.
Em conversa com a reportagem, Aluysio contou que “Era uma vez no Oeste” está entre seus westerns preferidos desde a infância. “Não me recordo, para ser sincero, da primeira vez que o vi. Mas, é um filme dos anos 1960. Vi na televisão, quando era garoto. Me lembro dele na infância, assisti várias vezes e sempre gostei muito. Primeiro com a visão de criança; ele me chamou a atenção já no duelo inicial, na estação de trem. Depois, logicamente, você vai adquirindo referências. É um filme que tem poucos diálogos e de muita tensão. Por ter pouco diálogo, brilha muito a música do grande Ennio Morricone. Hoje, com as referências que adquiri ao longo da vida, para mim, é uma ópera”, afirmou.
A união de um dos maiores diretores de todos os tempos, Sergio Leone, com o músico que é tido por Aluysio como o maior da história do cinema, o também italiano Ennio Morricone, é um dos motivos do sucesso do filme. “Cada personagem tem a sua música. Pela música, você sabe quem é o protagonista daquela cena. A Claudia Cardinale, o Charles Bronson, o Jason Robards e o Henry Fonda, cada um tem a sua melodia”, disse o jornalista e poeta, fazendo referência aos atores que interpretam os personagens Jill McBain, Harmonica, Cheyenne e Frank, respectivamente.
A escolha por Henry Fonda para interpretar Frank foi uma sacada do diretor para desmistificar o bem e o mal, visto que o ator havia ganhado notoriedade representando o presidente Abraham Lincoln em “A Mocidade de Lincoln” (Young Mr. Lincoln, 1939), de John Ford. Em “Era uma vez no Oeste”, com lentes de contato para destacar ainda mais seus olhos azuis, Henry Fonda fez simplesmente um dos maiores vilões da história do cinema.
— Como diria Caetano Veloso, na música ‘Americanos’: ‘Para americano, branco é branco, preto é preto, e a mulata não é a tal’. O que Leone faz é colocar o mulato como o tal, no sentido de que, para o americano, o bom era o bom, e o ruim era o ruim. Sergio Leone mostra que não, ele humaniza, usando o Henry Fonda, que encarnava no imaginário dos americanos com os mais altos valores. Numa sociedade montada sob o catolicismo, a figura do bom e do ruim se mistura. Como, de fato, somos todos nós. Estamos vivendo agora, no Brasil, um momento terrível, com um lado se julgando fiel e o outro infiel, e vice-versa. Também serve para esse momento brasileiro — destacou Aluysio.
Outro ponto enfatizado pelo diretor da Folha para demonstrar a genialidade de Sergio Leone é a criatividade para superar a adversidade financeira sem perder a perfeição. “O filme teve algumas cenas filmadas no Monument Valley, um parque de diferentes formações geológicas, nos Estados Unidos, que tinha sido palco dos grandes westerns do primeiro mestre do gênero, o John Ford. Mas, como o dinheiro era curto, a maioria das cenas foi gravada na região de Múrcia, na Espanha, que eu até conheci quando estive naquele país. Por ser uma região desértica, parecia. O perfeccionismo do Leone era tão grande que tem uma cena filmada em Múrcia, quando bandidos chegam para libertar outro deles, que mostra poeira de terra vermelha, do Monument Valley, enquanto a terra de Múrcia era marrom. Ele levou poeira do o Monument Valley para jogar lá. Então, é um filme fantástico, uma grande obra”, finalizou.