Crítica de cinema - Nosferatu: de leste a oeste
- Atualizado em 02/04/2018 17:41
Divulgação
(Nosferatu) -
Nesta quarta-feira (4), cinéfilos de Campos terão a oportunidade de assistir a um dos maiores clássicos do cinema mundial. “Nosferatu”, do diretor alemão F.W. Murnau, é a primeira adaptação bem-sucedida de “Drácula”, romance gótico escrito pelo irlandês Bram Stoker em 1897. A história do Conde Drácula é bastante conhecida por ter sido levada às telas diversas vezes.
O que não se conhece devidamente é o contexto em que as histórias de terror foram concebidas no século XIX. A partir do Congresso de Viena, em 1815, começou a se definir a diferença entre o oeste e o leste europeu. O oeste era representado por países democráticos ou com tendências democráticas. O leste era representado por países conservadores. Todos eram percebidos como capitalistas. A princípio, não se tornou clara uma forte diferença ideológica, como, mais tarde, entre capitalismo e comunismo. Do leste, veio a Peste Negra na Idade Média. De lá, virá sempre o aterrorizante, o mal e o irracional.
No final da Primeira Guerra Mundial (1914-18), a diferença entre leste e oeste foi sistematizada até para dar razão ao ocidente. Este era constituído pelos Estados Unidos, país que se formou depois de uma revolução liberal em 1776, dando ao país uma Constituição republicana e democrática. A França era o berço do espírito revolucionário. A política do país oscilou entre democracia e autoritarismo, entre república e monarquia, triunfando a república. Na Inglaterra, uma revolução corroeu a monarquia, introduzindo nela o parlamentarismo.
Mateusinho
Mateusinho
Enquanto isso, a Alemanha teve uma história autoritária até o fim do conflito, quando foi obrigada a adotar uma república instável. A Áustria criou com a Hungria uma diarquia e a Rússia era então considerada um país ainda feudal. O império turco era um corpo estranho, o “homem doente da Europa”, como era então conhecido. No entanto, Alemanha e Áustria eram países desenvolvidos culturalmente. A Rússia conheceu uma explosão de excelentes literatos. Por interesses regionais, a Rússia foi aceita numa união com a Inglaterra e a França até a eclosão da revolução comunista de 1917.
Observemos que as histórias cercadas de obscurantismo são ambientadas na Europa Oriental, ainda que escritas na Europa Ocidental. O monstro de Frankenstein nasce na Suíça, país então colocado no oriente. Drácula migra da Transilvânia para a Inglaterra, trazendo peste, terror e morte. Os filmes de Ernst Lubitsch retratam bem o dualismo oriente-ocidente. Mas ele é um cineasta apaixonado pelo conservadorismo da Europa oriental, embora aceite trabalhar nos Estados Unidos. O expressionismo alemão vinha do renascimento. Cores escuras, sombras, trevas.
Os três grandes expressionistas alemães — Murnau, Fritz Lang e Pabst — utilizaram estes recursos com sucesso. Eles criaram uma linguagem cinematográfica que fala em lugar das palavras. O cinema mudo exigia, mais que o cinema falado, a linguagem da imagem. Os cineastas alemães foram trabalhar nos Estados Unidos e fizeram sucesso. No princípio, eles mantiveram a gramática expressionista, mas aos poucos tiveram de abandoná-la em nome da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Esta gramática perdurou parcialmente nos filmes noir. “Nosferatu” data de 1922 e se trata de uma joia do cinema.

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