Todos os homens do presidente (que não têm foro privilegiado) estão presos. A Polícia Federal deflagrou, nessa quinta-feira, a operação Skala, que prendeu alguns dos mais próximos dos amigos de Michel Temer: como o advogado José Yunes, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, e o coronel da reserva da Polícia Militar João Baptista Lima Filho. As detenções — 13, no total — foram autorizadas pelo ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que investiga Temer por suposto recebimento de propina em troca de benefícios a empresas do setor portuário via decreto. Os pedidos de prisão foram feitos pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o que aumenta especulações sobre uma possível terceira denúncia contra o presidente. Temer não falou diretamente sobre as prisões, mas diz que ser presidente é “uma coisa que você fica sujeita a bombardeios a todo momento”.
A decisão de Barroso foi tomada com base nas diligências do inquérito instaurado ano passado, a partir da delação da JBS, para apurar suspeitas de favorecimento da Rodrimar no Decreto dos Portos no governo Temer, como também informações do inquérito instaurado em 2011 a partir da denúncia da ex-mulher de Marcelo Azeredo, que presidiu a Companhia das Docas do Estado de São Paulo (Codesp), afirmando que Temer e Azeredo recebiam propinas de empresas que tinham contratos no Porto de Santos. Na Rodrimar, houve cumprimento de mandados de busca e apreensão em unidades da empresa, segundo informou a assessoria da empresa.
Neste inquérito antigo foi encontrada uma planilha, mencionada na decisão de Barroso que autorizou a operação desta quinta-feira, com siglas como MT, MA e L “permitem supor que sejam o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Michel Temer, Marcelo Azeredo, presidente da Codesp entre 1995 e 1998, indicado por ele, e o amigo pessoal do senhor presidente, João Batista Lima Filho”, segundo Barroso em sua decisão.
A Polícia Federal apontou que há indícios de que a corrupção do setor portuário “para fins pessoais e eleitorais” perdura há mais de 20 anos e está vigente até o dia de hoje.
Homens do presidente — Amigo de Temer desde a época da faculdade, nos anos 1960, Yunes foi assessor especial da Presidência até dezembro de 2016. Pediu demissão do cargo após ter sido citado na delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho. A amizade com Lima Filho vem da década de 1980. Lima por muitos anos ajudou Temer em campanhas, como coordenador dos comitês eleitorais. Já o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, foi também Codesp e teria sido indicado por Temer.
Outra suspeita — A operação deflagrada nessa quinta-feira atinge suspeitas de pagamentos indevidos a Temer por meio da reforma da casa de sua filha, feita pela arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher de Lima. Ela foi intimada.
“Temer nada tem a ver com isso”, diz Marun
Todos os envolvidos negam qualquer tipo de participação em esquemas fraudulentos. Já ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse que as prisões de amigos de Temer não enfraquecem o governo e defendeu o Decreto dos Portos. Ele reafirmou a certeza de que o presidente não tem relação com concessão de nenhum benefício à Rodrimar, empresa investigada por suposto favorecimento pelo decreto.
— A prisão de dois amigos do presidente é uma situação em relação a qual nós ainda não temos um conhecimento específico dos motivos que levaram a ela — disse. E completou: “Quero antes de mais nada, ter conhecimento dos motivos [das prisões] e tenho a certeza de que se isso não for tratado com parcialidade, com sensacionalismo, não enfraquece o governo porque o presidente Temer nada tem a ver com isso. O decreto não beneficia a Rodrimar”, disse o ministro.
Não é de hoje que aliados de Temer apontam que há “perseguição”. Agiram assim nas duas denúncias apresentadas por Rodrigo Janot — que não prosseguiram após análise da Câmara. Após a operação Skala, analistas já consideram a possibilidade de uma terceira, pelas mão de Raquel Dodge. A procuradora foi indicada por Temer e é considerada “moderada”.
Marun disse ainda que a “absoluta inocência” do presidente Michel Temer será esclarecida.
Os presos — Além dos envolvidos na operação dessa quinta, a lista de aliados de Temer presos é grande. Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Rocha Loures (em prisão domiciliar) aumentam a relação.