O juiz Glaucenir Oliveira, responsável pela prisão do ex-governador Anthony Garotinho e da esposa Rosinha, entre outros réus no âmbito da operação Caixa d’Água, teria se retratado em carta ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, duramente criticado em áudio atribuído ao magistrado campista que viralizou no último 23 de dezembro. A existência da carta, datada de 2 de fevereiro, foi divulgada pelo jornalista Lauro Jardim, em seu blog hospedado no site do jornal O Globo. Gilmar, que à época presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu habeas corpus para libertar o político da Lapa e determinar que Rosinha não precisava mais usar tornozeleira eletrônica. O ministro pediu a abertura de investigação sobre o áudio. Na Caixa d’Água, esta quinta-feira (15) é dia audiência para continuidade da oitiva das testemunhas de acusação.
No áudio, Glaucenir teria falado que conversou com pessoas do “grupo do Bolinha” e, supostamente em uma referência à decisão de Gilmar, teria disparado: “segundo os comentários que eu ouvi hoje — comentário sério, de gente lá de dentro —, é que a mala foi grande”. Já na carta de retratação, que segundo Lauro Jardim seria de duas páginas, o magistrado teria afirmado: “Retrato-me de todo o conteúdo expresso no áudio”. No texto chega a ser destacado “o respeito que nutro por Vossa Excelência, seja como doutrinador, seja como ministro do STF”.
Glaucenir assumiu as ações da Caixa d’Água depois da declaração de suspeição de outros juízes. O Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a prisão de Garotinho, a esposa e outros seis réus acusados de operarem um esquema que envolvia propina e extorsão a empresários durante a gestão da então prefeita Rosinha. Com base na delação premiada do empresário André Luiz Rodrigues, Glaucenir Oliveira decretou a prisão preventiva de todos.
Segundo Lauro Jardim, Glaucenir tentaria “se livrar de uma punição do CNJ [Corregedoria Nacional de Justiça] que, em janeiro, abriu um processo contra ele”.
A Folha tentou falar com Glaucenir, por telefone, mas as ligações não foram atendidas. Com Gilmar, a equipe não conseguiu contato.
Oitiva de mais testemunhas da Caixa d’Água
Mais quatro testemunhas de acusação serão ouvidas hoje pelo juiz eleitoral Ralph Manhães, dentro da ação resultante da operação Caixa d’Água, que investiga um suposto esquema para arrecadação de dinheiro ilícito de empresários na Prefeitura de Campos durante a gestão da ex-prefeita Rosinha, inclusive mediante extorsão com arma de fogo, segundo a denúncia do MPE.
A primeira oitiva aconteceu dia 6 de fevereiro. Já no próximo dia 23 está marcada a primeira audiência com as testemunhas de defesa. O deputado estadual Geraldo Pudim (PMDB) e o ex-executivo da multinacional JBS, Ricardo Saud, prestaram depoimento por precatória.
Na primeira audiência foi ouvido o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, o Deca, que detalhou como teria acontecido o esquema, que, segundo ele, tinha como objetivo desviar dinheiro para a campanha de Anthony Garotinho ao Governo do Estado em 2014.