O conhecido Atafona Praia Clube, marco histórico no litoral sanjoanense, fundado em 1959 e demolido em 2015, tem grandes chances de ser reerguido. A boa nova é fruto de uma mobilização de ex-sócios e frequentadores do local. No dia 24 de fevereiro, através de uma assembleia realizada entre os associados, uma comissão provisória foi montada com o intuito de regularizar pendências administrativas e financeiras da instituição, e encaminhar um projeto de reestruturação. No dia 7 de abril, a partir das 10h, a comissão voltará a se reunir para apresentar o que já foi elaborado e discutir o assunto com a comunidade. A reunião acontece na avenida Feliciano Sodré, 66, em frente ao antigo APC, em Atafona. Atualmente, a dívida da instituição ultrapassa R$ 160 mil. Para o diretor social Mário Filho, a esperança é “regularizar essa situação para dar vida novamente ao local”.
O projeto, idealizado pelo arquiteto apoiador Victor Fernandes, prevê três fases: a restauração das quadras ainda existentes no terreno, com construção de uma nova quadra para futevôlei e um quiosque; a recuperação das piscinas e bombas com perspectiva de um parque aquático; e um novo salão de festas. Mário explica que o objetivo do grupo é iniciar o primeiro módulo ainda este ano, com foco no resgate da tradição: “Depois que a gente regularizar a parte documental, de pessoa jurídica perante à Receita Federal e à própria Prefeitura, vamos fazer uma campanha para arrecadar fundos para parte da obra e, futuramente, propor um convênio de permuta do espaço, para obter dinheiro para executar os outros dois módulos”.
Segundo o diretor, o grupo começou a se mobilizar no verão do ano passado, através de denúncias e reclamações da própria vizinhança do clube. “O local estava virando ponto de droga, de sexo. A partir das reclamações, procuramos a prefeita, que informou que não poderia fazer nada por a área ser particular, mas que depois da regularização, voltássemos a ela”, acrescentou Mário Filho. A comissão informou que já foram doados em prol do trabalho, três shows e alguns milheiros de tijolos.
Para o presidente da comissão e antigo diretor do clube, Ronaldo Arêas, essa é uma maneira de resgatar o lugar e a sociabilidade das pessoas, tendo um ponto de encontro e lazer. “A região é muito deficiente de espaços como esse. Então a ideia é essa, considerando um lugar que já tem uma história e tradição. Estamos conseguindo mobilizar as pessoas”, contou.
Prédio foi demolido em setembro de 2015
Em março de 2015, a coordenadoria municipal de Proteção e Defesa Civil determinou aos proprietários a interdição do imóvel com o prazo de uma semana para a demolição. Na ocasião, o órgão público alegou abandono do prédio e risco de desabamento. Com o não cumprimento por parte dos sócios, a Defesa Civil acionou o Ministério Público Estadual (MPE) e pediu autorização para fazer a demolição, que foi realizada em setembro do mesmo ano. O abandono do prédio começou a ficar evidente após o ano de 2007, quando o mar atingiu parte das estruturas.
O diretor social Mário Filho destacou, ainda, que a área original, desde 1959, não foi atingida pelo mar. Sobre o quadro de associados, ele informou que um novo chamamento será feito: “Como tem muita gente que já morreu, nós vamos fazer um edital para convocar as pessoas da família a regularizarem essa situação. A ideia é cobrar uma taxa simbólica referente ao ano de 2018, até para dar o ponta pé inicial da obra à medida que as pessoas forem se cadastrando”.
Frequentadores lembram suas histórias
Fundado na década de 1950, o Atafona Praia Clube registrou tempos auges com os bailes de carnaval em 70 e 80. Também ficou conhecido por sediar projetos e competições esportivas, o que marcou muitas gerações. O sanjoanense Ginex Novas, de 70 anos, aponta o lugar como inesquecível. “Ali foi tudo na minha mocidade. Voleibol, futebol, carnaval e o meu casamento. Só alegria”, comentou.
Para José Cláudio Gonçalves, de 51 anos, as lembranças do clube atravessam histórias de muitas famílias. “As pessoas não têm ideia de como era bom o Atafona Praia Clube. Meu pai tinha uma barraca na rua do clube, a barraca do Valdinho. Muitas saudades do meu coroa”.
O historiador e sanjoanense Fernando Antônio Lobato, de 58 anos, relembrou as gincanas que também movimentaram o lugar. “Havia várias competições, mas as gincanas eram memoráveis, sempre me arrastavam para alguma tarefa. Levei moedas antigas, fotografias e fantasias”, comentou.
Pessoas mais jovens como o locutor Higor Ferraz, de 35 anos, também sentem saudades do lugar. “Vivi momentos maravilhosos nesse clube, nem gosto de passar pelo local. Pura tristeza”.
Para o produtor Rhaffa Henriques, de 68 anos, “a esperança é que se faça realmente alguma intervenção sobre o avanço do mar, para que a bela Atafona possa voltar a ser feliz e próspera. Por enquanto, só lembranças e saudades”.