Transporte público em descrédito
Jane Ribeiro 24/03/2018 15:22 - Atualizado em 28/03/2018 19:30
Superlotação, horas perdidas em filas e deslocamentos e até mesmo ausência total de transporte público. Estes são alguns dos problemas ainda enfrentados cotidianamente por milhares de trabalhadores que precisam se locomover através do sistema em todo o município de Campos, seja na cidade ou nas áreas mais distantes. Há menos de um mês à frente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), Felipe Quintanilha, sabe dos desafios e já vem fazendo algumas mudanças. Segundo ele, o que está sendo feito “não é uma ‘Brastemp’, mas o feito é melhor que o perfeito”. Além de “vencer as lotadas pelo cansaço”, Quintanilha quer licitar o transporte alternativo até junho.
Milhares de pessoas necessitam de ônibus e vans diariamente para chegar ao trabalho, mas sempre esbarram numa série de transtornos que vão desde a demora, até a precariedade do sistema. Os problemas se concentram mais na Baixada Campista, nas localidades de Espinho, Córrego Fundo, Campo de Areia e Beira do Taí, onde os moradores estão sem nenhum tipo de transporte. O mesmo acontece na área do Imbé e Lagoa de Cima. O Governo Municipal promete melhorar o sistema, mas a população, que tem urgência, está impaciente.
A Leila Borges é moradora de Espinho, na Baixada. Ela conta que está sem nenhum transporte público há 60 dias. O único meio de locomoção tem sido a empresa Brasil que faz a linha intermunicipal, e passa próximo duas vezes ao dia.
— Nós estamos com um abaixo assinado com mais de mil assinaturas solicitando a Prefeitura providências. Não estamos mais suportando ficar assim e tendo que pagar a passagem a R$ 5. O nosso direito de ir e vir está sendo violado, ninguém faz nada por nós. Até quando vamos ter que ficar nessa situação. As filas são enormes, os ônibus vêm lotados, porque não pode deixar de vir porque não tem outro — disse ela.
Felipe Quintanilha garante que o sistema de transporte público será reformulado. Ele reconhece que o atual não atende a demanda da população, mas salientou que vem providenciado soluções. “Não é uma ‘Brastemp’, não é. Só que o feito é melhor que o perfeito (...) O ótimo é inimigo do bom. Hoje não tenho atendimento nenhum em Beira do Taí. E se inicio, na semana que vem, o transporte alternativo, já é algum atendimento que estou colocando lá”, disse.
Quitanilha ressaltou, ainda, que os problemas enfrentados “não são de agora, nem de oito anos atrás”. O sistema, segundo ele, nunca foi reformulado para funcionar. “Ele sempre funcionou com o ‘jeitinho’ e a licitação, quando veio, que era para mudar tudo, isso não aconteceu. Por isso, hoje a população está sofrendo com esse transporte inoperante. Estamos trabalhando para mudar a situação, mas temos que fazer por parte e com cautela”, destacou.
Ainda de acordo com o presidente do IMTT, no caso da Baixada, não foi possível esperar a reformulação. “Tivemos que agir na emergência. Suspendemos as ordens de serviço do Consórcio União e ofertamos ao Consórcio Planície. Isso nós fizemos e estamos com transporte no corredor da RJ 216. Toda a região com divisa com SJB, como Espinho, Córrego Fundo, Campos de Areia e Beira do Taí, estão sem transporte. A meta é dentro de 60 dias dar atendimento a essas comunidades. Estou conversando com o pessoal do transporte alternativo e provavelmente na próxima semana eles iniciam o transporte para lá”, informou.
Outro ponto preocupante e que está sem transporte é a região do Imbé. Muitas pessoas estão sem poder vir à cidade. Estudantes e trabalhadores são obrigados a ficar em casa de parentes por falta de condução.
Felipe Quintanilha informou que os moradores do ABC do Imbé vão ter transporte alternativo. “Colocamos na região do Imbé três vans de forma experimental, rodando vindo de Aleluia, Batatal e Cambucá, passando pela estrada alternativa de Rio Preto até Campos. As cooperativas estão com muita boa vontade e tenho certeza que vamos melhorar isso”, disse ele.
Irregulares segue sob fiscalização
O Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT), em parceria com a Guarda Civil Municipal (GCM) e com o Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro/RJ), vem, ao logo do ano, realizando fiscalizações para coibir o transporte irregular de passageiros em Campos. Felipe Quintanilha garante que vai ganhar a guerra pelo cansaço.
— Pretendo ganhar pelo cansaço. O transporte irregular existe porque tem usuário que utiliza e sabe que é errado. O que nós pretendemos fazer é conscientizar as pessoas a não utilizar. Não vai ser uma tarefa fácil, mas se as pessoas deixarem de utilizar, eles não vão mais circular. As operações acontecem todos os dias em horários e pontos alternados — disse ele.
Licitação para vans até junho
Milhares de usuários utilizam o transporte alternativo. Hoje são 250 permissionários. Muitos deles fazem parte de cooperativas. O número é considerado insuficiente para atender a demanda da cidade. Além disso, o transporte alternativo também é alvo de reclamações. As vans geralmente andam superlotadas e muitas não param para os estudantes ou idosos. Por lei, o transporte alternativo deve dispor 10% dos acentos para a gratuidade, ou seja, apenas dois lugares para idosos e estudantes. O que é insuficiente
— Não consigo nunca pegar uma van na gratuidade. Primeiro porque não param para nós e quando param, dizem que não tem gratuidade. Prefiro pagar a discutir. Essa história de que temos direito não é cumprida. É preciso que se faça uma fiscalização mais rigorosa — disse Carlos Pereira, de 68 anos.
Na tentativa de amenizar o problema, a Prefeitura pretende abrir nova licitação em julho. “Vamos agora reformular o sistema, licitar o transporte alternativo em junho e regular o transporte coletivo. Estamos começando com um projeto em andamento para criar linhas, locais, trajetos e horários do transporte alternativo de maneira não conflitante com transporte regular. Esse é o grande desafio”, informou o presidente do IMTT.
Viviane Fonseca, d
ona de casa
“Estava no ponto de ônibus esperando o Tapera. Fiquei mais de hora. Cansei e vim pegar a van. Aqui tem fila, mas a gente sabe que vai chegar. O transporte público de Campos não tem mais solução, é um desastre”.
Edna Tavares, a
posentada
“Eu prefiro utilizar as vans, porque elas sempre chegam primeiro que o ônibus e é muito mais rápido. Não dá para ficar no ponto esperando os ônibus. A gente nunca sabe quando eles estão para chegar”.
Maria Madalena Pereira, d
oméstica
“Moro no IPS e ônibus aqui só de hora em hora, quando vem. Se não fossem as vans, eu não conseguiria vir ao Centro. É muito chato ficar esperando. Tem que colocar mais ônibus nas linhas”.
Natan Silva, c
omerciário
“Eu utilizou muito o Jóquei/Uenf e é um martírio ter que ficar esperando um ônibus que só passa a cada duas horas. Isso é um absurdo. Se não tem competência, não se estabelece”.
Paulo César Andrade, a
posentado
“Moro no Farol e tivemos dias de cão. Agora melhorou um pouco, mas ainda não é suficiente. Quando não consigo ônibus, pego a van. Mesmo assim, é complicado”.
Ilma da Conceição de Souza, d
oméstica
“Eu costumo pegar o Bonsucesso e é horrível. Fico mais de uma hora no ponto esperando e quando aparece, vem lotado. Quando pego a Van, ela também vem lotada. Precisa melhorar”. 

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