Matheus Berriel
10/03/2018 20:43 - Atualizado em 16/05/2018 18:57
Em meio à intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, a organização de sociedade civil mexicana Segurança, Justiça e Paz divulgou, na última semana, a versão 2018 do ranking anual que aponta as 50 cidades mais violentas do mundo, baseado nas taxas de homicídios a cada 100 mil habitantes. Embora tenha caído 26 posições em relação ao ano passado, Campos segue figurando na lista, agora no 45º lugar. Foram analisadas apenas cidades com mais de 300 mil habitantes. Entre as 17 brasileiras listadas, Campos é a 14º mais violenta. A situação foi analisada por autoridades da segurança pública. Só ontem, mais três pessoas foram assassinadas em Guarus.
O crescimento da violência no interior do Rio de Janeiro vem de muito tempo. Ganhou força principalmente a partir do final de 2008, quando o Governo do Estado começou a implantar o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) na capital. Com o cerco fechado no Rio, muitos criminosos migraram para a região.
No começo de fevereiro, o delegado titular da 134ª Delegacia Policial (DP), do Centro, Geraldo Rangel, e o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Fabiano Souza, divulgaram que houve redução nos índices de violência referentes a homicídio no segundo semestre de 2017. Esta diminuição garantiu à 6ª Área Integrada de Segurança Pública (AISP) o primeiro lugar dentro do Sistema de Metas e Acompanhamento de Resultados (SIM) do Rio de Janeiro, junto às 134ª e 146ª DP’s, esta última de Guarus. Porém, o primeiro trimestre de 2018 está bem violento.
— Eu vi o ranking na imprensa. Não conheço os métodos utilizados para a aferição destes números. O que posso dizer é que os números da minha região, a área da 134ª DP, estão dentro das metas estabelecidas pela Secretaria de Segurança — afirmou o delegado Geraldo Rangel. “Acho que têm que ser avaliados os índices de Guarus, onde não me cabe falar. Reafirmo: os números da região da 134ª DP são bons”, completou.
Na visão do comandante do 8º BPM, Fabiano Souza, a queda de 19ª para 45ª entre as cidades mais violentas do mundo, em um ano, demonstrou, naturalmente, uma evolução na segurança pública em Campos. Porém, mesmo tendo apontado melhorias de 2017 para 2018, o levantamento foi desqualificado pelo tenente-coronel. “Nesse estudo, buscaram outros parâmetros. Pegaram cidades que não tinham nada a ver, onde não é contabilizado como aqui. É furada”, disse.
Apesar de operação, homicídios não param
Como em todo o país, um dos principais fomentadores de homicídios em Campos, segundo as polícias, é o tráfico de drogas. Na manhã da última quinta (8), durante a Operação Caixa de Pandora, as policiais Civil e Militar prenderam Francio da Conceição Batista, de 34 anos, conhecido como Nolita e apontado como chefe do tráfico no conjunto de casas populares do Santa Rosa, também chamado de “Canto do Nolita”. A prisão representa avanço para as polícias, visto que, segundo o delegado titular da 146ª DP, Luís Maurício Armond, Nolita possui 55 citações em registros de ocorrência nas delegacias.
— Como é de conhecimento notório, ele tem um comando sobre um grupo de determinada facção que atua aqui na região de Guarus, em especial no Santa Rosa. E ele gosta de conflitos e não tende a ‘apaziguação’. A forma dele atuar é com crueldade, com assassinato, tortura (...), eliminando qualquer pessoa que houver desavença com os seus interesses. (...) Nós já vínhamos tentando monitorar o seu caminho junto com a PM, e acreditamos que, com a prisão, vai haver redução drástica de homicídios — avaliou no dia da prisão.
Na sexta-feira (09), a Folha tentou falar com Armond para um posicionamento sobre o ranking, mas não obteve êxito.
Extermínio — Só nesse sábado (10), mais três homicídios foram registrados. Os casos ocorreram de novo em bairros com histórico de violência e que a Polícia acreditava ter menos registros de assassinatos após a prisão de Nolita. Não há até o momento qualquer relação das execuções deste sábado com a detenção do suposto chefe do tráfico. Os casos elevam para 47 os homicídios neste ano e para 13 só nos dez primeiros dias de março, uma média de mais de um por dia. Dos assassinatos de 2018, 41 foram na região da 146ª DP, 22 deles nos parques Santa Rosa, Santa Clara, Bandeirantes, Prazeres, Eldorado, Novo Eldorado, Nova Campos, Custodópolis e Codin.
O primeiro homicídio de ontem aconteceu pela manhã, um jovem de 24 anos foi morto a tiros na Estrada do Santa Rosa. Segundo a Polícia Militar, ele teria acabado de deixar a Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro. A vítima não era de Campos. Menos de três horas, por volta das 13h, outro jovem foi morto no Parque São Silvestre. Mais tarde, um homem morreu após ser baleado no Parque São José.
Intervenção Federal em debate na UFF
A rotina de violência em Campos acontece em meio à intervenção federal na Segurança Pública no estado do Rio de Janeiro. A medida será debatida nesta segunda-feira (12) na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Campos. O evento, organizado pela universidade, será aberto ao público e terá uma mesa redonda formada por quatro professores, incluindo o deputado federal Marcelo Freixo (Psol).
Por ser assunto atual e importante para o Estado, os organizadores esperam que os campistas compareçam para tirar as próprias conclusões sobre o tema. Na mesa, estarão presentes ainda o professor da UFF Márcio Malta, o estudante da mesma universidade Rodrigo Pedrosa e a professora Luciane Silva, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).
O objetivo é explicar a intervenção federal, expondo diferentes pontos de vista e detalhando dados como importância, orçamento e participantes. Luciane Silva afirmou que é essencial que haja discussão sobre um assunto.
— Todos estão convidados a participar. Quanto mais pessoas presentes, melhor. Os campistas precisam debater isso porque também é muito importante para a nossa região. O assunto trata da segurança pública do Estado — afirmou Luciane, que também é presidente da presidente da Associação dos Docentes da Uenf (Aduenf).
Para participar do evento, os interessados devem comparecer às 14h, horário de início do debate, no auditório da Universidade Federal Fluminense, que fica localizada na rua José do Patrocínio, no Centro de Campos. O evento é gratuito e não é necessário fazer inscrição.