Matheus Berriel
05/03/2018 19:10 - Atualizado em 08/03/2018 17:45
“Se não fosse sofrido, não seria com o Goytacaz”. A máxima é unânime entre os torcedores alvianis, que amargaram 25 anos na espera do acesso à primeira divisão do Campeonato Estadual. O jejum foi encerrado com o título da Série B1 de 2017, mas o retorno à Série A acabou sendo doloroso, com o clube tendo ficado de fora da Taça Guanabara e da Taça Rio por apenas um gol. Não bastasse o terceiro lugar na Seletiva, insuficiente para a classificação, a campanha no Grupo X começou ruim. Todavia, quando o rebaixamento parecia evidente, o improvável aconteceu. Uma história escrita com trabalho coletivo, dor e até profecia do zagueiro Cleiton, que se lesionou no jogo decisivo, vencido por 1 a 0, e teve que ser substituído por Uirá Marques, herói improvável da permanência na Série A.
Precisando vencer o Resende para não ser rebaixado, o Goytacaz foi obrigado a segurar a ansiedade. Inicialmente marcada para o dia 24 de fevereiro, a partida derradeira teve que ser adiada para o último domingo (4), por conta de irregularidades apontadas pelo Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) no estádio Ary de Oliveira e Souza. Temendo que o jogo mais importante do ano fosse levado para Macaé, como chegou a existir a possibilidade, a torcida do clube da rua do Gás resolveu assumir o protagonismo. Não só apoiou o trabalho iniciado pela diretoria, como colocou a mão na massa e, com um mutirão de reforma e limpeza, garantiu a liberação.
No campo, vários jogadores eram tido como referências. Todos os titulares da decisão — do goleiro Paulo Henrique ao atacante Luquinha, autor do gol do acesso — fizeram parte da campanha na Série B1. O zagueiro Cleiton foi um dos mais importantes, formando uma dupla de zaga absoluta com Edson. Os dois foram escalados contra o Resende, mas Cleiton sofreu um estiramento na panturrilha, no início do segundo tempo, e teve que dar lugar ao também zagueiro Uirá Marques, que chegou ao elenco na pré-temporada, ainda no final de 2017. Pouco utilizado, coube justamente a ele marcar o gol da vitória, de cabeça, aos 37 minutos do segundo tempo, quando quase todas as unhas dos 4.500 torcedores presentes no estádio já haviam sido roídas. Em entrevista após o apito final, o novo ídolo alvianil lembrou-se do amigo, de quem recebeu um conselho profético.
— Sensação magnífica que eu estou sentindo na minha carreira, estar podendo ajudar uma grande equipe do futebol do Rio. Sem dúvida nenhuma, estou muito feliz. O professor Paulo Henrique me lançou na hora certa, e Deus me abençoou com esse gol. Eu imaginava... Imaginei... Quando eu estava na beira do campo, ajoelhei e falei: ‘Deus, se o Senhor for Deus mesmo, eu vou fazer o gol’. Contei também com a ajuda do meu companheiro, o Cleitinho, que me falou para vir da segunda trave para a primeira, porque eu ia fazer o gol. Mérito dele também — contou Uirá Marques, que recebeu cruzamento de Almir no lance do gol.
A história foi confirmada pelo próprio Cleiton. “Saí lesionado e não pude falar muito com ele, dar boa sorte. Mas, ele chegou perto do banco e pedi para ele esperar no segundo pau. Por ser muito alto e muito bom cabeceador, a bola ia chegar nele. Falei que ele não precisava adivinhar onde ela iria. Graças a Deus, ele ouviu o meu conselho e acabou fazendo o gol que nos deu a vaga direta na Série A do ano que vem. Ele está de parabéns”, afirmou.
Durante os minutos finais, Cleiton recebeu tratamento com gelo no banco de reservas. Um dos mais apreensivos, talvez por não poder ajudar, como sempre fez, ele extravasou após o apito final. Até mesmo a lesão ficou em segundo plano: “Deus sabe de todas as coisas. Tive um estiramento na panturrilha, doeu muito. Eu não sou de sair dos jogos. Mas, no final, vi que foi por uma boa causa. O time e a torcida estão de parabéns”.
Entre os torcedores, naturalmente, existiram as provocações ao rival Americano, agora sozinho na segunda divisão estadual. Contudo, entre as demonstrações de idolatria ao grupo de atletas e à comissão técnica, chamou atenção a preocupação dos torcedores com o que acontecerá daqui para frente. Mais ídolo do que nunca, o técnico Paulo Henrique falou em dar continuidade ao trabalho. Para os que acreditam que toda história tem um final feliz, a da ascensão do Goytacaz parece longe de chegar ao fim.