Crítica de cinema - Madalena apóstola
Edgar Vianna de Andrade 19/03/2018 18:09 - Atualizado em 22/03/2018 15:09
Divulgação
(Maria Madalena) -
Mircea Eliade e Max Weber escreveram que o ocidente dessacralizou o mundo. Os fundadores das grandes religiões universais nasceram num mundo sacralizado. Hoje, há grande dificuldade em acreditar em novos líderes religiosos, sempre vistos ou como santos ou como impostores. No mundo sacralizado que existia antes do século XV, era difícil controlar as interpretações sobre doutrinas religiosas. Jesus foi alvo de interpretações as mais diversas. A Igreja teve de eliminá-las com a imposição de dogmas.
Uma das figuras mais polêmicas do Cristianismo é Maria Madalena, apenas Maria da localidade de Magdala. Ela foi prostituta salva por Cristo, é autora de um evangelho não aceito pela Igreja, foi mulher de Jesus, com ele teve filhos, fugiu para a França a fim de salvar-se e a seus filhos. Está retratada na Santa Ceia de Leonardo da Vinci. Essas são algumas das afirmações que pairam em torno dela. Hoje, canonizada, a Igreja a reconhece como uma das mais dedicadas discípulas de Cristo.
É a nova Madalena que o diretor australiano Garth Davis procura retratar no cinema. Outra atitude que não se pode controlar é a interpretação da história. O que Davis faz é reler a vida de Maria Madalena à luz das questões atuais. Ele olha para o passado com a visão feminista e antirracista de hoje. Antes mesmo de conhecer Jesus, Madalena (Rooney Mara) já revelava uma sensibilidade especial, rebelando-se contra a sina das mulheres de serem destinadas ao casamento e à submissão ao marido. Ela não apenas fica fascinada com a pessoa de Jesus (Joaquim Phoenix) como se torna sua apóstola e se volta para a salvação das oprimidas mulheres da Palestina.
Os discípulos de Jesus formam um grupo multirracial. Pedro é negro. Há outros negros no grupo, faltando apenas um oriental (seria demais se houvesse um). A composição racial é mais fidedigna que aquela imposta pela Igreja, na qual todos eram brancos aloirados. Jesus e Madalena são dois brancos claros na composição do grupo. Os discípulos rejeitam sutilmente Madalena entre eles, mas Jesus a aceita sem restrições.
Fortemente marcados pelo judaísmo, os discípulos esperavam que Jesus se tornasse o messias dos judeus, criando um reino de salvação aqui na Terra por meio da guerra. Judas é o mais empenhado deles e parece se sentir traído por não ter seus anseios atendidos. A traição parece nascer dessa frustração. Todos mostram hesitação. Apenas Madalena acredita na boa nova trazida por Jesus.
As roteiristas Philippa Goslett e Helen Edmundson fizeram o dever de casa. Garth Davis não foi feliz na direção. Depois de estar à frente de “Lion - Uma Jornada Para Casa”, filme cotado para o Oscar, ele avança na sua magra filmografia não fazendo jus ao trabalho anterior. Depois da luminosa fotografia de “Lion”, Greig Fraser volta com uma fotografia escura, pouco nítida e anêmica em “Maria Madalena”.
Enfim, o filme não é bom nem ruim. Joaquim Phoenix e Rooney Mara nos papéis principais têm desempenhos medianos. A Jesus falta o magnetismo que lhe era atribuído. A Maria falta nos convencer de que foi a discípula dileta do mestre. Acho que Mateus (o crítico, não o evangelista) não aplaudiria nem sairia do cinema. Foi essa a postura de Edgar.

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