Pudim se diz livre da "política de ódio feita por Garotinho"
Suzy Monteiro 03/02/2018 18:54 - Atualizado em 07/02/2018 15:04
Deputado estadual e por 30 anos um dos mais fiéis integrantes do grupo do ex-governador Garotinho, Geraldo Pudim mostra que não tem medo da mudança. Já definiu que é pré-candidato à Câmara Federal. Afirma que, em Brasília, poderá ajudar mais a cidade de Campos. No final de 2015, rompeu com seu antigo grupo político e se uniu ao dos principais adversários de Garotinho. Atualmente, o MDB vive uma crise institucional, com suas principais lideranças presas. Pudim diz que aqueles que têm problemas na Justiça precisam responder, mas acredita que o MDB, por sua história, conseguirá se reerguer. Analisa que o prefeito Rafael Diniz errou ao não entrar na Prefeitura, em 1o de janeiro de 2017, com o MP, TCE, PF, Câmara dos Vereadores e população. Diz que seu ex-líder político, Garotinho, precisa se tratar e lamenta que o projeto político de seu antigo grupo limite-se, agora, à família.
Rodrigo Silveira
Folha da Manhã – Há alguns dias começou a circular a informação de que você não vai concorrer à reeleição e será candidato a deputado federal. Isso já está definido?
Deputado Geraldo Pudim – Hoje sou pré-candidato a deputado federal. Is-so já está amadurecido, já conversei com as pessoas que precisava conversar acerca dessa nossa pretensão que se funda, especialmente, na interrupção do trabalho que nós fizemos de 2007 a 2010 no Congresso Nacional. À época eu pertencia a um grupo político que tinha um candidato a governador e que às vésperas da eleição resolveu ser candidato a deputado federal e me tirou do processo. E aí vim candidato a deputado estadual numa situação muito difícil, porque o compromisso não era comigo, era com Roberto Henriques. E acabei interrompendo o trabalho que a gente tinha iniciado no Congresso Nacional. Logo a seguir, existia outro compromisso, de que, na eleição subsequente, seríamos candidatos a deputado federal. Novamente, o deputado federal foi ser candidato a governador e colocou a filha como candidata a deputada federal para substitui-lo. Então, em uma eleição foi ele com Feijó (Paulo, deputado federal do PR), em outra foi Clarissa com Feijó. Na segunda eleição há uma coisa que precisa ser observada: embora dissesse na minha propaganda que era o candidato da família, não fui. O candidato deles, que teve o apoio total da máquina pública, que não tive, e da Câmara de Vereadores em sua grande maioria, foi Bruno (Dauaire, deputado estadual pelo PR) por intermédio de quem? De Wladimir, que era quem detinha o controle da Câmara de Vereadores e tinha a Prefeitura praticamente em suas mãos. Então, houve interrupção desse trabalho. Hoje, tenho muita clareza de que este trabalho precisa ser retomado. Terei mais possibilidades de ajudar a cidade de Campos e nossa região, como deputado federal que estadual. Se pegar o trabalho que a gente fez no Congresso Nacional, verá que fiz um brilhante trabalho como deputado federal. Então, já estamos definidos e já comuniquei ao presidente interino do meu partido, o MDB, (deputado federal Marco Antônio Cabral) de que serei candidato a deputado federal. E estamos nos organizando para este enfrentamento eleitoral.
Folha – As próximas eleições serão especialmente difíceis, um grande teste para o Brasil da Lava Jato, em que os eleitores demonstram estar desacreditados da politica. O que fazer para conquistar este eleitor?
Pudim – Quais são os grandes fatos que você pode passar para o eleitor dentro desse emaranhado que estamos vivendo, de prisões, acusações e denúncias envolvendo a classe política? Sou um político ficha limpa. Trinta e dois anos de vida pública e não há um processo que eu responda. Acho que um diferencial no processo político-eleitoral este ano será entre o candidato ficha limpa e o ficha suja. Inclusive trouxe aqui minhas certidões, que demonstram claramente que não respondo a nenhum processo. Ou seja: participei de dois grupos políticos, um que participei está com problemas na Justiça, o que participo hoje também está com problemas judiciais e, no meio, passo eu sem nenhum tipo de restrição sobre minha vida. Segundo, sou um político que tem credibilidade em todas as esferas do poder. Tanto que minha passagem por Brasília em tive acesso ao Executivo, à época a prefeita Rosinha, consegui conduzi-la a 17 ministros. Fiz um trabalho de reaproximação da cidade de Campos, que estava afastada do governo federal. Tiramos, inclusive, a Prefeitura do Cauc (Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias) e ela passou a aferir recursos federais, o que foi muito importante. Também tive grande participação na Câmara Federal. Fui combativo em relação aos royalties do petróleo. Uma questão que considero fundamental e talvez pouca gente saiba, é que consegui, com minha credibilidade, assinaturas de deputados federais suficientes para uma proposta de emenda constitucional, que ia rever o ICMS do petróleo e seus derivados. Ou seja, a Constituição de 1988 exepcionalizou o ICMS do petróleo. Não dá para você fazer exceção. Ou você cobra o ICMS na origem ou no destino. Na Constituição de 88 deram uma tunga no Estado do Rio. Pegaram o ICMS do petróleo, que seria do Rio, e colocaram no destino final. Isso não haveria necessidade nenhuma, se tudo fosse na origem de nós termos royalties de petróleo. Então, eu consegui protocolizar essa Emenda Constitucional através das assinaturas. E por quê? Porque tenho credibilidade. Depois, tive que sair e quem entrou não deu continuidade a esta situação que colocaria fim nessa guerra que existe em torno dos royalties do petróleo. Também, naquele momento, tive credibilidade para propor duas ações de inconstitucionalidade quando tentaram repartir os royalties do petróleo com outros estados. Também tive atenção do Supremo Tribunal Federal (STF), o que ajudou muito a retardar este processo e não perdemos os royalties graças a nossa ação. Então tenho credibilidade e articulação política para estar no Congresso Nacional. Outra questão é importante o eleitor observar é que todas as nossas ações são voltadas para o ser humano, para a família. Uma participação marcante quando passei pelo Congresso foi a CPI de desaparecimento de Crianças e Adolescentes no Brasil. Rodei o Brasil inteiro proporcionando reencontros. E tive a benção de Deus de encontrar uma criança desaparecida aqui em Campos. Era o Serginho. Uma criança em Guarus havia sido raptada. Eu já estava trabalhando na CPI. Liguei para Bel Mesquita, deputada federal de Belém do Pará, que era presidente da Comissão, e ela me deu autonomia para tomar todas as providências, como se presidente da Comissão fosse. Acionei as autoridades competentes e conseguimos localizar o raptor já a caminho do Rio de Janeiro. Devolvemos a criança raptada em Guarus para os pais. Mas junto havia outra criança e, quando o raptor foi preso, Serginho fez um escândalo porque estavam prendendo o pai dele. A gente ficou desconfiado. Serginho foi encaminhado para uma casa de abrigamento de crianças e adolescentes e ali começou-se a fazer um trabalho com assistentes sociais e psicólogas até que conseguiram extrair a verdade: Ele havia sido raptado há cinco anos e veio parar em Campos. E a única referência que ele tinha era do pseudo pai. O cara o explorava, batia, colocava para pedir dinheiro, mas era a referência que ele tinha. Junto com outros membros da CPI, interroguei o cara, que tinha apenas uma cópia da certidão de nascimento do garoto. Achamos a família de Serginho em Alagoas e fizemos o reencontro aqui em Campos. Foi emocionante. Fiz muito trabalho voltado para o ser humano. Quando fui secretário de Serviços Públicos de Campos, criei o café da manhã do servidor, a farmácia do servidor, colocamos dois psicólogos para atenderem ao servidor. Assim como deputado, trouxe, entre outras coisas, a UPA para Campos. Esse é nosso legado.
Folha – Você falou dos dois grupos políticos dos quais participou e outro que participa. Vamos começar pelo atual. O ex-PMDB, hoje MDB, que está à frente do Estado há quase 20 anos, está enfrentando sua pior crise, com seus líderes presos, como o presidente Jorge Picciani, (também presidente da Alerj) e o ex-governador Sérgio Cabral, hoje em Curitiba. Qual o caminho para que o partido se reerguer? Era só tirar o “P”?
Pudim – Não, absolutamente. O PMDB, hoje MDB, tem uma historia de vida com este País. Não se pode pegar uma fração do momento político que estamos vivendo e de todo descaracterizar um partido que tem uma história neste país, no processo da redemocratização, o MDB de Ulisses Guimarães. A gente precisa avaliar o histórico do partido. E o partido é formado por pessoas. Evidentemente, você vai dizer “o MDB tem isso ou aquilo, está envolvido nisso ou naquilo”. E pergunto: qual o partido que não está? Se você for avaliar, todos estão enfrentando problemas na Justiça, com raríssimas e honrosas exceções. E os partidos políticos são compostos por pessoas. Cabe ao eleitor avaliar isso. O ordenamento político brasileiro, em especial o eleitoral, não permite que alguém seja candidato se não estiver abrigado em uma legenda. Eu, particularmente, defendo que o Brasil avance para as candidaturas avulsas. A reforma que o Brasil precisa ter passa por essas que estão sendo discutidas no Congresso Nacional, mas também uma profunda no sistema político-eleitoral. De qualquer forma, as pessoas precisam entender que o partido é feito por pessoas e quem tem problemas com a Justiça que vá tratar com a Justiça. Eu não tenho problemas com a Justiça. Tenho uma história de vida. Vou me apresentar com minhas ideias e propostas. Cada que se apresente. São raras as pessoas que votam em partidos políticos. Votam nas pessoas. Mas, o MDB saberá passar com esta crise, se reerguer e, tenho certeza, que saberemos encontrar o caminho. Churchill (Winston, primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial) dizia que a diferença entre a política e a guerra é que na política é dada a oportunidade de morrer e reviver várias vezes. Que o MDB está passando problemas, é inegável. Mas ele há de se recuperar, se reorganizar porque tem uma história política. É o maior partido deste País, é o maior partido do Estado do Rio. E o que me deixa muito incomodado é que as pessoas estão em um processo muito raivoso. Parece uma briga de torcidas. Não há argumentos que você coloque hoje para falar com os eleitores, com o cidadão que funcione. Muitas vezes você é hostilizado pela sigla que representa, ninguém quer saber das ideias e propostas. Mas o MDB saberá se reerguer. Hoje tem uma candidatura viável, que está sendo discutida no partido, que é a do ex-prefeito Eduardo Paes. Vai acontecer uma migração, que é natural do processo político, uns deixam a sigla, outros chegam. Vamos encontrar o caminho e tenho certeza que o MDB ainda tem uma história com o Rio.
Folha – Você foi para o PDMB antes de essa crise toda estourar. Havia investigações em curso, mas o ex-governador Sérgio Cabral estava solto e nem de longe se imaginava a crise que se instalaria no partido. Em algum momento se arrependeu de ter ido para o PMDB?
Pudim – Em momento nenhum. Volto a dizer: a gente faz política com nossos pares, mas tenho um histórico que é meu. Único, meu e que não me afeta estar no MDB. Como as outras pessoas que estão em outros partidos vão se arrepender de estarem ali? Vai para aonde? Qual o partido que não está com problemas na Justiça? Volto a dizer: é preciso fazer uma reforma política profunda e tenho uma visão muito dura em relação a isso. Quando se tenta judicializar a política dá problema, assim como quando você tenta politizar a Justiça. O Brasil hoje vive um problema seríssimo, onde você encontra uma judicialização exacerbada da política, como existe também influência política na Justiça. Os membros do Supremo. São isentos, mas tiveram indicação política para entrarem lá. A pessoa que cometeu seu erro tem que responder na policia, na Justiça. A questão não é da política. É do político. O pluripartidarismo também é outra questão. Há partido para todo lado. Antes só tinha MDB e Arena, depois MDB e PDS. Qual o político no Rio que não teve sua origem no Brizola (Leonel, ex-governador - 1922/2004)? Alguém pode dizer Sérgio Cabral. Mas ele também teve, porque foi cria de Marcelo Alencar (ex-governador, 1925/2014), que foi cria de Brizola. Então, se Cabral não é “filho”, é “neto”. As pessoas precisam conhecer mais a história. Está havendo uma despolitização da população.
Folha – Apesar de tantos debates em redes sociais?
Pudim - Os debates em redes sociais são rasos, raivosos, ofensivos. Tem se tornado um ambiente muito perigoso. O debate em rede social é saudável, desde que fundamentado. Desde que você esteja aberto a discutir com profundidade. As pessoas às vezes falam de mim, mas nunca tiveram o cuidado de irem em minha página e ler o que está ali. Olha que terreno perigoso estamos vivendo hoje: de um lado Lula, de outro Bolsonaro. Os debates estão acirrados e o Judiciário tem contribuído para isso. Tem um grande amigo meu que diz: “o juiz não está ali para fazer justiça, mas para fazer cumprir a lei”. Uma decisão não pode estar contaminada por uma convicção, mas pelo que diz a lei. As redes sociais tinham um papel fundamental no esclarecimento dos fatos, agora estão dividindo famílias, acabando com amizades de anos. Isso precisa ser rediscutido.
Folha – Você falou em preconceito que sofre por ter participado de um determinado grupo político e de participar de outro. Acha que isso influenciou na sua campanha a prefeito em 2016?
Pudim – Tenho uma coisa muito clara na minha cabeça: Um grande amigo me perguntou, a respeito da eleição de 2004: “Pudim, você tem dúvidas que Garotinho te deu 110 mil votos?”. Disse: “Não. Mas também não tenho dúvidas de que ele deu 130 mil votos a Carlos Alberto Campista”. Digo que não fui vítima de nada. E, com muito carinho e respeito a Rafael Diniz, que hoje é prefeito de Campos, que não tenha dúvida nenhuma que não foi grupo político ou trabalho desenvolvido por ele que deu a ele mais de 150 mil votos. Quem deu mais de 150 mil votos a ele foi Garotinho, com a rejeição monumental que ele tinha. E a população identificou em Rafael a pessoa que era a verdadeira oposição a Garotinho. Então aconteceu este fenômeno que se transformou Rafael, com mais de 150 mil votos em uma eleição de primeiro turno, mas que, na minha experiência política, o grande cabo eleitoral e grande eleitor de Rafael foi o ex-governador Garotinho. As pessoas estavam movidas pelo ódio, por um sentimento de finalização. Não queriam mais e viram em Rafael esta antítese. A pessoa que iria implantar um movo sistema político em Campos. Eu tinha um papel a cumprir. Eu havia rompido com Garotinho no final de 2015. Resolvi tomar meu caminho, ele o caminho dele. Era uma discussão política e não pessoal. Eu precisava demonstrar para as pessoas a ruptura. Me preparei para ser prefeito de Campos e esqueci de me preparar para ser candidato. Construí um projeto para a cidade de Campos. Estudei, mergulhei nisso. Fiz um vídeo em maio do ano da eleição e tudo que Rafael encontrou eu disse neste vídeo. Que a Prefeitura estava no buraco, que o orçamento seria de R$ 1,5 bilhão em 2017, que a dívida total era de R$ 1,2 bilhão, que não era possível fechar as contas por dava quase R$ 1 bilhão de folha de pagamento, de custeio fixo da prefeitura passava de R$ 300 milhões, que não haveria R$ 1 para qualquer tipo de investimento. Então, isso contribuiu para que eu tivesse aquele desempenho que, para mim, não foi eleitoral e sim político. Eu precisava mostrar para a população de Campos que rompi com o grupo político que participava por não mais concordar com as práticas e métodos que vinha utilizando ultimamente. Acho que cumpri este papel político, tive a oportunidade de mostrar que sou um político preparado, que rompi efetivamente com aquele grupo político e agora vida que segue. O próprio Rafael reconhece que o papel que desempenhei na campanha o ajudou e espero que ele possa arrumar a casa para que Campos possa seguir em frente.
Folha – Quando você era candidato, na primeira entrevista que deu aqui, nesta sala, afirmou que, se ganhasse, só entraria na Prefeitura em 1 de janeiro com Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Federal, Tribunal de Contas e com a população diante da situação que você já previa que estaria a Prefeitura de Campos. Acha que isso pode ter faltado a Rafael?
Pudim – Se você me perguntar hoje “onde Rafael errou”, se é que errou? Vou dizer: Errou aí. Na minha humilde concepção, o prefeito Rafael Diniz errou aí. Não tinha cabimento o prefeito, que não teve transição, colocar a mão no governo sem o auxílio dessas forças. Eu faria diferente neste aspecto. Eu entraria com a Polícia Federal, Ministério Público Estadual e Federal, Tribunal de Contas, com a Câmara dos Vereadores e com a população e colocaria as vísceras do que estava pegando para todo mundo ver. Esta seria a transparência que todo mundo precisava ver. Rafael, ao entrar... é corajoso, com uma equipe de jovens corajosa, mas a política é diferente de tudo. A política não é vida normal. Ela tem sua ética própria, sua vida própria, sua natureza própria. E mais: responsabilizaria todos aqueles que concorreram para colocar a prefeitura na situação que está. É aí que acho que houve um erro e que pode custar muito caro, mais à frente, não ter feito isso. O problema que era da ex-prefeita Rosinha passou a ser dele. Hoje, ele tem que ficar dando explicação de porque não consegue pagar RPA, dando explicação de 13 fracionado, porque precisou suspender a passagem social. Matemática é ciência exata. Hoje sou gestor da Alerj e consegui, ao longo de três anos, mais de R$ 500 milhões em economia. Só existe dois caminhos: Ou aumenta a receita ou corta despesas. O caso dele se agravou porque pega um orçamento que teve em 2014 de R$ 3 bilhões e pega a prefeitura em 2017 com R$ 1,5 bilhão. Essa conta não fecha. Era preciso tomar, ali no início, medidas como a gente tomou. Obvio que ele tomou muitas medidas, reduziu muita coisa. Tenho acompanhado. Tomou algumas medidas fundamentais. Mas precisava mostrar isso mais à população. Uma medida política que teria reflexo no administrativo. Se eu tenho R$ 1 mil no bolso, entro no supermercado e saio com R$ 2 mil? Não saio. Aí, está dando essa confusão toda, quando aumenta a taxa de iluminação pública, quando aumenta IPTU, quando corta despesas de programas sociais, tudo tem reflexo político. Tive oportunidade de dizer a Rafael: “prefeito, Brizola me ensinou uma coisa. Quando a política vai mal, vamos na administração. Quando a administração vai mal, vamos na política. Ideal é que os dois estivessem bem. Como a administração de Rafael está com muita dificuldade de se reequilibrar, precisava fazer mais política. E como funciona isso, na minha concepção? Com pessoas que tenham vocação. Então, para mim, o erro de Rafael, se houve erro, foi matricial. Não estou aqui para julgar o governo dele. Ele pode decolar agora e ir em frente. Estarei aqui aplaudindo, estou torcendo para que dê certo. Já me apresentei várias vezes para ajudar, estamos ajudando, estamos em uma parceria importante, mas esse erro pode custar caro lá na frente.
Folha – Já falamos de seu grupo político atual, já falamos do governo municipal. Vamos, agora, um pouco para seu grupo político anterior. Você diz que o rompimento foi apenas político. Você pode pensar assim, mas parece que o outro lado não pensa e até já tentou na Justiça tirar seu mandato. Como está a questão?
Pudim – Foi bom perguntar. Eles perderam no TRE, entraram com Embargos e perderam também por unanimidade. Encerrou-se a fase no TER, agora só no TSE. Fernando Leite diz uma frase que a história a de reconhecer a importância de Garotinho. O papel político de Garotinho. A história a de reconhecer. Trabalhamos muitos anos juntos e não foi só de coisas ruins. Tiveram muitas coisas importantes que foram feitas. Mas, a hora que percebi que o amor foi substituído pelo ódio, na hora em que percebi que o construir e o fazer estavam sendo substituídos pelo destruir, a hora que percebi que militantes foram substituídos por seguidores e que as pessoas não estavam mais atraídas pelo bem que ele podia fazer, mas pelo mal que poderia causar, ali o ciclo se encerrou. E saí. O fato de pedir meu mandato e foi ele quem pediu meu mandato, ele, ninguém mais. Isso demonstra que ele não respeita ninguém, nem uma pessoa que doou 30 anos da vida a ele. É a mesma coisa quando a gente tem um filho, que a gente estimula e acompanha até poder caminhar sozinho. Comigo, ele agiu com ódio. Isso se reveste, talvez, em uma patologia. Não tenho nenhum receio de dizer isso, porque convivi ali 30 anos: ele precisa se tratar. Garotinho precisa rever sua vida do ponto de vista pessoal. Se tratar fisicamente e espiritualmente. Não há mais espaço para ódio, não há mais espaço para rancor. Com esta prática que ele tem, vai chegar aonde? Onde se chega com raiva, com destruição? O ciclo político de Campos encerrou para ele. Aliás, fiz essa proposta a ele, dizendo que nosso ciclo estava se encerrando. A vida é cíclica. Então vamos fazer a transição, porque ela acontecerá. Disse lá atrás. E nós, que temos a Prefeitura - Rosinha era prefeita - vamos decidir se faremos a transição pacífica ou se dará de forma traumática. Vamos conversar com a garotada, emprestar nosso conhecimento. Nós inauguramos o orelhão. Hoje, toda criança tem um smartphone. E passei a ser achincalhado por ele por causa desta proposta.
Folha – Ele garante que se não for candidato ao Governo do Estado não será candidato a nada. E, essa semana, em visita a Campos, a ex-prefeita Rosinha deixou no ar a possibilidade de candidatar-se, em 2020, à Prefeitura de Campos. Especificamente em relação a Campos, você acha também que o ciclo do casal Garotinho já se encerrou? Ou seja, não é o governo difícil que tem sido o de Rafael que os credenciaria a voltarem?
Pudim - Olha, é com tristeza que falo isso para você. O projeto de Garotinho ficou tão restrito, que virou um projeto da família. Ele não apresenta uma pessoa que tenha desenvolvido uma capacidade política importante, que tenha uma viabilidade eleitoral. É só o clã Garotinho.
Então, você vê: se fala em candidatura dele ao Governo do Estado, na candidatura de Wladimir para Câmara Federal, se fala em Clarissa para deputada estadual e agora se fala em Rosinha para prefeita de Campos. Nesses anos todos de vida pública que ele tem, será que ninguém do grupo político que ele participa tem potencial pra ocupar um desses cargos? E que possa avançar num processo de modernização, de renovação da política? A forma de fazer política deles hoje é a mesma de 30 anos atrás. A família não tem credibilidade para parcela da sociedade? Sim. Mas é muito doloroso, depois desse tempo todo, ter como projeto só a família: pai, mãe e os dois filhos.

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