História sob a areia de Grussaí
Jéssica Felipe 03/02/2018 14:43 - Atualizado em 05/02/2018 18:51
Na praia de Grussaí em São João da Barra, um marco histórico, de quase 25 anos, está sendo tomado pela areia. Em frente ao Polo Gastronômico, uma placa de mármore relembra o feito da 8ª Conferência do Rotary Internacional, em 1993, o plantio de mais de duas mil mudas de casuarinas na orla da praia. A ação teve iniciativa do saudoso professor Andral Nunes Tavares (1934-2006), um dos maiores multimídias campistas que era apaixonado pelo distrito sanjoanense. Na tentativa de resgatar a memória do município e valorizar o feito histórico, o professor e especialista em cultura popular, Orávio de Campos Soares, tem trabalhado para a recomposição do mármore. Recentemente, Orávio publicou um artigo no Blog Opiniões, hospedado na Folha 1, contando detalhes da relação afetiva de Andral Tavares com o município e a relação do plantio com a nomenclatura da praia, conhecida como “Praia das casuarinas”. “Há cerca de um ano, fizemos (com o artista plástico Gutovit) uma investida junto à prefeitura, comunicando o fato, mas não sabemos o porquê de não ter sido realizado”.
Foto: Paulo Pinheiro
Para Orávio, o monumento foi coberto pela areia quando a passarela de acessibilidade começou a ser construída no local. “Aquilo que está ali, está ligado à história de Grussaí e São João da Barra, e é importante que esteja num pedestal, com visibilidade, para as pessoas saberem da história do lugar. A placa foi colocada em 1993 e as casuarinas plantadas pelos rotarianos estão lá com, mais ou menos, 10 para 12 metros de altura. O que nos entristece é que a placa de mármore sobre o fato está jogada a esmo quase junto à passarela, com risco de ser sepultada pelas areias de Grussaí”, considera o especialista.
Questionada, a prefeitura informou que uma equipe da Secretaria de Obras esteve no local e avaliou o monumento, colocando como positiva a restauração. Sobre o prazo, o departamento não soube apresentar uma data. “Verificamos e não há nenhum pedido formal sobre a situação. Orientamos que o próprio Rotary o faça. Mas, há o interesse de recuperação por parte da prefeitura”, disse a assessoria.
Para Andral Filho, fica a torcida pela preservação de uma paixão que fez parte da vida do seu pai. “Ele tinha grande preocupação para que essa árvore típica do local não desaparecesse. Era verdadeiramente apaixonado tanto pelo Rotary quanto por Grussaí. Ele sempre achou que o potencial turístico da região era muito grande”.
Membros relembram evento e lamentam
José Elisio Ferrari, 79 anos, ex-integrante do Rotary Clube de Guarus até 2017, relembra com carinho do evento que resultou no plantio. “Eu era rotariano na época e participei desse evento e do plantio de árvores. A Conferência, como todo ano, é sempre escolhida pelo governador do distrito e nesse período o governador era de Campos, do Rotary São Salvador, e escolheu Grussaí. Tinha um marco rotário com uma placa simbolizando o evento, esse marco realmente foi meio que abandonado, e não houve uma conservação, uma pena”.
O Rotary International é uma rede global de líderes comunitários, amigos e vizinhos que atuam na busca por soluções para problemas sociais, entre eles a preservação do meio ambiente. Relembrando o fato, Zenilson Coutinho, ex-presidente do Rotary São Salvador e atual secretário da associação, ressalta que a campanha da instituição esse ano, é a luta pela água e sustentabilidade e que os plantios continuam. “Hoje nós continuamos com esse projeto, fizemos um em novembro e agora estamos planejando outro em Morro do Coco (Campos). Além de estarmos fazendo parte do Conselho Estadual de Recursos Hídricos”.
História da árvore que deu apelido à praia
Apesar da praia de Grussaí ser conhecida como “Praia das Casuarinas”, a planta não é nativa da região. De origem australiana, a árvore monóica hoje se encontra distribuída no mundo todo, principalmente em regiões litorâneas. Segundo o historiador sanjoanense Fernando Antônio Lobato, os primeiros plantios em São João da Barra foram realizados na década de 40, durante o plano Agache.
Donat Alfred Agache foi um arquiteto francês, fundador da Sociedade Francesa de Urbanistas onde atuou como secretário-geral até o período entre guerras. De acordo com o Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU-RJ), em 1927 ele foi convidado para uma série de conferências sobre urbanismo na capital, que resultaram na sua contratação no ano seguinte para elaboração de um plano urbanístico para a cidade.
A partir de 1939, em seu exílio permanente no Rio de Janeiro, atuou como consultor em matéria de urbanismo e elaborou projetos para diversas cidades, entre elas, São João da Barra.

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