A escassez de chuva na região, que já levou 15 municípios a terem situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração, e a dificuldade do produtor rural em manter o gado têm motivado a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Campos, a buscar alternativas. O campus iniciou uma nova pesquisa com o cultivo de sorgo no Norte Fluminense, em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, e tem como intuito estudar a adaptação do sorgo nas condições de solo e clima da região. Um projeto piloto de plantio de sorgo em Campos chegou a ser iniciado pelo governo municipal passado, em 2012, na fazenda Abadia.
A pesquisa já conta com 75 híbridos, sendo 25 de sorgo silageiro, 25 de sorgo biomassa e 25 de sorgo granífero. O foco é utilizá-los na forma de silagem, como suplemento volumoso, para bovinos na época de seca, visando menores custos e melhores resultados.
Segundo os pesquisadores, o sorgo é uma planta de clima quente e sobrevive com quantidades de água reduzidas. Suporta elevada radiação solar e o consumo de água varia de 380 a 600 mm. Além disso, tem grande capacidade de se recuperar após período de seca, mesmo após estágio de murchamento.
O estudo, coordenado pela zootecnista Elizabeth Fonsêca Processi e pelo engenheiro agrônomo William Pereira, aponta, ainda, o sorgo como uma cultura rica em nutrientes, podendo ser comparada ao milho. No entanto, ele tem potencial de produzir mais com menos gastos de água. Pode ainda substituir parcialmente o milho nas rações de aves e, integralmente, na alimentação dos bovinos.
Nos últimos anos, o sorgo tem sido utilizado também no Plantio Direto (PD) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uma estratégia de produção agropecuária que integra diferentes culturas, com o objetivo de aumentar a produtividade de maneira sustentável.
A equipe de pesquisadores é ainda formada pelos engenheiros agrônomos Antônio de Amorim Brandão, Gustavo Cardoso de Oliveira Dias e Tamys Luiz Fernandes, além dos técnicos agrícolas Paulo Henrique Borgati Chrisostomo, Carmindo Afonso Filho e Gilson Alves Barreiras.
Plantio de sorgo já aconteceu em Campos em 2012
O plantio do sorgo em Campos não chega ser grande novidade, já que em 2012, a então secretaria de Agricultura e Pesca, começou a incentivar a produção através do Programa Campos Produz + Etanol. Na época, a semeadura de grãos de sorgo foi feita numa área modelo, com 10 hectares na região de Abadia. Segundo a superintendência de Agricultura e Pecuária, o projeto já estava desativado quando a atual administração assumiu a Prefeitura, mas novas reuniões serão feitas com os setores envolvidos para ver sua viabilidade.
O projeto era desenvolvido através de uma parceria entre a Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan) e visava identificar o produtor interessado no cultivo. A proposta era promover a rotação de cultura, já que quando acaba a safra de cana, em dezembro, é possível semear os grãos do sorgo doce, que tem ciclo de produção de quatro meses, mais curto que o da cana que é de um ano.
O superintendente de Agricultura e Pecuária, Nildo Cardoso, explicou que diversos programas paralisados ainda na antiga gestão foram resgatados, entre eles, o Mais Frango, que já se encontra em seu terceiro ciclo; e o Mais Leite, que incetiva a produção leiteira e que, atualmente, produz mais de 15 mil litros somente na área Norte de Campos. Outra proposta da pasta é retomar um antigo projeto de melhoramento genético dos rebanhos, com inseminação artificial, para aumentar a produtividade de leite. Desde o início da atual gestão, o secretário vem se reunindo com diferentes segmentos (empresarial, acadêmico, produtores) do setor para que possam ser desenvolvidos projetos, de acordo com a viabilidade econômica e vocação de cada região do município.
— Estamos dialogando com diferentes segmentos e, através da Agricultura, contribuímos para movimentar a economia do município. Já viabilizamos ações que vem contribuindo para fomentar o setor, através de parceria com o deputado André Corrêa e a secretaria estadual do Ambiente, possibilitando que máquinas viessem para Campos para a limpeza dos canais urbanos. Além disso, demos condições aos pequenos produtores de preparar o solo para o plantio, favorecendo assim a colheita de diferentes produtos. Este ano, vamos avançar ainda mais e, a partir do que os setores nos apresentarem, estaremos viabilizando novos projetos — destacou Nildo.
Planta é vista como o cultivo mais apropriado para a região
Seja para alimentar o gado ou para a produção de etanol, o sorgo é visto como o cultivo mais apropriado às questões climáticas da região. Das 18 cidades que compõem Norte e Noroeste Fluminense, 15 já tiveram sua situação emergência homologada, o que permite as estes municípios alocarem menos burocraticamente recursos disponibilizados pelos governos estadual e federal. Os produtores rurais também têm acesso a financiamentos diferenciados.
Para decretar Situação de Emergência, é necessário atender a Instrução Normativa nº. 02, de 20 de dezembro de 2016, do Ministério da Integração Nacional. Nela, são estabelecidos procedimentos e critérios que norteiam municípios, estados e a União na avaliação dos dados coletados pelos órgãos envolvidos.
Em Campos, segundo a superintendência de Agricultura e Pecuária, “o levantamento realizado no município não alcançaram os parâmetros estabelecidos pela instrução normativa, segundo parecer técnico, que é o instrumento legal, baseado no que determina o Ministério da Integração Nacional. Em contrapartida, todas as medidas que se fazem necessárias para minimizar os efeitos da estiagem foram realizadas pelos órgãos municipais no ano passado. As chuvas deste ano, também, vem contribuindo para minimizar os efeitos da estiagem”.