Aldir Sales
27/01/2018 18:26 - Atualizado em 30/01/2018 16:50
Filho do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e deputado federal pelo mesmo partido, Marco Antônio Cabral esteve em Campos e em outras cidades do Norte e Noroeste entre os dias 18 e 19 de janeiro. O político não fugiu das perguntas quando o assunto foi seu pai e afirmou que ele vem sendo o “para-raio” quando o assunto é corrupção, no entanto, Marco Antônio diz que quando seu progenitor saiu do Governo, o Estado pagava em dia. O parlamentar ainda classificou como “patológico” o “desespero” do também ex-governador Anthony Garotinho por Sérgio Cabral. O jovem político, de 26 anos, também comentou que vê um futuro promissor no campo econômico para a região, com o aquecimento da indústria do petróleo e os investimentos do Porto do Açu, em São João da Barra.
Folha da Manhã - Qual o motivo da sua visita a Campos?
Marco Antônio Cabral - Estamos visitando toda a região pela sexta, sétima vez já durante esse mandato. São regiões que sempre visito. A gente está buscando parcerias para trazer melhorias para a região. Como fui secretário estadual de Esportes, fizemos muita coisa na região, academia da terceira idade, núcleos esportivos, mais até na região Noroeste. Mas estamos com pedidos de amigos da Baixada Campista para levarmos mais serviços do Estado e federais. Estamos tentando trazer o Detran, a Fundação Leão XIII para fazer esses serviços e ações aqui na região da Baixada Campista. Além disso, conversar com os prefeitos para saber quais são as maiores demandas a nível federal, de que forma eu posso ajudar lá de Brasília. Colocamos também emendas parlamentares aqui para a região que começam a ser pagas neste ano. Sempre buscamos fortalecer o Norte e Noroeste, que são regiões que precisam de atenção do Poder Público. É uma visita de rotina, como a gente vem fazendo nos últimos três anos de mandato.
Folha - Você esteve com o prefeito Rafael Diniz (PPS) aqui em Campos?
Marco Antônio - Estive em Brasília duas vezes com o prefeito Rafael. Ele vem buscando emendas, o apoio dos deputados federais e dos ministérios. É um prefeito que tenho visto ser atuante em Brasília, nas conversas com os deputados federais, enfim, na defesa do município de Campos. Pelos contatos que tive com ele, demonstrou ser um prefeito atuante para tentar buscar recursos aqui para a cidade em meio à crise.
Folha - Você falou da cidade, da dificuldade. Rafael é um prefeito que tem falado bastante sobre a dificuldade de gerir a cidade. A região como um todo sofreu bastante com a crise do petróleo também. Agora vem um período de esperança com a retomada de investimentos no setor do petróleo, crescimento do Porto do Açu. Como você tem acompanhado e pode ajudar no desenvolvimento da região?
Marco Antônio - O Porto do Açu, eu me lembro que quando o governador Sérgio Cabral lá atrás idealizou e apoio a vinda do Porto do Açu, muitos criticaram, falaram que era um projeto megalomaníaco, que não iria dar certo. E hoje a gente vê, nem é o mesmo dono, que é um projeto fundamental para a região. Um projeto que, sem ele, não teria a empregabilidade, a vinda de indústrias e fábricas que virão ainda mais aqui para a região por conta do Porto do Açu. Então, vejo com muito otimismo. Estive ontem (17/01) com o governador Pezão e acredito que o Estado comece a retomar seu calendário de pagamentos, os investimentos. As próprias cidades, como você falou da recuperação do petróleo, vão começar a ter uma maior receita. Eu acredito muito na questão da geração de emprego vinculada à questão da Educação, com cursos técnicos profissionalizantes, centro de vocações tecnológicas, e também desenvolvimento social, que acompanha o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. Nessa região aqui, acredito que a cidade de Campos, infelizmente, se for comparar com Macaé, por exemplo, perdeu muito nos últimos anos, possibilidades de geração de emprego, de trazer indústrias. Enquanto Macaé aproveitou, no bom sentido da palavra, muito mais a indústria do petróleo do que Campos. Basta você olhar o Porto de Macaé, os investimentos que foram feitos. Acredito que Campos começa, agora, ter essa retomada para, com certeza, melhorar a economia.
Folha - A perda de royalties foi substancial e abrupta não só para os municípios, como também para o Estado, o que gerou toda essa crise. Com tudo isso, você acha que os municípios e o Estado precisam aprender a gerir melhor esse dinheiro?
Marco Antônio - O Governo do Rio coloca o pagamento dos royalties do petróleo, pelo menos enquanto eu acompanhava mais de perto, até 2014, os recursos eram carimbados. Ia para pagar a Previdência do Estado e uma parte, se não me engano, ia para o Fecam, que é o Fundo do Meio Ambiente. Acho que a melhor forma de você usar os recursos dos royalties é carimbando ele para despesas. Que sejam despesas certas que você sabe que vai ter independente do mês, do ano. Você carimba o recurso e paga. O excedente coloca na lei de aplicações, como você vai gerir, se vai dar X por cento para a Educação, para a Saúde. Acho que essa é a melhor forma. E por qual motivo a Previdência do Estado entrou em colapso? Por outros motivos. Primeiro que o Rio é um estado que tem uma Previdência muito inchada em relação aos outros estados. Por ter sido capital, por uma fusão má feita entre o estado do Rio e o estado da Guanabara. Se você pegar o número de inativos e ativos, é uma coisa muito desconexa. Em nenhum estado brasileiro existe isso. E a segunda foi a crise do petróleo mesmo. Se pagava a Previdência antes e começou a tirar dinheiro do caixa do Estado para pagar a Previdência. O Estado do Rio gere bem os recursos dos royalties. Não posso falar pelos municípios porque são muitos que recebem os royalties e não acompanho a execução desses recursos. Acho que essa é a melhor forma, através de uma lei municipal, estadual.
Folha - O Estado vem sofrendo com a maior crise da sua história, com servidores, aposentados e fornecedores sem receber, retração econômica e avanço indiscriminado da violência. Como o Governo do Estado pode começar a caminhar para resolver essa situação? Qual a sua opinião sobre o acordo de recuperação fiscal assinado por Pezão e o presidente Michel Temer?
Marco Antônio - Acho que o acordo foi bem feito, o governador atuou bem. O secretário de Estado de Fazenda, Gustavo Barbosa, é muito bom. Ele tem atuado de forma muito firme e muito séria na questão do controle, principalmente na negociação com os bancos, desses R$ 2,9 bilhões que vieram do empréstimo. Tem sido um secretário muito competente e muito trabalhador, enfim, sendo duro no que precisa ser. O secretário de Fazenda tem que ser duro, tem que dizer não, tem que fazer o papel dele. E, acredito que a questão da crise, adianto para você, infelizmente, de forma rasa, e, vamos dizer assim, “fácil”, muitos têm a visão hoje e propagam que “o governador Sérgio Cabral quebrou o Estado”, “o governador Sérgio Cabral fez a crise acontecer”. Se você pegar os números e os dados, que não mentem... O jornal O Globo levantou, há pouco tempo, toda a questão fiscal do Rio até 2016. Em 2014, o estado do Rio era o primeiro no ranking na questão fiscal e no bom uso do dinheiro público. De forma oportunista politicamente, mesmo, jogaram no meu pai essa questão da crise. Meu pai saiu em abril de 2014, pagando em dia, sendo o único governador da história que pagava até o quinto dia útil do mês, o servidor lembra disso, lembra como era tratado no governo Sérgio Cabral. E a partir de 2016, dois anos depois da saída do governador Sérgio Cabral, a crise começou a fazer com que o servidor do Estado deixasse de receber em dia. Não estou falando aqui que a culpa é do Pezão, claro que é um conjunto de fatores, mas uma certeza eu tenho: a culpa não é do ex-governador Sérgio Cabral. Está provado por números, dados, que o estado do Rio ganhou grau de investimento, até mesmo antes do Brasil. Um estado que faz maquiagem nas suas contas, não ganha grau de investimento de duas agências internacionais de risco. Isso tem que ficar claro.
Folha - Você acha que é uma culpa compartilhada ao longo do tempo?
Marco Antônio - Não é culpa compartilhada. Foi uma circunstância. Por exemplo, o Rio é o estado que mais tem aparelhos federais. Com a crise federal aguda, você tem no Rio diversos hospitais federais, faculdades federais, institutos federais, a Petrobras é no Rio. Se teve a questão dos royalties, a indústria automobilística que foi feita no governo Sérgio Cabral, de trazer muita indústria automobilística para o estado, e que sofreu com uma crise aguda. Foi uma série de fatores que levou a essa crise. Mas de forma “fácil” e enganosa jogar a culpa, como algumas pessoas tentaram fazer. Até hoje nem tanto, formadores de opinião viram que não tem fundamento você jogar a culpa no ex-governador Sérgio Cabral. Mas eu sou obrigado a falar. Já entrando na questão do ex-governador, ele publicamente pediu desculpas. A questão do uso pessoal de caixa dois eleitoral, é algo que, infelizmente, já existia no Brasil durante anos e anos. Meu pai está pagando por algo que já existia na política, não foi ele que inventou o caixa dois. Ele já assumiu isso publicamente. E aí fica de um lado o Ministério Público querendo de qualquer forma colocar como se fosse propina, quando que nem os próprios delatores falaram em superfaturamento. Falaram em propina porque querem se livrar da cadeia e precisam falar o que o Ministério Público quer ouvir. Não tem uma prova, não tem nada. O que houve foi a questão do caixa dois que foi um erro cometido, que foi falado, foi pedido desculpa. E o Estado foi deixado em 2014, volto a falar, com dinheiro em caixa, pagando em dia, com estabilidade. Lembro que no início, quando as pessoas começaram a falar em crise no Estado do Rio, o ex-secretário de Fazenda Sérgio Rui Barbosa, em fevereiro de 2015, já anunciava que lá na frente poderia acontecer. Dois anos depois começa e a culpa é do Cabral? Hoje em dia é fácil colocar a culpa no Cabral, mas não é essa a realidade. Não foi isso que aconteceu.
Folha - Seu pai, o ex-governador Sérgio Cabral, já foi condenado há mais de 87 anos de prisão em quatro processos dos desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro e é réu em outras ações que ainda serão julgadas pelo juiz Marcelo Bretas. Como você e a família têm reagido a essas decisões da Justiça? Vocês acreditam na inocência do seu pai e na reversão das sentenças nas instâncias superiores?
Marco Antônio - O que eu quero é que haja justiça. Hoje em dia, infelizmente, quando algum juiz aplica a lei é criticado. Falam que está protegendo “A” ou “B”. Na minha opinião, completamente exagerada a questão das condenações. Fora de qualquer padrão de decisões que tenham os mesmos crimes ou acusações envolvidas. Achei exagerado. Fiquei perplexo com as condenações. Na minha opinião e na opinião da defesa, ele (Marcelo Bretas) é um juiz parcial, tanto que a defesa entrou com um pedido de suspeição alegando isso. Também há toda uma questão de exploração de imagem, uma questão de exagero, mesmo, envolvendo qualquer assunto que ligue ao nome Sérgio Cabral. E a defesa está convicta que, não em todos, porque meu próprio pai admitiu o erro do caixa dois, que é crime, e pediu desculpas por isso, mas há diversas coisas que a defesa acredita na absolvição por falta de provas, falta de culpabilidade, falta de elementos que comprovem qualquer coisa e mentiras deslavadas que ocorreram no meio desse processo todo. O fatiamento das denúncias, não existe 20 denúncias, isso é uma loucura completa. Claro que a Justiça faz seu papel, o Ministério Público faz seu papel, só que hoje, infelizmente, aparece muito mais a versão deles do que da defesa. Não tem a mesma igualdade de visibilidade. Há um ano que a acusação tem mais visibilidade do que a defesa. Mas isso começa a mudar um pouco, as pessoas começam a criticar esses exageros todos. Acho que as pessoas começam a enxergar que nem tudo é verdade o que a acusação diz.
Folha - Em outra oportunidade você disse que Marcelo Bretas “julga com ódio e rancor”. Por qual motivo você diz isso? Qual a sua opinião do protagonismo cada vez maior do Judiciário e do Ministério Público diante da política brasileira?
Marco Antônio - Respeito o trabalho do judiciário e do Ministério Público, mas o que não pode haver é a criminalização da atividade política. Vivemos em um país democrático em que as pessoas vão às urnas e elegem os seus representantes. Eu venho aqui na região saber os problemas. Este papel é do político e deve ser respeitado. Quando uma pessoa tem um problema e não consegue uma resolução rápida, ela procura o vereador mais próximo da casa dela, ela procura a prefeitura. E são pessoas que foram eleitas. Não estou aqui dizendo que concurso não é importante, tem que haver, sim, mas o voto é muito importante. O voto, na minha opinião, é o mais importante na República. Vivemos em uma democracia, vivemos em um país onde as pessoas são senadores, deputados federais, deputados estaduais não por concurso públicos, eles têm mandato. O que não pode haver é a criminalização que afasta as pessoas de bem da política. Afasta os jovens, afasta as pessoas que querem fazer política ficam afastadas porque não querem entrar. A pessoa que vai assumir uma prefeitura, independente de fazer um bom ou mau governo, vai responder a 20 processos ao longo da vida. Então é por aí, acho que não pode ter a criminalização da política.
Sobre Garotinho: “é patológico”
Folha - Qual a sua opinião sobre a decisão dos juízes Sérgio Moro e Caroline Vieira que determinaram a transferência de Sérgio Cabral para Curitiba? Existia regalias a ele em Benfica? O MPF diz que houve visitas irregulares suas a seu pai. Qual seu posicionamento?
Marco Antônio - A decisão é recheada de ilegalidades, arbitrariedades e descumpre decisão anterior do STF. Não poderia ter sido dada pelo Juiz Sérgio Moro por uma questão de competência. Não tivemos direito a apresentar nenhuma defesa e a transferência inviabiliza a defesa do ex-governador, pois ele tem 19 processos penais no Rio e mais uma série de processos no âmbito cível. Quanto às regalias, o que ocorreu foi um festival de mentiras do Ministério Público. Sérgio Cabral nunca gozou de regalias em Benfica. A sua comida é igual a de todos os outros presos de ensino superior, onde as famílias após a visita deixam a sobra da comida para os presos. A questão da videoteca, o ex-governador não tinha nada a ver com isso, os pastores que fizeram a doação apenas usaram a biblioteca que Cabral era responsável para assinar os termos de doação, a pessoa que comprou a TV disse em depoimento que jamais esteve ou houve qualquer pedido por parte de Cabral. A questão de Cabral andar na prisão é porque ele está classificado e por isso pode circular e, mesmo assim, só o fazia quando o chamavam para realizar alguma tarefa. Enfim, é um espetáculo que o Ministério Público criou para aparecer e mostrar serviço. Hoje, há uma disputa para quem aparece mais, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal, que acusam a todo momento não só Cabral, mas milhares de pessoas em todo o Brasil que são injustiçadas diariamente.
Folha - A operação Lava Jato ganhou grande apoio popular por causa da ideia de “passar o país a limpo”. Demonstra, na prática, o desgaste da política tradicional e do modelo estabelecido nos últimos anos com relações questionáveis entre políticos e empresários. Como fazer para mudar este quadro de descrença política?
Marco Antônio - A operação Lava Jato teve a sua importância. O que quero deixar claro é o seguinte: não pode haver criminalização da política. Eu acredito que o Brasil, em vez de ir por um caminho de transparência, ele está indo por um caminho de obscuridade. Criticam a relação dos empresários com os políticos só que não existe uma lei do lobby no Brasil, que daria transparência a essas relações. Empresário não pode doar para uma campanha eleitoral senão ele é taxado disso ou daquilo, com o político é a mesma coisa. Acho que o melhor modelo é o americano, onde o eleitor sabe que o candidato “A” recebe dinheiro dos sindicatos, então ele vai proteger os sindicatos; o candidato “B” recebe recursos da indústria agropecuária, então ele vai defender os interesses da indústria agropecuária; o candidato “C” defende os candidatos de mídia, e por aí vai. E outro recebe de um banco, e outro não recebem de ninguém. É uma coisa transparente. Claro que acho que deve ter limites para valor, pode ter limite, por exemplo, o prefeito aqui de Campos, a empresa pode doar só para um candidato. Existe uma série de limites que podem ser colocados. Mas proibir tudo, na minha opinião, não resolve nada. O empresário vai continuar querendo influir na política, como acontece há 300 anos. Vivemos em um país capitalista. É o empresário que gera imposto, que gera trabalho. Acho que a gente tem que desamarrar essas hipocrisias do Brasil e trazer mais para a transparência.
Folha - No início da operação Lava Jato o protagonismo estava Curitiba e, aos poucos, o olho do furacão se mudou para o estado do Rio de Janeiro, onde as investigações apontaram diversos esquemas de corrupção no Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas e outros órgãos. Como você tem visto as denúncias contra a cúpula do PMDB no Rio que levaram à prisão pessoas importantes como os ex-presidentes da Alerj, Jorge Picciani e Paulo Melo, além do deputado estadual Edson Albertassi? Qual a relação que você tinha ou tem com eles?
Marco Antônio - Primeiro, não entendo até hoje o motivo pelo qual dessa questão da Lava Jato não ter se expandido para outros estados, como lá atrás falaram que seria feito, e ter ficado aqui no Rio. Não sei se é uma questão pelo Rio de Janeiro ser o estado que tem o nome mais forte do Brasil, junto com São Paulo. Talvez seja o estado que tenha o nome mais popular. Acho que existiram diversas ilegalidades no processo, na questão do Paulo Melo, do Albertassi e Picciani, e inclusive do meu pai. A luz da lei, o que é a prisão preventiva? Nenhum dos quatro preenche os requisitos para estar em prisão preventiva. Acho um absurdo. A prisão preventiva virou, não só na Lava Jato, mas em diversos outros crimes, a porta de entrada. Você tem diversos casos de pessoas que estão vários meses e até anos presas sem um julgamento. Você tem casos da Lava Jato de pessoas que foram presas e depois absolvidas. Como é que essa pessoa vai arrumar um trabalho? Como é que essa pessoa vai olhar a família dela? Como essa pessoa vai se comportar tendo sua imagem estraçalhada na mídia e depois absolvida? Mas isso não dá nenhuma manchete. A pessoa fica numa situação muito constrangedora. As prisões são questões que viraram muito banais, espetacularizada e isso não é bom. O que é bom é o julgamento justo, é o julgamento que a pessoa tem a oportunidade de se defender. Se ela for condenada em segunda instância, tudo bem, vamos colocar em regime fechado, se for o caso. Não colocar em regime fechado para depois ver se é culpado ou não. Isso vale para qualquer classe social, para qualquer tipo de crime. Seja traficantezinho de drogas ou o mega traficante, estelionatário ou colarinho branco. Acho que isso tem que se inverter no Brasil.
O que tenho de leitura sobre a Lava Jato é que na cabeça das pessoas começaram a prender pessoas importantes, mas cometendo as mesmas injustiças legais que faziam com o cidadão comum. Por exemplo, a prisão da mulher do meu pai, a ex-primeira-dama (Adriana Ancelmo). Num primeiro momento, está lá na lei que ela pode ficar em casa por ter um filho menor. Aí o desembargador chega e diz: “não, várias mães estão na mesma situação, então ela tem que ficar presa”. Então deveria ser ao contrário. Se tem várias mães nesta situação, então que se solte todas. Em vez de ampliar o que é injusto, vamos fazer o contrário. Não sou advogado criminal, não sou expert no assunto, mas venho estudando. É um completo absurdo porque hoje não se respeita o Código de Processo Penal, a verdade é essa. Está lá o que é prisão preventiva. Tem que tentar fugir do país, coagir testemunha, ocultar prova e se não fizer nada disso, não tem motivo para ficar preso até o final do julgamento.
Folha - O ex-governador Anthony Garotinho (PR), já condenado em primeira instância por compra de votos e investigado em diversos outros processos por corrupção, vem afirmando insistentemente que “a perseguição” que ele tem sofrido se deve, entre outras pessoas, a uma suposta vingança do seu pai contra ele por causa de denúncias feitas em seu blog. Garotinho, inclusive, diz que Sérgio Cabral teria dito que “iria fazer xixi em sua sepultura”. Como vocês reagem a essas denúncias? Pretendem processar o ex-governador?
Marco Antônio - A população toda acompanhou a forma como esse cidadão se comportou ao ser preso na primeira vez e ao ser preso por último. Não tenho que comentar nada sobre ele ou sobre a vida dele. Acho lamentáveis essas declarações. São declarações de alguém que está desesperado, não sei o motivo e nem quero saber quais são os processos dele, que ele deve à Justiça. Ele tem, com certeza, uma questão de psicopatia com o meu pai, isso é uma coisa certa. É psicopatia. Desde quando meu pai era governador, depois quando saiu do governo e ele nunca deixou de falar do meu pai. É um negócio patológico. Na minha opinião é um desespero dele e a população viu como ele se comportou, com aquela falta de dignidade, falta de hombridade. Não no sentido machista da palavra, mas de saber se comportar, tanto no momento da ascensão, quanto no momento da queda. Acho que um homem tem que saber se comportar, tem que saber se portar. Basta ver os vídeos, as cenas na maluquice de agressão, pulando de ambulância. Realmente, não tem muito o que comentar. A população viu.
Folha - Você reassumiu o mandato como deputado federal depois de deixar a secretaria estadual de Esportes do governo Pezão. Você falou que tem acompanhado o governador, mas sente algum certo abandono do PMDB a você ou a seu pai neste momento?
Marco Antônio - Não. Eu acredito que o PMDB seja um partido maior do que qualquer questão. O PMDB nasceu na década de 1970 com grandes figuras que retornaram com a democracia para o Brasil e agora voltou a se chamar MDB. Eu sou o presidente estadual interino do partido. O PMDB é um partido que fez grandes serviços ao estado do Rio de Janeiro, com o prefeito Eduardo Paes na capital, outros prefeitos no interior, o governador Sérgio Cabral. Foi e é um partido muito importante para o estado do Rio, com grandes serviços para o interior, principalmente. Acho que o partido tem tudo para, não vou dizer que dar a volta por cima, mas passar essa tempestade e, mais à frente, sim, dar a volta por cima e se reestabelecer. É o maior partido do Brasil. Tenho certeza de que o presidente Michel Temer está fazendo um ótimo governo e vai aumentar sua popularidade com o tempo, ele vai conseguir trazer investimentos. Ele fez a reforma do Ensino Médio, fez a reforma Trabalhista, vai aprovar a reforma da Previdência, vai aprovar a reforma Tributária, são reformas fundamentais para o Brasil voltar a gerar emprego. Acredito muito nesse governo do PMDB.
Folha - Mas você não sente uma certa falta de apoio público de algumas pessoas do PMDB neste momento do seu pai?
Marco Antônio - Não acho, não acho. É claro que neste momento, com toda questão que envolveu o meu pai, eu estou até prestes a ser pai também agora em março, mas, por uma questão de destino, tive que assumir toda a família, meus irmãos menores de idade, responsabilidade toda. Até do ponto de vista pessoal, não político, mas pessoal, se tem frustrações e surpresas positivas. Mas do ponto de vista político, eu, particularmente, não tenho nada do que reclamar. As pessoas que sempre me dei na política, deputados estaduais, deputados federais, governador, secretários, senadores, sempre foram solidários quando estiveram comigo, sempre me deram palavras de força. Não tenho do que reclamar. Claro que você tem surpresas negativas, mas positivas também. Até mais no ponto de vista de amigos, mesmo, do que no político. Tenho sido bem recebido por onde vou, as pessoas respeitam meu trabalho como secretário e como parlamentar. Nunca abandonando os locais onde estive. Fui reconhecido em 2014 e devo satisfação à população.
Folha - Você já disse em outra oportunidade que é pré-candidato à reeleição como deputado federal. A posição está mantida? Se sim, não teme que os episódios envolvendo seu pai possam atrapalhar sua possível candidatura?
Marco Antônio - Primeiro, está mantida. Eu sou candidato a reeleição, isso é fato. Eu amo fazer política, eu gosto de fazer política, eu amo ser deputado federal, eu amo fazer pelas pessoas, trabalhar, eu sonho com um estado do Rio mais desenvolvido, com um interior muito mais desenvolvido do que ele é. Se pegar um interior de São Paulo, de outros estados, muito mais desenvolvidos. A gente precisa melhorar muito o nosso interior, trazer muito mais emprego, muito mais desenvolvimento econômico e social, educação, habitação, saúde de qualidade para a população. Então, esse é o meu tesão de vida e o que eu gosto, realmente, de fazer. Não estou só na política, sou advogado, me formei. O caminho mais fácil seria não vir como candidato e, talvez, fazer um empreendimento no ramo do Direito ou de qualquer outro ramo. Quero ser candidato porque gosto e acredito que fiz um bom trabalho. Em relação a questão do meu pai, primeiro, não falo isso constrangido e nem com nenhuma pretensão, mas ele foi o governador que mais fez pelo estado do Rio de Janeiro na Saúde, Educação, desenvolvimento econômico. O programa Somando Forças fez obras no interior inteiro do estado. Você não passa por uma rodovia estadual que não foi criada ou refeita na gestão Sérgio Cabral, tem mais de 50 UPAs 24 horas, várias clínicas de atendimento, sete hospitais de referência, o salto que foi dado no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o fim das indicações políticas na Educação, na Saúde. Tivemos avanços importantes na área da Segurança Pública, o estado do Rio ganhou vários prêmios no setor de meio ambiente, foi criado o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), que é referência. Trouxe muitas indústrias, muitas fábricas nesta época. No Grande Rio criou o Bilhete Único, a SuperVia saltou para 1 milhão de passageiros por dia, todos os trens com ar condicionado, a linha de metrô até a Barra da Tijuca, enfim. Se eu foi ficar falando aqui, vai demorar o dia inteiro. Não tenho nenhum constrangimento em falar isso. Eu, Marco Antônio, tenho orgulho desses acertos, mas aprendi com os acertos e com os erros do meu pai, como qualquer ser humano. Tudo o que estamos passando é um grande aprendizado e peço que as pessoas, durante este ano, avaliem o Marco Antônio Cabral. O Marco Antônio que aprendeu com os erros e acertos do seu pai e de outros políticos. Eu sou o Marco Antônio Cabral, respondo pelo meu CPF, pelos meus atos. E, assim como tenho certeza, leitores da Folha da Manhã, que podem ter familiares ou mesmo amigos que tiveram problemas com a Justiça, seja ele qual for, uma pensão alimentícia ou qualquer outro problema, e também podem ter sofrido pré-julgamentos e preconceitos. O que eu peço é que as pessoas tenham essa isenção quando forem me avaliar. Assim como filhos de outros políticos também ou, talvez, pode ter um médico que teve um problema grave e o filho dele seja um excelente médico e não tem nada a ver com isso. Queria que ficasse a avaliação nesse sentido, até porque você não pode pegar um fato isolado e jogar para o outro. Isso é pré-julgamento, é preconceito, não pode acontecer. Isso que eu vou propagar. E vou propagar o que eu fiz no meu mandato. Já apresentei mais de 40 projetos de lei, apresentei emendas para mais de 30 cidades do estado, consegui como secretário de Esportes fazer vários campos, quadras, academias da terceira idade, núcleos esportivos espalhados por todo o estado, enfim, é isso que vou propagar.