Aldir Sales
23/01/2018 22:34 - Atualizado em 24/01/2018 17:58
O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, está marcado para esta quarta-feira, mas, desde esta terça-feira, o clima de apreensão tomou conta da capital gaúcha e se tornou um dos principais assuntos do dia no país. Condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, o petista desperta sentimentos que vão do amor ao ódio em milhões de brasileiros. Em Campos, políticos locais divergem de opinião sobre o processo que pode levar à cadeia um dos líderes mais populares da história do Brasil.
De acordo com o presidente do diretório municipal do PT, o petroleiro Rafael Crespo, cerca de 130 pessoas saíram da região para acompanhar o julgamento em Porto Alegre. “Não vai ser um julgamento fácil, mas o que vemos é que não conseguiram provar nada, não há nenhuma comprovação de que o triplex seja do Lula. É um absurdo. O que vemos é o judiciário se adiantando ao julgamento. Independente do resultado, o Lula será o candidato do PT para a presidência da República. Mas esse não é um julgamento técnico, é político. Tudo leva a crer que ele será condenado pelo TRF, que não é um tribunal isento. Mas temos certeza de que a história vai absolver o Lula”, declarou Rafael.
Por outro lado, o vereador e crítico do ex-presidente, Genásio (PSC), o julgamento do ex-presidente tem que servir como exemplo. “A justiça está sendo feita, o Brasil está sendo passado a limpo. Nós que somos pautados na ética e nos valores vemos esta geração do Lula como a qual abriu a porta para que o Brasil chegasse a condição que está. Que a justiça seja feita e a condenação sirva de exemplo”, disse.
Militante do presidenciável Jair Bolsonaro, maior rival de Lula, de acordo com as últimas pesquisas, o empresário Renne Siqueira falou que a população espera uma resposta. “A maior parta da população espera que o Lula pague pelo que fez. As investigações levantaram várias provas sobre o triplex. Moro já fez a parte dele e pelo que a gente vê, o povo quer mudança. Eu acredito que o Lula não seja candidato, mas, mesmo se ele for, não vai ganhar”, afirmou Siqueira, que seria presidente do diretório municipal do Patriotas caso Bolsonaro fosse pré-candidato pela sigla. Agora, ele diz que espera os próximos passos do deputado federal para definir seu futuro partidário.
Também vereador, Thiago Virgílio (PTC) criticou o protagonismo do judiciário. “Estou convicto de que se trata de um processo político. Se fez errado, tem que ser punido, mas vemos hoje uma ditadura do judiciário. Faz-se uma denúncia e saem por aí já prendendo, acusando, julgando antes de ser julgado. Tenho saudade do tempo em que os juízes falavam apenas pelos autos dos processos. O que temos hoje são juízes que querem ser estrelas”, criticou o parlamentar.
Petista discursa em dia de manifestações
Enquanto isso, a terça-feira foi marcada por manifestações favoráveis e contrárias a Lula, um dia antes do julgamento diante de milhares de manifestantes, o ex-presidente discursou no Centro de Porto Alegre e afirmou que já teve a inocência no processo provada pelos advogados. “Não vou falar do meu processo, não vou falar da Justiça, primeiro porque eu tenho advogados competentes que já provaram minha inocência, segundo porque acredito que aqueles que vão votar deverão se ater aos autos do processo, e não convicções políticas de cada um. E terceiro, porque estou na luta há 40 anos e vocês sabem da minha essência”, discursou.
Também foi realizado um ato contrário ao petista em outro ponto da capital gaúcha. Conforme os organizadores, cerca de 500 pessoas participaram. A Brigada Militar não informou estimativa de público. Os manifestantes exibem bandeiras do Brasil e cartazes de apoio ao juiz Sergio Moro. Velas foram posicionadas no chão formando a sigla TRF-4.
O caso será analisado pelos três desembargadores que integram a 8ª Turma do TRF-4. Na sentença, Moro sustenta que Lula ocultou a propriedade do triplex e que o imóvel foi recebido como propina da empreiteira OAS em troca de favores na Petrobras. A condenação do petista por um crime comum foi a primeira imposta a um ex-presidente no Brasil. No entanto, ele não será preso e nem ficará impedido de concorrer na eleição caso tenha a condenação seja mantida.
Mesmo nesta hipótese, uma eventual prisão só seria decretada após todos os recursos serem esgotados na segunda instância. A Lei da Ficha Limpa impede que um candidato condenado em órgão colegiado possa concorrer a uma eleição, porém, a palavra final é do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Enquanto isso, Lula poderia estar apto, mas com a candidatura “sub judice” até uma análise final do TSE.