Perícia indica edição de imagem em cadeia
Suzy Monteiro 20/01/2018 08:58 - Atualizado em 22/01/2018 18:54
Nova perícia do Ministério Público no sistema de câmeras da cadeia de Benfica concluiu que há indícios de interferência humana na gravação das imagens do dia em que o ex-governador Antonhy Garotinho disse ter sido agredido. Garotinho foi preso dentro das investigações da operação Caixa d’água. O ex-governador vai ser ouvido novamente pelo MP, que também vai chamar os agentes penitenciários que estavam trabalhando naquela noite. À imprensa, a defesa do ex-governador afirmou que o laudo do MP comprova edição das imagens, disse ainda que vai processar o estado do Rio e pedir à polícia que apure fraude processual praticada por agentes da Seap.
De acordo com o relatório, os peritos identificaram que três câmeras no presídio em Benfica, Zona Norte, foram desligadas e uma teve a imagem congelada. O laudo diz que houve ausência de movimento com padrão de “interrupção”. Isso se caracteriza nos vídeos pelos saltos na contagem de tempo dos relógios das câmeras.
As imagens divulgadas pelo MPE mostram uma delas (câmera 2) gravando até 23h58. Depois, para e volta a funcionar 1h56 da manhã. Outra câmara (câmera 4) também desligada, volta a registrar imagem à 01h32, quando o ex governador Anthony Garotinho bate palmas para chamar atenção dos agentes penitenciários. Nesse mesmo período de tempo, uma outra câmera (câmera 3) aparece com a imagem congelada.
Ainda segundo o laudo, uma câmera do lado de fora das galerias (câmera 12) foi desligada, criando um ponto cego. Ou seja, durante um período foi impossível ver se alguém entrou ou saiu dali.
Maria do Carmo Gargalione, diretora da divisão de evidencias digitais e tecnologia, disse que “na tela, você tem opção de dizer onde aquela câmera está e você coloca o que a gente chama de time code que é um reloginho que vai girando. O próprio reloginho mostrava que a gravação parava continuava curtinho e ela deu um salto grande no horário que estava ali estampado na tela onde nós estávamos assistindo. Era algo assim, nada escondido. Algo bem claro, qualquer um poderia ter visto isso”.
O ex-governador Anthony Garotinho foi preso no dia 22 de novembro. No dia seguinte, foi levado para a galeria B, uma ala que estava desativada. Único preso no local, ele diz que foi agredido na madrugada do dia 24, por um suposto homem loiro que bateu no joelho dele com um bastão parecido com um taco de beisebol.
Garotinho disse ainda que em seguida o homem apontou uma pistola e falou: ‘você não vai morrer hoje para não sujar para o lado do pessoal ali’, apontando para a galeria do pessoal da Lava Jato. Na época, a Secretaria de Administração Penitenciária disse que as câmeras não detectaram a entrada de nenhum suspeito na cela dele.
Após a suposta agressão, ele registrou queixa na delegacia de Bonsucesso, que investiga o caso. No mesmo dia, ele foi transferido para Bangu, onde ficou em uma cela isolado e monitorada 24h. Só saiu após ser beneficiado por uma liminar do ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes.
A secretaria de Administração Penitenciária (Seap) não respondeu aos questionamentos da Folha.

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