Gilmar e Garotinho contra juiz
Aldir Sales 02/01/2018 22:07 - Atualizado em 04/01/2018 19:06
Juiz Glaucenir Oliveira
Juiz Glaucenir Oliveira / Paulo Pinheiro
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, e o ex-governador Anthony Garotinho (PR) entraram com representações contra o juiz Glaucenir Oliveira na Corregedoria da Justiça Eleitoral. O magistrado, responsável pela prisão de Garotinho no âmbito da operação Caixa d’Água, teria dito, em um áudio atribuído a ele e que vazou na internet no dia 23 de dezembro, que o ministro do TSE teria recebido propina para conceder habeas corpus e libertar o político da Lapa da prisão. Além de Glaucenir, o juiz Ralph Manhães, atual responsável pela condução do processo, também foi outro alvo do ex-secretário municipal de Governo de Campos. No último dia 29 de dezembro, em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, Gilmar falou publicamente sobre o caso e classificou como as declarações de “fascismo”.
O primeiro a protocolar a representar contra Glaucenir foi Garotinho, que incluiu Ralph Manhães na mesma ação. Em outro momento do áudio, que teria sido postado em grupo de juízes no WhatsApp, Oliveira também teria feito referência a Ralph. “O colega, inclusive, trocou uma ideia comigo agora e está pensando em se declarar suspeito nos autos porque não quer dar cara a tapa. Não quer fazer trabalho de palhaço. Eu também não quero mais, se o processo voltar para mim. A gente trabalha aqui com afinco, com rigor e com coragem”.
Além da Caixa d’Água, Ralph Manhães também foi responsável por condenar o ex-governador a 9 anos, 11 meses e 10 dias de prisão por “comandar o esquema criminoso” de troca de votos por Cheque Cidadão na última eleição municipal em Campos.
Um dia após Garotinho, no dia 29 de dezembro, foi a vez de Gilmar Mendes representar contra Glaucenir Oliveira. Os dois processos foram distribuídos para o gabinete do ministro e corregedor-geral da Justiça Eleitoral Napoelão Nunes Maia Filho, que já divulgou uma nota de solidariedade ao companheiro de TSE.
Entrevista - Gilmar comentou publicamente sobre o assunto no mesmo dia em que representou contra o juiz de Campos. A José Luiz Datena, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral atribuiu à imprensa parte da culpa pelos atos de magistrados de primeira instância. “Ainda hoje a Polícia Federal está abrindo inquérito contra o juiz que fez essas declarações, mas isso, acho, tem um pouco a ver com a responsabilidade de vocês da mídia (...). Vocês bateram palma para maluco dançar, para usar a expressão. Vocês incentivaram as pessoas que não tinham a menor qualificação”.
Mendes continuou comentando e usou a expressão “fascismo” para definir o momento. “Esse caso, por exemplo, de Campos, é um caso engraçado. Uma briga lá da magistratura e do Ministério Público com forças políticas locais e isso se conrrolou, na verdade, em um grande ‘case’ para personagens menores da história. Mas isso passou a dar prestígio a pessoas que não existem no contexto geral. Você vê, um juiz que já se envolveu em briga de boate com arma, que já prendeu guarda municipal e que agora vem acusar um ministro do Supremo porque decidiu contra a sua decisão. É esse ambiente que se criou no Brasil. Um tipo de verdadeiro fascismo. Quem decide contra as expectativas desta gente, que está muito apoiada neste tipo de mídia que se construiu, tem que ter algum tipo de desvio e eles não. É muito engraçado isso. Mas vocês têm que fazer uma autocrítica, a mídia precisa fazer uma autocrítica”.
Desde que o caso estourou, Glaucenir não vem comentando sobre o assunto. A equipe de reportagem também procurou a Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), que não enviou uma resposta até o fechamento desta edição. O Fórum Nacional de Juízes Criminais, que saiu em defesa de Oliveira em um primeiro momento, não foi localizado para se posicionar.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS