Lava Jato do interior com o MPF
Aldir Sales 01/01/2018 17:13 - Atualizado em 03/01/2018 14:37
Folha da Manhã
O ano de 2018 já começou e as investigações sobre políticos da região citadas na delação dos ex-executivos da empreiteira Odebrecht continuam a todo vapor no Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro. Segundo informações, existe a possibilidade de que os processos envolvendo pessoas de cidades do interior sejam encaminhadas aos núcleos do MPF de cidades como Campos e Macaé. Oficialmente, os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, além do prefeito de Macaé, Dr. Aluízio, o ex-prefeito macaense, Riverton Mussi, seu irmão e ex-deputado federal, Adrian Mussi, e o ex-prefeito de Rio das Ostras, Alcebíades Sabino, citados pelos diretores da construtoras, continuam na mira da Lava Jato, mas as investigações estão sob sigilo e os procuradores que receberam os ofícios preferem não se pronunciar no momento para não atrapalhar o andamento do processo.
No dia 22 de julho, a Folha da Manhã divulgou que as petições envolvendo políticos da região delatados por ex-executivos da Odebrecht já estavam nas mãos do Núcleo de Combate à Corrupção do MPF do Rio de Janeiro.
Da delação, o ex-executivo Benedicto Júnior relata a doação de R$ 12 milhões via caixa dois para as campanhas entre 2008 e 2014 do próprio Garotinho e da esposa nas duas empreitadas vitoriosas à Prefeitura de Campos. Em troca, Benedicto diz que esperava uma “relação diferenciada” em assuntos relacionados à empresa e afirma que a obteve. No primeiro ano da gestão Rosinha, a empreiteira venceu a licitação para obras do programa habitacional Morar Feliz.
Os dois delatores também declararam que fizeram doações irregulares a Riverton Mussi e ao ex-deputado federal Adrian Mussi. À época das doações, segundo os delatores, ambos estavam no PMDB. Leandro relata que os pedidos de doações nas campanhas de 2008, para reeleição de Riverton, e 2010, quando Adrian se elegeu deputado federal, partiram do ex-prefeito. O objetivo era, segundo delatores, manter uma boa relação com o então prefeito macaense, já que a Odebrecht realizava, em sociedade com uma empresa local, uma obra de macrodrenagem.
Outro nome citado é do Alcebíades Sabino, em duas petições, onde apenas uma já está nas mãos dos procuradores do MPF. A delação de Leandro Azevedo relata como o pagamento de quase R$ 200 mil via caixa dois chegou ao ex-prefeito. Somente no ano de 2006, o repasse seria em torno de R$ 200 mil. Segundo a delação de Leandro, o dinheiro foi entregue, em parcelas programadas, a um “assessor do Sabino”, em um canteiro de obras na cidade de Rio das Ostras.
Todos os citados negam qualquer irregularidade. No caso do casal Garotinho, quando a delação veio à tona, a assessoria divulgou que ambos “jamais receberam qualquer valor não contabilizado da Odebrecht”. 
Prefeito de Macaé é citado por ex-diretor
A delação premiada do ex-diretor regional da Odebrecht Renato de Medeiros também cita uma doação por caixa dois ao prefeito de Macaé, Dr. Aluizio (PMDB), no valor de R$ 500 mil. O prefeito considera a delação “lacônica, patética” e nega que tenha recebido doação irregular.
Segundo Renato, que fala sobre a Parceria Público Privada (PPP) do esgoto, “a Odebrecht recebeu uma demanda de contribuição dos senhores Marcos André Riscado de Brito, que na época ocupava a função de Controlador do município, e do Jean Vieira de Lima, que era um dos procuradores do município, procurador de contratos, se não me engano. Essas pessoas se identificaram como representantes do grupo político do prefeito Aluizio e solicitaram contribuições. Não falaram especificamente em valores”.
O delator, porém, não soube especificar quem fez o pedido e diz nunca ter tratado sobre o assunto com o prefeito de Macaé. Porém, ao falar sobre os pagamentos assegura que foram feitos em quatro parcelas, entre o fim de 2013 e início de 2014. Renato de Medeiros diz que no setor de propina da Odebrecht os repasses ilegais ao prefeito macaense eram identificados ao apelido “Baleia”.
No dia 19 de abril, em entrevista ao RJ InterTV, Dr. Aluizio diz que nunca recebeu doações ilegais: “Não consigo acreditar que isso tenha acontecido. Ninguém pode oferecer para alguém qualquer tipo de recurso, se não comunica aquela pessoa que teria sido a interessada. Como que a base do governo, como que alguém faz uma delação, para uma coisa abstrata chamada base de governo. (...) Não existe nenhuma delação na história de todas essas delações que fala de coisa tão abstrata, tão evasiva e ao mesmo tempo protege o gestor desse processo, o gestor maior que é o prefeito, dizendo que não teve com o prefeito. De forma muito clara, isso deixa a gente muito triste, muito chateado, muito encabulado, mas ao mesmo tempo muito seguro de que isso nunca aconteceu conosco, muito menos com o governo”.
O prefeito observou, ainda, que “o delator que não conviveu com o fato, não deve ter a credibilidade das outras delações onde o fato é muito concreto, muito claro, muito próximo”.
A petição 6697 inclui, ainda, a delação de Roberto Cumplido. São citados na petição o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) e o ex-candidato a presidente Everaldo Dias Pereira, conhecido como pastor Everaldo, entre outros.
Cabral já foi condenado a 87 anos de prisão
Sérgio Cabral
Sérgio Cabral / Divulgação
Enquantos os políticos do Norte Fluminense aguardam designação de magistrados por parte da Justiça Federal, já que isso depende para qual cidade os processos serão encaminhadas, nas mãos do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o ex-governador Sérgio Cabral já foi condenado a 87 anos de prisão em ações da Lava Jato.
A última condenação aconteceu no dia 19 de dezembro com base em investigações da Operação Eficiência, um desdobramento da Lava Jato, pelo crime de lavagem de dinheiro.
Segundo decisão de Bretas, Cabral foi condenado a 15 anos de reclusão e 480 dias-multa por seis crimes de lavagem de dinheiro. A pena foi agravada pelas acusações de que o ex-governador liderava o esquema e de que a prática criminosa envolvia uma organização. No processo, Cabral é acusado de chefiar um esquema que resultou na ocultação e lavagem de quase R$ 40 milhões e mais de US$ 100 milhões no Brasil e no exterior.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS