Dora Paula Paes
27/01/2018 17:05 - Atualizado em 31/01/2018 19:09
Após 10 anos de supermercados abertos em Campos aos domingos, o sindicato dos Comerciantes Varejistas (Sindivarejo) e dos Empregados do Comércio vão fechar acordo, por um período “experimental” de quatro meses, para o fechamento dos estabelecimentos. A medida estará em vigor de 1º fevereiro a 31 de maio. Os presidentes dos dois sindicatos, respectivamente, Roberto Viana e Ronaldo Nascimentos, vão se reunir na tarde desta segunda-feira (29) para traçar como será o acordo coletivo. Para quem gosta de deixar as compras para o domingo à mudança pode não agradar, mas o setor de alimentos garante que o momento econômico do país, estado e município afunilou ganhos nos últimos sete meses e obrigou a busca de alternativas.
— A situação é preocupante no setor do varejo do alimento. Até julho de 2017, o setor não vivenciou a crise que afeta o país, o estado do Rio e Campos que está quebrada, mas começou a sentir. A renda per capita do campista caiu 15% em 2017. Também detectamos que a venda pulsante no final de semana caiu de 30% a 40%. Estamos dividindo em seis o que se faz em sete dias — diz o presidente do Sindivarejo, Roberto Viana.
Além da crise, os empresários do setor também colocam na ponta do lápis os gastos com os empregos dos estabelecimentos que abrem no domingo. “Temos que levar em consideração a questão do trabalhador com uma carga horária menor, mais encargo trabalhista pelo domingo trabalhado e, ainda, é notório que o colaborador não oferece 100% do seu empenho profissional quando entra nas escalas do domingo — ressalta Viana.
Segundo o líder patronal, para tomar a decisão foi realizada uma reunião, onde foram convidados os representantes dos estabelecimentos varejistas que atuam no município. “Além dos grandes empresários do setor em Campos, convidamos o Extra, Makro, Atacadão e o Walmart, esse último, o único a fazer algum tipo de questionamento. Mas, o que valer para um, vai valer para todos”, disse Roberto Viana. A Folha tentou, mas não conseguiu contato com a assessoria do Walmart.
Representando o Grupo Barcelos, da Rede Superbom, Lucas Barcelos disse que a proposta é sindical e só após vigorar a medida será possível avaliar os números se foram positivos ou negativos.
Sindicato não visualiza demissões com a medida
Inicialmente só faltava o aval do sindicato dos Empregados do Comércio para fechar o acordo de experiência. Mas, segundo o presidente, Ronaldo Nascimento, os empregados autorizaram, durante assembleia na última quinta-feira (25), a não abertura dos supermercados aos domingos. Hoje, em Campos, são pouco mais de 2 mil trabalhadores nestes estabelecimentos do ramo de alimentos.
Ronaldo também não visualiza demissões. “Quando se passou a trabalhar nos domingos não houve contratação extra, então não tem porque demitir”.
Quando questionados se o fechamento dos supermercados aos domingos seria um retrocesso, já que hoje Campos é uma cidade de porte médio, com mais de 500 mil habitantes, tanto Ronaldo, quanto Roberto, não concordaram. “As grandes varejistas, no Espírito Santo, já não abrem mais aos domingos”, ressalta Ronaldo Nascimento.
O analista de sistema, Jaime Rodrigues, 34 anos, já discorda: “Eu acho um retrocesso. Os grandes centros querem atrair o consumidor até nas madrugadas e Campos, na contramão, passará a não ter supermercados abertos aos domingos, menos uma facilidade em dias corridos”.