Com ótimas referências da crítica, “O Destino de Uma Nação” é o destaque entre os filmes que esteiam nesta quinta-feira (18) no circuito de Campos dos Goytacazes.
Contar a história de uma figura tão reconhecida e relevante para a história do mundo não é uma tarefa fácil. Traçar um roteiro que condense uma trajetória inteira em um único filme, trazendo em conjunto uma narrativa cinematograficamente hábil é, senão impossível, improvável de ser feito majestosamente. O caminho que se opta majoritariamente nesse caso é o recorte, o qual traz possibilidades mais abrangentes a serem exploradas, possivelmente incorporando na obra tanto um estudo de personagem interessante quanto uma revisitação histórica crível, além de um enredo convincente, com propósito, que busca fornecer um delineamento substancial da essência do que é recortado.
Dessa forma, esta segunda abordagem de Winston Churchill em 2017, além de “Churchill”, “O Destino de Uma Nação” é uma estrada que somos convidados a percorrer durante as primeiras semanas do conhecidíssimo primeiro-ministro britânico a serviço do Reino Unido no exato cargo que lhe tornou mundialmente famoso. Depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por pressão política diante do fracasso de se impedir o avanço brutal da Alemanha sobre a Europa, o notável orador (Gary Oldman), agora com um poder assombroso nas mãos, deve enfrentar dilemas exaustivos a fim de garantir a integridade do seu povo e dos seus aliados. Com Hitler perto de chegar na porta de entrada para o Reino Unido, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino.
Em um primeiro plano, é curioso que a interpretação de figuras britânicas de renome seja, aparentemente, um caminho menos conturbado para a conquista do Oscar. Dentre alguns dos últimos vencedores, Helen Mirren, Meryl Streep e Colin Firth voltaram da cerimônia com o pequeno, mas majestoso homem dourado. Se depender unicamente do seu talento profissional, Gary Oldman terá sua consagração com “O Destino de Uma Nação”, tendo em vista essa espetacular interpretação, melhor dizendo, encarnação de Winston Churchill. O primeiro-ministro é humanizado consideravelmente pelo roteiro de Anthony McCarten, mas o trabalho de realismo fica severamente verdadeiro quando nos deparamos com a atuação de Oldman.
Apesar disso, a direção tem um papel fundamental na quebra da mística envolta do protagonista, trazendo um contraponto muito inteligente do mito em relação ao homem. Assim que começa o longa, após uma tomada aérea interessante dentro do Parlamento Britânico, a cadeira do político encontra-se vaga, incitando a curiosidade do espectador. Um pouco depois, com a apresentação da secretária Elizabeth Layton (Lily James), o homem prestes a se tornar primeiro-ministro é enfim revelado nos meandros da escuridão. A ausência de iluminação dá margem para que o fogo que acende o charuto de Churchill enalteça a figura por detrás do homem. Quando o realce é apagado em consequência da retomada da luz, o pequeno vislumbre da face envelhecida do velho finalmente revela o homem à frente daquela figura, diferentemente de como a chama sugeriu primeiramente, nenhum pouco intocável.
Com todas as peças colocadas no lugar certo, reservo-me no direito de categorizar Oldman e sua interpretação como digna de um lugar no panteão das mais sensacionais encarnações de figuras políticas já feitas. Isso se dá por diversos motivos, mas, para começar uma listagem das maravilhas alcançadas pela performance do ator, é indiscutível que o mesmo consiga proferir os poderosos discursos de Churchill com uma intensidade muito similar ao do ex-primeiro-ministro em vida. É acertada a escolha dos realizadores da obra em encerrar o filme com o histórico “We shall fight on the beaches”, um momento aclamadíssimo que é, em uma jogada de paralelismo do diretor Joe Wright, antagonizado em relação a primeiríssima manifestação oral do primeiro-ministro.
Aliás, durante todo o percurso do longa, Wright demonstra ter um controle perfeito da câmera e das suas possibilidades, usando-a em determinado momento, auxiliado é claro pela montagem de Valerio Bonelli, para transformar um cenário devastador de guerra no rosto de um soldado abatido.
Também entra em cartaz nesta quinta-feira os filmes “Gaby Estrella — O Filme” e “Sobrenatural: A Última Chave”. Permanecem em exibição “Fala Sério, Mãe”, “Extraordinário”, “Viva — A Vida É Uma Festa”, “O Touro Ferdinando” e “Jumanji — Bem-Vindo à Selva”. (A.N.) (C.C.F.)