O destaque da semana continua sendo o filme “Roda Gigante”, de Woody Allen, que está em exibição no Kinoplex Avenida.
O novo filme de Woody Allen tem uma conexão extremamente próxima com seu título anterior, o ótimo “Café Society”, algo que é um excelente indício, visto que os últimos títulos do consagrado cineasta eram marcados, sobretudo, pela irregularidade. “Roda Gigante” e “Café Society” possuem ligações externas à própria obra, como o fato de marcarem a segunda parceria entre Allen e a Amazon Studios, assim como a segunda vez que Vittorio Storaro assina a fotografia do cineasta (fator fundamental para “Roda Gigante” ser o que é), mas o que mais interessa é como esses fatores formam filmes tão semelhantes e tão diferentes, na mesma medida e na mesma força.
Se essas aproximações externas dizem muito pouco sobre os filmes em si, a maior semelhança é que ambos os longas possuem uma forte melancolia no corpo de uma comédia, dois filmes divertidos, que estão enraizados num sentimento de impotência em relação aos acontecimentos que se vê em tela. Talvez, nesses dois filmes, Allen consegue realizar o que já fizera em outros momentos de sua carreira, conseguindo achar um tom certo para falar dos assuntos que deseja, como fez no início com suas comédias mais escrachadas, ou como no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 com seus dramas sérios, numa fase cunhada pelo seu referencial à Bergman.
Com essa lucidez, Allen faz um belo duo, sendo “Roda Gigante” um título que ganha força ao longo de seus 101 minutos, uma obra muito clara no que deseja dizer e de como isso está inserido formalmente.
A melancolia aqui está inserida através de um olhar feminino, a figura de Ginny (Kate Winslet), uma mulher marcada por seus erros do passado e que por isso abandona todos seus sonhos para ter uma vida extremamente ordinária, morando atrás da roda gigante em Coney Island, com seu marido que possui um carrossel, enquanto ela tem que trabalhar como garçonete para equilibrar as contas da casa, convivendo com suas constantes enxaquecas e com o filho que vive ateando fogo nas coisas. Dois eventos, então, chegam para mudar a vida de Ginny, a filha de seu atual marido pede abrigo por estar sendo perseguida pela Máfia, fazendo com que surja uma pressão ainda maior em Ginny, e o romance com um salva-vidas que estuda teatro e representa todos os sonhos esquecidos da mulher de meia idade.
O filme é marcado pela sua forte conexão com a protagonista e pela sua relação entre as pressões domiciliares e o arejar de sua própria vivência, quando pode se encontrar com aquele rapaz, Mickey interpretado por Justin Timberlake. “Roda Gigante” passa a ser um filme sobre essas transições de sensações e sentimentos, evidenciando uma mulher em constante transformação, que tende a viver num mundo de instabilidade, justamente por sentir em momentos tão próximos, sensações tão contrastantes. Esses fluídos de emoção são o foco de Woody Allen, algo que marca todos os aspectos da obra.
Tudo em “Roda Gigante” funciona para demarcar esse sentimento de instabilidade, algo que faz com que o longa seja uma obra marcada pela assinatura. Neste filme, Allen mostra mais uma vez a sua genialidade.
Entram em cartaz nesta quinta-feira as animações “Viva — A Vida É uma Festa” e “O Touro Ferdinando”. Permanecem em exibição os filmes “Fala Sério, Mãe”, “Jumanji: Bem-Vindo à Selva”, “Extraordinário”, “O Rei do Show” e “Star Wars - Os Últimos Jedi”. (A.N.) (C.C.F.)