Ponto Final: Pontos para Rosinha
01/12/2017 10:24 - Atualizado em 06/12/2017 16:08
Ponto Final
Ponto Final / Ilustração
Pontos para Rosinha
Se já tinha obtido uma vitória parcial, com sua liberdade com medidas cautelares decidida na quarta (22) pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Rosinha Garotinho (PR) voltou a marcar outro ponto ontem, contra o juiz da 98ª Zona Eleitoral (ZE) de Campos, Ralph Manhães. Quando saiu do Presídio de Benfica à 0h de ontem, visivelmente abatida após uma semana de prisão preventiva, a ex-prefeita foi para o apartamento no Flamengo, bairro da Zona Sul carioca, mesmo sem colocar a tornozeleira eletrônica determinada. Às 15h13, o juiz da 98ª ZE determinou que ela viesse para Campos. Mas, às 19h31, o TRE permitiu que ela ficasse no Rio.
Parte boa
Como a coluna lembrou ontem, desde que conquistou a Prefeitura de Campos a primeira vez, em 2008, Rosinha é encarada por parcela da população como a parte boa do casal Garotinho. E as imagens do seu abatimento na prisão, desde que saiu do Presídio Feminino de Campos ao de Benfica, no dia 22, reforçadas pelas do “Fantástico” do último domingo (26), incomodaram quem enxergou a mãe e avó. Mesmo a quem condena as práticas dos Garotinho, tampouco caiu bem a nota na coluna do Ancelmo Gois, em O Globo da última terça (28): “Rosinha (...) não vem se alimentando direito. Passa parte do tempo encoberta por um lençol branco”.
Novidade alvissareira
Ninguém que conhece um pouco da vida pública do município nas três últimas décadas, pode questionar a novidade alvissareira da coragem, da capacidade jurídica e do empenho de magistrados locais como Ralph Manhães ou Glaucenir Oliveira, que decretou no dia 22 a prisão do casal Garotinho, mais sete outros acusados de envolvimento no suposto esquema de extorsão de empreiteiros para caixa eleitoral. Como tampouco se questionam os predicados do juiz Eron Simas. Pelo juízo da 76ª de Campos, nas 38 Ações de Investigação Judicial Eleitoral (Aijes) da operação “Chequinho”, ele condenou 37 acusados.
Raízes na Lava Jato
Da “Chequinho” para cá, inegável que a destacada atuação dos três relativamente jovens magistrados é fruto dos méritos dos promotores eleitorais da comarca, além da Polícia Federal (PF) do município. Como nenhum de seus integrantes negará que todo o trabalho feito em Campos tem raiz na operação Lava Jato, que luta nacionalmente contra legislativos e executivos corruptos que se simplesmente se recusam a virarem honestos. E dão impressão de contar com a condescendência de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre Moraes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Melo.
“Estava tudo lá”
Símbolo maior dessa tentativa de saneamento, o juiz federal Sérgio Moro se tornou conhecido mundialmente pela Lava Jato, que teve início em 2014. Dez anos antes, publicou na revista CEJ, do Conselho da Justiça Federal, um artigo intitulado “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”. Ele tomou como exemplo a operação “Mãos Limpas” (Mani Pulite) na Itália, entre 1992 e 96, que levou ao fim a Primeira República Italiana (1948/94) e resultou na extinção de vários partidos políticos. Como já observou o jornalista Eli Gaspari sobre aquele artigo, do que Moro faria uma década após na Lava Jato: "Estava tudo lá".
Lição de Moro
No artigo de 2004, Moro mostrou como a implosão de políticos e empresários levou à “deslegitimação” do sistema corrupto: “As investigações judiciais dos crimes contra a administração pública espalharam-se (...) desnudando a compra e venda de votos e as relações orgânicas entre certos políticos e o crime organizado”. Mas ressalvou: “Talvez a lição mais importante (...) seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia (...) Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar”. Querer deixar uma esposa longe do marido que continua preso em Bangu 8, numa queda de braço desnecessária e perdida, não parece caminhar neste sentido.
Lição de Rubens
Desnecessária também foi a inação do governo Rafael Diniz (PPS) em relação à empresa Working, favorita nos recebimentos na gestão Rosinha, que continuava a atuar no município. Seu proprietário, o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, o “Deca”, fez a denúncia que gerou a prisão do casal Garotinho. Na terça (28), o juiz Rubens Soares Viana Junior, da 4ª Vara Cível de Campos, suspendeu liminarmente o aditivo de R$ 2,6 milhões entre a Working e a Prefeitura. O autor da ação popular é Fabrício Ribeiro Batista. Por quem informou se tratar de um “eletricista desempregado”, ficam indeléveis as impressões do garotismo. Mas o juiz agiu corretamente ao fazer o que o novo governo não fez.

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