No último dia de 2017, penso que não sejam poucos os que matutam com seus botões se o Ano Novo trará, de fato, a reformulação que o Brasil anseia – particularmente no cenário político – ou se, ao contrário, o País entra 2018 sem virar a página. Esperança ou desventura? Uma resposta difícil.
O Brasil dispõe das condições e do potencial para efetivamente ingressar em um novo tempo. Por outro lado, ainda exibe as velhas amarras que o prendem ao porto da corrupção, do populismo e do atraso.
Pior... até mesmo a pesada âncora que emperrou o País não o soltou de todo e não é possível saber, ao certo, se 2018 será o ano da mola que leva ao alto ou do carcomido metal que prende ao fundo.
Afinal, as antigas rugas sempre podem voltar. Ou, talvez, nunca desapareçam para valer.
Hoje, um ano se apaga para que outro floresça. Como no verso de Chico Buarque, “... Amanhã, há de ser outro dia”. Repare o leitor, além de amanhã, certamente, ‘ser outro dia’, o “há” do poeta faz toda diferença, posto que nele coloca toda esperança: “...Água nova brotando” “...O jardim florescer” “...A manhã renascer e esbanjar poesia”.
Da mesma forma, é preciso que 2018 não seja apenas mais um ano novo, mas que há de ser um Ano Novo.
Assim, as janelas se abrirão para além das frases decoradas e vazias que se repetem a cada finalzinho de dezembro. Confiemos, pois, num ano realmente novo; e não com tudo de novo.
Dá pra mudar?
Muita coisa, sim, pode ser mudada. Já outras... Há grande esperança, por exemplo, que o Flamengo ganhe alguma coisa em 2018. O Vasco saiu na frente e se livrou de Eurico (Mas cabe recurso. Ihhh).
Já o Brasil não se livrou de Temer, que sobreviveu a duas denúncias. É o que se pode chamar de ‘presidente duro de cassar’. Como ele não sai mesmo, a esperança em 2018 é que a fila ande para Renan, Sarney, Padilha, Moreira, Rocha Loures, Aécio e outros menos cotados.
Suscitando grande expectativa sobre quem mais o Gilmar irá soltar, esperamos em 2018 por uma Justiça mais coesa, um Congresso de alguma seriedade e um ministério que não seja essa mer.. meleca que está aí. (Neste caso, vamos ter que esperar por 2019 mesmo). Ah, uma gasolina menos cara (Hahaha). E que Pezão pague o funcionalismo em dia (Hahaha de novo).
Virada e WhatsApp
No réveillon, vamos receber 2018 de braços abertos. Mas é preciso ir além da cor da roupa para as coisas darem certo. Afinal, se usar amarelo atraísse dinheiro, os funcionários dos Correios seriam todos ricos. Se vermelho resolvesse situações amorosas, ninguém do Corpo de Bombeiros terminava namoro ou casamento. E se branco fosse garantia de paz, o mundo árabe com suas túnicas brancas não conheceria conflito.
Como alerta, tipo dica: desativar o duplo tique azul das mensagens do WhatsApp para que fiquem sempre cinzas e o emissor pense que não foi lida, já deu! Todo mundo sabe que o azul foi retirado exatamente para permitir que você veja e finja que viu. Além do que, enquanto não é aberta, fica aquela ‘bolinha’ colorida, ali, na ‘cara’. Assim, ao invés de preservar a privacidade, o artifício virou truque barato . Não é legal!
Mundo & etc
Evidente, muita coisa não tem jeito. Ao menos, a curto prazo. Com o mundo de ponta cabeça, Trump vai continuar pregando intolerância e radicalismo no país mais democrático e liberal do planeta e disputando com Kim Jong-un quem é mais louco. O problema é que a loucura pode acabar em guerra nuclear.
Sem falar de Venezuela & cia. e das regiões em conflitos de outros continentes, na França de Macron o isolacionismo continua em alta, bem como o unilateralismo. E não foi assim na Inglaterra, que deixou a União Européia? E não está sendo assim mundo afora?
O curioso é que todos esses movimentos distanciadores – quer entre nações, quer entre pessoas – surgiram justamente na era das redes sociais. Ora, não devia ser o contrário? Ou as redes sociais (ou anti-sociais), de fato, “conectam” o indivíduo ao mundo e o afasta do vizinho, do amigo, do irmão, da família, etc?
Aqui, na doce terra
No Brasil, quase que do Oiapoque ao Chuí, os eleitos em 2016 receberam as prefeituras com as contas no vermelho, pra lá de furadas. De cada porta de armário que abriam caía um monte de de carnês. Aliás, rombos de um governo para o outro não são novidade neste País em que responsabilidade fiscal é mera ficção.
Mas, seja na maior cidade brasileira – São Paulo – ou na pequena São João da Barra, no interior fluminense, os prefeitos que assumiram no início do ano parece que estão dando seus respectivos jeitos.
Aqui, na doce terrinha, vale a pergunta: será que as mazelas de 2016 vão, finalmente, parar em 2017? Ou 2016 – e os sete anos anteriores a este – irão seguir levando a culpa também por um 2018 estéril? Afinal, o governo passado acabou, não é mesmo?
"Dia de Revolta" - Nem se fosse num 1º de Abril
Como curiosidade, em 2018 o 1º de Abril vai ser antecipado. Vejamos o episódio patético: condenado e cumprindo prisão domiciliar, José Dirceu, o arquiteto do Mensalão pego também no Petrolão, “conclamou” a militância petista a instituir o 24 de janeiro como o “dia da revolta”.
Entendendo a questão: 24 de janeiro é a data que o Tribunal Regional Federal da 4ª Divisão marcou o julgamento, em 2ª instância, da apelação do ex-presidente Lula da Silva, condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de prisão no caso do triplex no Guarujá.
Do recurso, tudo bem! É instrumento processual previsto na legislação, na esteira do amplo direito defesa que a todos (todos?) deve ser ofertado.
A questão, aqui, é ZéDirceu. Afinal de contas estamos a falar do ex-ministro que teve que renunciar depois de ser apontado como o chefe da quadrilha do Mensalão. Do deputado que, cassado, foi investigado, acusado, julgado e condenado.
Enfim, desmoralizado até a raiz do cabelo, depois disso tudo Dirceu ainda consegue “conclamar” e “instituir” alguma coisa neste País? E em favor de outro condenado, que rolou ladeira abaixo da posição de maior líder político do início do século 21 para um fiasco que, apesar de manter acesa a chama do voto populista, virou símbolo inigualável de decadência? Sério?