Dora Paula Paes e Aldir Sales
28/12/2017 20:59 - Atualizado em 02/01/2018 14:09
A primeira mulher à frente da Prefeitura de São Francisco de Itabapoana está disposta a deixar sua marca de coragem e trabalho. Filha do município, de sertanejo, a prefeita Francimara Barbosa Lemos (PSB) conhece as necessidades, demandas e anseios da população. No seu primeiro ano à frente da administração municipal, a prefeita colocou como prioridade à área da Saúde. Lembra dos problemas encontrados; a começar pelo período de transição. Para 2018, São Francisco tem projeção de R$ 140 milhões de orçamento, o mesmo valor dos últimos anos, mas a prefeita não se intimida, diz que pretende fazer essa verba render até três vezes mais, principalmente com obras. Na Saúde, a meta é investir R$ 30 milhões. Francimara ainda começou seu governo enfrentando outra luta, um câncer, mas não se deixou abater, segundo ela, tirou força da sua vontade de viver, da fé em Deus e do amor da sua família.
Folha da Manhã — Qual sua avaliação sobre o primeiro ano de governo? Quais os principais problemas encontrados e quais as mudanças?
Francimara Barbosa Lemos — Antes mesmo de assumir o mandato já encontrei problemas no período da transição, que praticamente não existiu. Comecei a governar o município com sérios problemas em todos os setores. Na Saúde, por exemplo, não havia nenhum tipo de medicamento, ambulâncias sucateadas, consultórios em péssimo estado de conservação e alguns até desativados. Todas as portas das unidades de saúde, incluindo o Hospital Manoel Carola, em Ponto de Cacimbas, foram trancadas e as chaves misturadas sem nenhuma identificação e colocadas numa caixa de papelão, a fim de dificultar o acesso da nossa equipe. O contrato com a empresa responsável pela limpeza urbana no município foi encerrado pela gestão anterior no dia 31 de dezembro de 2016, o que não poderia ter ocorrido já que se trata de um serviço essencial de prestação continuada, causando sérios transtornos à população e aos veranistas com o acúmulo de lixo, principalmente nas praias. Detectamos dívidas deixadas por governos passados com concessionárias de serviço superiores a R$ 17 milhões, além de R$ 21 milhões de débito com o INSS. Em relação ao meu primeiro ano de governo, inauguramos o Núcleo de Prevenção e Apoio ao Paciente com Câncer e Familiares (Nuprapac); implantamos o polo para tratamento de acidentes com escorpiões no Hospital Municipal Manoel Carola (HMMC); melhoramos a qualidade da merenda nas escolas municipais; concluímos a urbanização da Lagoa do Comércio, em Gargaú; estamos com obras em andamento que ultrapassam o valor de R$ 1 milhão com previsão de serem entregues em 2018, entre elas o Mercado Municipal, quadra poliesportiva em Buena e outra em Barra do Itabapoana, entre outras realizações.
Folha — A senhora foi eleita com uma margem de apenas 113 votos para o segundo colocado o então prefeito Pedrinho Cherene (PMDB). Como tem sido politicamente governar um município tão dividido na última eleição? Como tem sido sua relação com a Câmara?
Francimara — Administro São Francisco de Itabapoana para os moradores do município, independente de quem votou ou não votou na Francimara, afinal, como o meu próprio lema diz, governando para todos! Na Câmara Municipal temos uma relação harmoniosa, respeitando a independência dos poderes. Atualmente, dos 13 parlamentares, dez são alinhados com o nosso governo.
Folha — São Francisco de Itabapoana tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado do Rio de Janeiro, de acordo com Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Apesar do extenso litoral, o município não recebe royalties por produção de petróleo. Enquanto outras cidades da região possuem orçamentos bilionários, São Francisco tem uma projeção de R$ 140 milhões para 2018, o mesmo valor dos últimos anos. Quais os principais desafios de administrar um município com grande extensão territorial, poucos recursos e tantos problemas sociais?
Francimara — Temos poucos recursos, grande extensão territorial e muitos problemas para resolver: os desejos são infinitos, mas os recursos são escassos. Embora o município ainda seja dependente dos recursos federais e estaduais, a nossa secretaria de Fazenda tem se empenhado em busca de alternativas de receitas e um esforço no aumento da arrecadação própria. O ICMS Verde, o ISS, o ITBI e o IPTU são exemplos disso. Outra alternativa tem sido as parcerias, podendo citar o comprometimento do presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Rodrigo Sergio Dias, em liberar recursos para o esgotamento sanitário da área central de São Francisco, que 0% de saneamento básico, o que contribui significativamente para a baixa avaliação no IDH.
Folha — Com esta projeção de orçamento, qual será o planejamento de investimentos para 2018?
Francimara — De acordo com o orçamento enviado e aprovado pelo Legislativo, em 2018 vamos investir mais R$ 3 milhões em obras, o que representa três vezes mais do que a gestão anterior aplicou no setor em seu último ano de governo. Na área da Saúde investiremos R$ 30 milhões; na Educação, quase R$ 49 milhões; na Agricultura e Pesca, R$ 2,5 milhões; Desenvolvimento Humano, R$ 4,5 milhões e Planejamento, R$ 14,5 milhões.
Folha — Com a pouca arrecadação, a senhora vem destacando também a importância de parcerias por emendas destinadas por deputados federais e estaduais. Quanto o município já conseguiu deste tipo de recurso e quais são as áreas mais beneficiadas?
Francimara — Conseguimos em 2017 R$ 6,275 milhões, o que corresponde a 4,48% de todo o orçamento. A maioria dos recursos é destinada à área da Saúde, já que é uma prioridade do nosso governo.
Folha — Em entrevista à Folha da Manhã no dia 1º de dezembro, a senhora disse que tem a Saúde como principal meta e que pretende reabrir a emergência do Hospital Manoel Carola no primeiro semestre de 2018. O que o município tem feito no setor e quais os objetivos para o próximo ano?
Francimara — A licitação já foi realizada e a ordem de serviço será emitida em janeiro de 2018. No Hospital Manoel Carola realizamos a pintura da parte externa, reformamos a rampa de acesso do 1º para o 2º piso, disponibilizamos duas salas de Raio X e uma de mamógrafo; implementamos a entrega de medicamentos nas UBS por meio de motoboy e estamos construindo a Double UBS.
Folha — Entre as propostas de governo apresentadas durante a campanha estão a realização de concurso público para a Guarda Municipal, aquisição de um tomógrafo para o Hospital Manoel Carola, revitalização da orla de Barra do Itabapoana e reformas e ampliações de unidades escolares. Quais de todas as suas propostas foram concretizadas em 2017?
Francimara — Ao assumirmos o governo, fizemos um levantamento de todas as propostas acima. Está sendo feito o levantamento para o concurso público da Guarda Municipal e as viabilidades para que, se possível, possamos realizar. Ainda que fosse um grande desejo a aquisição de um tomógrafo para o município, somente após assumirmos o governo tivemos conhecimento da impossibilidade de adquirirmos tendo em vista o nosso município não estar dentro dos critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde, em contrapartida, estamos em parceria com municípios vizinhos para atendermos a maior quantidade possível de munícipes que necessitam de exame. Um exemplo disso foi a criação do Nuprapac, que visa dar total assistência aos portadores de câncer e seus familiares em parceria com os Centros de Oncologia de Campos. Quanto às demais estamos fazendo o levantamento, sendo nossa intenção que possamos concretizar todas as propostas de governo.
Folha — A região vive uma grande expectativa pela atividade do Porto do Açu, em São João da Barra. Além da atividade no município vizinho, São Francisco também tem ao norte outro importante empreendimento, o Porto Central, em Presidente Kennedy, no Espírito Santo, que também é uma esperança movimentar a economia de áreas próximas. No último dia 8 de novembro a senhora esteve ao lado dos governadores do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), em um encontro para promover uma parceria pela ferrovia Rio-Vitória, que também interligará os dois portos. Existe algum planejamento para atrair novos investimentos para São Francisco tendo em vista a proximidade com estes empreendimentos?
Francimara — Sim. Estamos nos empenhando para novos investimentos em São Francisco. A secretaria de Turismo, Indústria e Comércio realizou reunião com empresários e atendimento a empresas interessadas em se fixar no município, além disso, estamos nos emprenhando para a qualificação profissional dos munícipes como as parcerias firmadas pelo IFF, Unopar, entre outras, para assim que acontecerem, as oportunidades sejam dadas aos moradores daqui.
Folha — Outro ponto importante para a região é a construção da ponte da Integração, que ligará São Francisco a São João da Barra. O governador Pezão prometeu a finalização da obra em 2018. Como a senhora tem atuado junto aos municípios vizinhos e ao Governo do Estado para cobrar a conclusão da via?
Francimara — Eu como atual gestora deste município e moradora daqui sei da importância da construção desta ponte. Mantenho um ótimo relacionamento com os prefeitos dos municípios vizinhos e com o Governo do Estado. Estou extremamente empenhada e à disposição do que for possível por parte do município para que isso aconteça o mais rápido possível.
Folha — São Francisco de Itabapoana foi um dos municípios castigados pela seca e que decretaram emergência por causa desta situação. Qual foi o tamanho do prejuízo? No que a Prefeitura pode ajudar a mitigar os efeitos desta condição climática nos próximos anos?
Francimara — A alteração climática realmente castigou a todos nós, em especial aos agricultores. A secretaria de Agricultura acompanhou de perto cada um deles e graças a essa mesma alteração climática tivemos um período de chuva que ajudou os produtores agrícolas.
Folha — A senhora descobriu e deu início ainda em 2016 ao tratamento de um câncer de mama. Desde então, se tornou um símbolo na luta contra a doença na região. Como tem sido conciliar com o trabalho?
Francimara — A descoberta da doença foi um susto muito grande para mim, mas sou uma pessoa que acredita na vida e tenho muita fé em Deus. Por amar a minha família, por amar a vida e pela minha fé é que consigo conduzir o meu trabalho.
Folha — As mulheres, apesar de serem a maioria da população, ainda possuem pouco protagonismo no universo político, formado majoritariamente por homens. Além da senhora, a região também tem outras prefeitas, como Fátima Pacheco (PTN), em Quissamã; Cristiane Cordeiro (PP), em Carapebus; Carla Machado (PP), em São João da Barra; e Margareth do Joelson (PP), em Italva. Como vê a importância da mulher no processo democrático? Ainda existe preconceito na política?
Francimara — Desde o lançamento da minha candidatura, pude perceber o quanto existe preconceito na política em relação às mulheres. Superei tudo isso. Provei para as mulheres são franciscanas que somos capazes de vencermos, de administrar um município. Às minhas colegas prefeitas quero parabenizar e junto com elas podemos mostrar a importância da mulher no processo democrático por entendermos as dificuldades, as necessidades, as prioridades dos outros pelo fato de sermos sensíveis, gestoras, capazes, por administrarmos com empatia e ternura sem perder o papel de uma líder, tudo isso pelo simples fato de sermos mulheres.