Guilherme Belido Escreve - Faltam líderes para que Brasil saia da crise política
16/12/2017 19:05 - Atualizado em 17/12/2017 11:07
Uma das inconveniências de se escrever apenas uma vez por semana está na dificuldade de conexão entre dois textos (o original e o seguinte), quando o tema abordado assim recomenda.
Isso porque assunto desdobrado em período superior de dois ou três dias sai da cabeça do leitor, que diante de uma gama enorme de informação diária não tem como se lembrar num domingo o que leu no anterior.
No caso concreto, tomando como foco as crises econômica e política porque ora passam o Brasil, a primeira apresenta viés positivo, de clara melhora, enquanto a segunda segue sem qualquer expectativa de que surja, ao fim do túnel, uma tênue lamparina que seja.
Assim, no domingo passado, com o título ‘Brasil vai dando ‘seu’ jeito’, a página teceu observações sobre a questão econômica, com olhar não apenas otimista – mas realista – de que a crise parou nas portas da depressão e está dando meia volta, sendo agora vista muito mais no retrovisor do que no para-brisa.
Lembrou que o agronegócio ajudou a salvar o País do pior e que o Brasil, um gigante continental com 10 milhões de km2 de terra fértil e água abundante, tem como se socorrer e de onde tirar recursos quando a situação fica estreita.
Por conta do tal desdobramento, deixou para a edição seguinte – a de hoje – considerações soltas e genéricas acerca da crise política, já aí sem um tiquinho de sombra ou água fresca.
Ao contrário, num 2017 praticamente encerrado, sem tempo ou espaço para qualquer alteração de cenário, joga-se sobre os ombros de 2018 uma tonelada de problemas e nenhum grama de reforma política que possa dar ao ano eleitoral a mínima perspectiva de mudança substancial ou traços de melhoria.
Uma tela em branco, ao sabor das circunstâncias
Pincéis desgastados e sujos, tintas ‘talhadas’ em vidros abertos e uma tela já meio amarelada à espera dos primeiros traços que facilmente podem virar borrões. Assim figura-se o ano eleitoral... um ano de eleição presidencial, em que costumeiramente se aposta em novos tempos de dias ensolarados.
Contudo, essa desejada bonança está fora da vista. Nem sob potentes binóculos se enxerga frescor e calmaria. Antes, a nuvem negra de uma das piores gerações de políticos que o Brasil já viu segue se avolumando e sabe-se lá quando irá se dissipar.
Assim, não se vê sinais de que as próximas eleições possam mudar a política brasileira. Talvez, mercê de muito otimismo, melhorar. Mas só com grande surpresa – e alívio – teremos nomes, ou um nome, capaz de tirar o Brasil da crise institucional em que se vê submerso.
Dura realidade – O que o Mensalão mostrou e a sociedade fez vista grossa, o Petrolão reeditou em tamanho gigante e a Operação Lava Jato expôs às entranhas: o Brasil assaltado aos quatro cantos por diferentes núcleos de quadrilhas – com múltiplos esquemas de propina atuando, simultaneamente, nos mais variados setores da vida pública – juntos formando um grande quadrilhão que roubou o Brasil dura, cruel e continuamente.
Corrupção no atacado; corrupção institucionalizada; corrupção em todos os segmentos da política.
Como, então, tirar desse mesmo grupo – ou de seus contornos – nomes comprometidos com a transformação vertical que o Brasil precisa? Como?... Se a maioria dos envolvidos sequer foi julgada? Como, se grande parte ainda está sendo investigada pela Força Tarefa da Lava Jato?
Resta claro, não é possível. Nem se pensou que fosse. Não é tarefa para uma só eleição (tampouco para a de 2018), mas para várias.
Contudo, não se vislumbrava chegar no ano em que um novo presidente da República vai ser eleito, sem que o terreno estivesse minimamente preparado ao novo plantio.
Em linhas gerais, soa como exagerado otimismo esperar que desse pântano nasça uma flor.
País sem lideranças
Com as devidas vênias àqueles cujas preferências sejam outras – entre as várias aqui não citadas – e tomando como período apenas da segunda metade do século passado para cá (para que não recuemos a passado ainda mais distante, pertencente a um mundo tão diferente) quem – indaga-se – entre os pré-postulantes de hoje, seria o ‘nosso’ Vargas, ou Juscelino ou Tancredo? Ou Lacerda, ou Ulisses ou Mário Covas? Ou, ainda, o ‘nosso’ Brizola, ou Franco Montoro ou Teotônio Vilela?
Pois é! Tá difícil. A lista dos presidenciáveis está por aí... todos dela sabemos. Tem decadentes condenados e decadentes não-condenados. Candidatos de imagem extremista e os de cima do muro.
Tem o que Temer vai apoiar – afinal, as duas denúncias irão voltar – e tem até alguns (poucos) nomes bons que poderiam fazer a transição para a grande mudança que o Brasil anseia.
Não esquecer que Luciano Huck retirou a candidatura (que perda!), mas o dr. Rey está aí... firme, forte e discreto. E não confundir: Ronaldinho Gaúcho não é candidato a presidente. Ele pretende ‘apenas’ ser senador da República.

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