Aldir Sales
09/12/2017 14:49 - Atualizado em 14/12/2017 16:59
A passagem da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por Campos na última semana movimentou a cidade e mobilizou grupos políticos opostos. O debate sobre o cenário nacional voltou à tona com a presença da figura do petista, que invoca uma legião de adoração e rejeição entre o público. A divergência também se fez presente na análise de diferentes líderes de partidos como PT, PSDB, PR e Patriotas.
Para Odisséia Carvalho, dirigente do Partido dos Trabalhadores em Campos, o saldo foi positivo para o fortalecimento da legenda na região, desgastada desde o início da operação Lava Jato. “O presidente Lula saiu de Campos muito satisfeito e emocionado. Foi muito bonito ver famílias inteiras, jovens, idosos. No IFF também a recepção foi maravilhosa, apesar do incidente com o estudante que tinha tatuado o símbolo da Ação Integralista (movimento de inspiração fascista). Conseguimos mobilizar dirigentes da região e o partido certamente sai fortalecido deste evento”, pontuou.
Por outro lado, o presidente eleito do Patriotas campista, partido pelo qual o deputado Jair Bolsonaro vai disputar a eleição para presidente em 2018, Renne Siqueira, viu o evento como uma oportunidade de crescimento do movimento bolsonarista em Campos. “A visita do Lula serviu para unir vários grupos contrários a ele e aumentar ainda mais a força do nosso movimento. Agora também vamos trabalhar para tentar trazer o Bolsonaro para Campos em breve”, disse.
Durante o discurso de Lula na praça do Liceu, na última terça-feira (5), cerca de 300 militantes pró-Bolsonaro se aglomeraram em frente à Câmara Municipal para protestar contra o ex-presidente. Houve provocações entre os dois lados e a Polícia Militar precisou fazer um cordão de isolamento para evitar confusões. No total, cerca de 2 mil pessoas estiveram presentes. Os organizadores estimaram aproximadamente 4 mil pessoas e a PM preferiu não realizar um levantamento.
A equipe de reportagem tentou contato com os presidentes municipais do PMDB, Geraldo Pudim, e da Rede, Marcão Gomes, que preferiram não se posicionar.
Thiago Ferrugem (PR)
Representantes de PSDB e PR comentam
A divergência também foi a tônica entre os posicionamentos dos representantes do PSDB e PR em Campos. O recém eleito presidente tucano Lesley Beethoven comemorou o fato das militâncias poderem se manifestar democraticamente, mas tem dúvidas sobre a veracidade do discurso do ex-presidente. “O Lula é muito habilidoso com as palavras. Ele joga o jogo político muito bem. Tentou se descolar dos seus ex aliados corruptos e incompetentes, tentou inflamar sua fiel militância. Vamos ver se isso será suficiente pra ele superar as cobranças de um eleitorado cada vez mais exigente, maduro e bem informado”, disse.
Já o vereador Thiago Ferrugem (PR), o petista representa uma contraposição à direita nacional. “Por tudo que Lula fez como presidente, por tudo aquilo que representa e principalmente por chegar no ano eleitoral com condições de elegibilidade, entendo ser uma candidatura importante dentro de um cenário onde a esquerda está esvaziada. Lula se contrapõe aos remédios que o governo Temer tem proposto para crise, coisa que o Alkimin, por exemplo, tem defendido. Sendo assim, fortalece a democracia ter um bom debate eleitoral com visões diferente de governo e o povo poder escolher qual entende ser melhor para o país”, destacou.
Petista falou sobre governantes do RJ
Depois de 28 anos sem visitar Campos em um compromisso de campanha, o Lula discursou para cerca de 1.700 apoiadores e um grupo de aproximadamente 300 opositores durante o primeiro ato da Caravana Lula Pelo Brasil no estado do Rio de Janeiro, na terça à noite, na praça do Liceu. Sem citar nomes, Lula criticou os governantes estaduais e afirmou que “o povo do Rio foi traído por alguns políticos que, ao invés de governar, roubaram o estado”. O petista ainda disse que quem “roubou a Petrobras” deve ser preso.
No dia seguinte, o petista concedeu entrevista exclusiva à Rádio Continental, do Grupo Folha, e depois visitou o campus Centro do Instituto Federal Fluminense (IFF). Lula foi recebido por alunos, professores e militantes e discursou para o público. Também houve protestos e um manifestante flagrado durante o discurso do petista na praça do Liceu com um símbolo de um grupo de ligações fascistas chegou a ser detido pela Polícia Militar depois de uma confusão com militantes do ex-presidente. Depois disso, Lula seguiu a caravana pelo estado até a última sexta, no Rio.