Em Jurassic Park, no primeiro filme da franquia que marcou toda uma geração (1983), logo no início, quando o anfitrião bilionário John Hammond (Richard Attenborough) mostra aos cientistas-convidados o espetacular parque temático e o experimento que recriou o que se havia extinto há 65 milhões de anos, – o matemático Iam Malcolm (Jeffrey Goldblum), preocupado, indaga de seus colegas que manipularam no laboratório daquela ilha isolada o DNA pré-histórico, como eles estavam fazendo para controlar a questão da natalidade.
Enquanto observava, num misto de espanto e curiosidade, o momento em que mais um dos ‘bichinhos’ rompia a casca do ovo para nascer, veio a resposta. “O laboratório trabalha com engenharia genética e só nascem fêmeas”.
Diante da informação que não lhe soa bem, o convidado insiste com os geneticistas do gigantesco parque: – Mas vocês não podem garantir que não vão nascer exemplares machos!
Os cientistas da ilha, orgulhosos de sua “descoberta”, questionam o desconfiado interlocutor acerca de como poderia haver reprodução apenas entre fêmeas. E o cético matemático dispara: a natureza dá o seu jeito.
Pois bem! Da ficção do cinema para a realidade de nosso País, podemos inferir que o Brasil está dando o seu jeito. A despeito de tudo e de todos os prognósticos negativos, particularmente no cenário econômico, o surpreendente Brasil vai encontrando sua maneira peculiar de sobreviver às crises e seguir em frente.
Na analogia com a ficção cinematográfica, os cientistas do Parque dos Dinossauros são os ‘nossos’ especialistas, consultores e doutores em Economia: ninguém, na virada 2014/15, tampouco 2016, apostou nos sinais de recuperação econômica que o Brasil vem apresentado. Tímidos e frágeis – é bem verdade – mas inegáveis.
Além do que, de maior ou menor expressividade, mais ou menos relevante, o Brasil está retomando a perspectiva de confiança – o que é tanto importante quanto a recuperação em si.
Crise vai ficando no retrovisor
Monstro em forma de números, que há 2/3 anos deixou a população perplexa ao se ver enganada pela crise camuflada, criminosamente escondida, que desabou de uma só vez na cabeça do brasileiro em forma de desemprego, de inflação, de alta de juros, de assustador fechamento de lojas e paralização da indústria – sem sequer apontar uma lanterninha de 6 volts no fim do túnel –, hoje, felizmente, já não é tratada como algo à frente, mas como ‘algo’ atrás.
Não se fala, via de regra, em recessão adiante, mas em recuperação. E a palavra depressão, que também correu solta, caiu no esquecimento.
Ninguém previu. Os economistas, além de cravarem em pedra diagnóstico negativo de longo prazo, ainda projetaram cenário de piora. A maioria não acreditava em nenhuma tintura de brisa senão a partir de 2018. E a brisa – branda, é certo – chegou desde 2017.
Não faz um ano, os prognósticos eram os piores. Mídia, setores especializados, cientistas políticos, estudiosos... se fecharam num mesmo coro e nuvem negra.
Não se ouvia nada diferente de “uma crise ainda em formação que iria se alimentar ao longo de 2017”. Mas, ao contrário, o que se previa “em formação”, longe de ser alimentada, perdeu força e se dissipou.
Conclusão: como de costume, os “consultores” erraram feio.
O Brasil continental e fértil
Numa realidade nem de longe prevista, o Brasil vai crescer 1% este ano. No próximo (agora, que os ventos mudaram, eles içam velas otimistas), 3%. Os juros caíram pela metade – algo em torno de 7% – com espaço para chegar a 6%.
A inflação está em baixa, o desemprego vem caindo com a abertura de novos postos de trabalho, o comércio espera vender neste fim de ano bem acima de 2016 e a indústria, principalmente a automobilística, exibiu crescimento significativo. Só a construção civil segue estagnada.
Então, pergunta-se: como o pessimismo bateu tão forte? A resposta parece simples: porque não consideraram tratar-se do Brasil.
Em outras palavras, em tempos de crise, a observação do fenômeno é vista sob ângulo linear, sem levar em conta as peculiaridades do Brasil. Então, olha-se para a Grécia, Itália, Inglaterra..., observa-se como foi lá, e importa-se o tamanho do problema.
Mas não funciona assim. O Brasil é um País continental, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados de terra fértil e água abundante. Não somos a Grécia de 132 mil km2, ou a Inglaterra de 130 mil, ou a Alemanha de 360 mil ou, ainda, o Japão de 380 mil km2. Não! Temos quase 10 milhões.
Logo, isso faz toda diferença. Somos salvos pelo Agronegócio, seus contornos e reflexos. Somos salvos pela terra fértil em que ‘se plantando tudo dá’... somos salvos pela natureza, que dá o seu jeito.