Campos: um passo à frente no Uniflu, um passo atrás no IFF
10/11/2017 09:38 - Atualizado em 19/11/2017 15:13
Ponto Final
Ponto Final / Ilustração
Passo à frente no Uniflu
Dois momentos registrados em Campos, no espelho do Brasil, evidenciaram o quanto podemos avançar e regredir enquanto sociedade. Na noite de quarta, o auditório lotado da Faculdade de Direito de Campos (FDC) provou ser possível confrontar em alto nível visões de esquerda e direita, sem tropeçar no Fla x Flu que tem dominado o debate político nacional. A cientista social Vanessa Henriques, o jornalista Ricardo André Vasconcelos, o bacharel em administração Igor Franco e o advogado Gustavo Alejandro Oviedo expuseram opiniões sobre vários temas, sob a ótica de espectros políticos opostos. E o fizeram com o mesmo respeito ao contraditório observado pelo público, que também participou da discussão.
Satisfação coletiva
O “Diálogo entre Visões de Esquerda e Direita” foi uma promoção do Centro Universitário Fluminense (Uniflu), com participação direta os professores da FDC Rafael Crespo Machado e Cristiano Miller. O evento nasceu das análises dos colaboradores do blog “Opiniões”, hospedado no Folha 1, editado pelo jornalista Aluysio Abreu Barbosa, diretor de redação da Folha, a quem coube mediar o debate de quarta. Transmitido ao vivo na página do Uniflu no Facebook, ele foi acompanhado por mais de duas mil pessoas. Ao seu final, independente da ideologia de cada debatedor e presente, os sorrisos e cumprimentos trocados foram o melhor retrato da satisfação que só se constrói coletivamente sobre as diferenças.
Passo atrás no IFF
Infelizmente, no dia seguinte ao debate da FDC, veio de outra importante instituição de ensino de Campos a notícia do quanto ainda temos a evoluir na construção do respeito às diferenças. Ontem, no Instituto Federal Fluminense (IFF), estudantes convidados do Instituto Federal do Maranhão fizeram um protesto. Eles relataram que foram vítimas de atos de racismo por colegas campistas, na quarta. No campi do IFF de Guarus, após apresentarem um trabalho sobre cultura afro-brasileira, foram chamados de “macumbeiros” por estudantes locais. No mesmo dia, teriam sido hostilizados também no campus Campos-Centro, por alunos que simularam gestos de macacos, em referência jocosa aos colegas nordestinos.
Fascismo real
O mais surpreendente do episódio é que o IFF, desde quando era Escola Técnica Federal de Campos, é conhecido pela predominância da esquerda nos seus quadros docente e discente. E o respeito às diferenças socioeconômicas, de raça, credo e gênero é bandeira tradicional da esquerda. Assim como é da direita liberal, que tem a liberdade individual como seu principal valor. A intolerância que avança perigosamente, no Brasil e no mundo, é filha do fascismo real, que vai muito além das palavras de ordem de quem entende o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) como “golpe”. Lutar contra ela é obrigação de quem, entre as defesas da liberdade e da igualdade, acredita na fraternidade como valor entre os homens.
UP em Campos
Se definindo com um novo partido de esquerda, a “Unidade Popular pelo Socialismo” (UP) avança nos últimos anos no país, já com 420 mil apoiadores para a legalização da legenda. Em Campos, o movimento também já se faz presente e vem liderando um ato contra o fim da passagem social, mobilizando a população contra a alteração de R$ 1 para R$ 2,75. O alvo é o governo de Rafael Diniz (PPS) e principalmente vereadores da base aliada que votaram a favor da suspensão temporária do programa. Cartazes com a foto deles foram espalhados por pontos de ônibus e monumentos públicos.
Carona
A legitimidade do movimento não é questionada, mas a independência pregada pelo “novo partido” vem sendo colocada em xeque quando nenhum representante da UP em Campos se posiciona contra os que não fazem parte do movimento e tentam pegar carona no protesto. Basta uma olhada rápida nas redes sociais para ver o que o grupo dos Garotinho tem feito para se aproveitar da organização do UP e tentar se reerguer politicamente. Resolveram voltar às ruas após atos organizados por garotistas, mas frustrados pela falta de credibilidade e pelo terrorismo.
No passado
Não é de hoje que a credibilidade dos aliados aos Garotinho anda abalada. Como bem lembrou reportagem da Folha no último domingo, o que fazem os garotistas agora já tentaram em 2013. Naquela época, Campos criou o “Cabruncos Livres”, que reuniu mais de 4 mil pessoas numa passeata da Praça São Salvador à Prefeitura, com palavras de ordem entoadas contra o governo Rosinha Garotinho (PR). Em frente à Câmara, um advogado do grupo rosáceo tentou subir num trio elétrico e foi forçado a descer pelos jovens, que gritaram: “É o advogado do Garotinho”.
José Renato

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