Diria, sobre a política brasileira em geral, o repetitivo e já pra lá de sem graça... ‘seria cômico, se não fosse trágico’.
Ocorre, contudo, que a tragédia sem precedentes que assola a política do País vem apresentando vertentes tão singulares e descambando para terreno de tal ordem desconhecido – genuinamente degenerativo – que, de fato, torna-se forçoso reconhecer que num quadro de tamanha atipicidade é possível identificar traços de pura comédia.
Na raiz, não há nada de engraçado. Mas, nos desdobramentos, existem aspectos que ou a gente senta e chora, ou senta e dá risada.
Na nuvem negra que paira sobre o Brasil, o Rio de Janeiro – com seu tradicional status de vitrine e cartão postal do País – há de ter feito leitura apressada e míope; pensou tratar-se de algo vistoso e não pensou duas vezes: caiu de cabeça.
Simplesmente não viu que era uma furada e, no reflexo, disse: tô dentro! E entrou.
Pois é! Parece que ficou com ciúmes de Brasília... há de ter ‘batido’ saudades dos tempos de capital federal, que deixou o Palácio do Catete e foi para os braços do Planalto, – e decidiu, revoltado, ser o abre-alas do carnaval da propina.
Exibindo todas as cores e ritmos no desfile da ‘Avenida da Organização Criminosa’, a cúpula do PMDB da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, formada pelos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, está praticamente desbancando a cúpula do PMDB no Senado Federal – que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chamou de “quadrilhão do PMDB” – composta pelos senadores Renan Calheiros, Romero Jucá, Edson Lobão e Jader Barbalho.
Assim, para mostrar a força e a harmonia do Grupo Especial, foi todo mundo em cana. A “cúpula da Alerj” foi presa. Vinte e quatro horas depois solta. E novamente presa – com Benfica sendo escolhida para o gran finale.
Garotinho, de cadeia em cadeia
Saindo do legislativo para o executivo, a situação é muito parecida. Em Brasília, entre investigados, denunciados e presos, tem para todos os gostos.
O presidente Temer se livrou de duas denúncias, mas não se sabe o que vai acontecer quando acabar o mandato. Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima estão presos, com grandes chances de que outras condenações venham em série.
Só que a política fluminense não se conteve e assumiu o protagonismo: três ex-governadores na cadeia (Sérgio Cabral Filho, Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho) e o atual, Luiz Fernando Pezão, sob investigação.
Contudo, enquanto Cabral já fez até aniversário de um ano em Benfica, com direito à confusão do telão e tudo mais, Garotinho está pulando de cadeira em cadeia.
Logo após a prisão, o ex-governador foi para o Quartel dos Bombeiros, em Humaitá; horas depois para Benfica – onde passou a noite e, segundo ele, sendo agredido. Apresentou queixa e tudo. Só que ninguém viu nem soube. Nem as câmeras de vigilância.
Por fim, salvo nova mudança, no início da noite de sexta-feira, 24, o ex-governador foi transferido para Bangu 8, presídio de segurança máxima, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, sob recomendação de ficar isolado e vigiado 24 horas.
Ah... A ex-primeira dama, Adriana Anselmo, também está no ciclo de prisões. Há alguns meses ela foi para a cadeia de Benfica, depois conseguiu o benefício da prisão domiciliar. Mais alguns dias, voltou para Benfica – ficou horas – e novamente para o regime domiciliar. Por fim, na 5ª-feira, 23, voltou para Benfica.
Enfim, a história recente da política do Rio não deixa de ter lances de comédia. Ao invés de se estar buscando nomes que possam levar o estado adiante, dentro de uma reforma ética profunda que tire de cena lideranças carcomidas pelo populismo e comprometidas com corrupção, o destaque das manchetes está no dia-a-dia dos presídios e em quem foi para esta ou aquela cadeia.