Paula Vigneron, Julia Beraldi, Ana Laura Ribeiro e Suzy Monteiro
22/11/2017 08:52 - Atualizado em 24/11/2017 18:27
Garotinho preso no Rio
Rosinha se apresentou na delegacia da PF
Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho foram presos na manhã desta quarta-feira (22), na operação Caixa D'Água, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Eleitoral, com mandados de prisão e de busca e apreensão em Campos, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A ação envolve empresas com contratos com a Prefeitura de Campos no governo passado. Também foram presos membros do primeiro escalão do governo Rosinha, como o ex-secretário de Controle e Orçamento Suledil Bernardino, o ex-subsecretário de Governo Thiago Godoy, além do policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, conhecido como “Toninho”.
De acordo com a Polícia Federal, oito mandados de prisão e 10 de busca e apreensão foram expedidos pelo juiz da 98ª Zona eleitoral, Glaucenir Silva de Oliveira. A ex-prefeita Rosinha, que estava em Campos para assistir à apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de uma das filhas, se apresentou na delegacia da PF pela manhã, onde passou por exame de corpo de delito, sendo transferida para o presídio feminino Nilza da Silva Santos por volta das 11h30. No mesmo horário, Suledil e Toninho foram encaminhados para a Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro.
Já o ex-secretário municipal de Governo Anthony Garotinho, preso em seu apartamento, no Rio de Janeiro, depois de passar por exame no IML, foi encaminhado para o quartel dos bombeiros, no Humaitá. À tarde, a Vara de Execuções Penais (VEP) do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro enviou ofício à secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), ao Corpo de Bombeiros e à PF, determinando a transferência de Garotinho para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica — onde se encontram presos o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e os deputados estaduais afastados Jorge Piccini, Paulo Melo e Edson Albertassi —, o que ocorreu por volta das 17h20. Também na capital, foi preso o ex-subsecretário municipal de Governo Thiago Godoy.
O governador do estado do Rio de Janeiro se pronunciou sobre a prisão do casal Garotinho. "É da democracia, cada um dentro do seu fórum competente vai se defender. O País todo está passando por esse processo, agora no Rio mais acentuado. Mas é da democracia. O País vai ser outro. Com certeza que, em 2018, vai ser outro país. Que se dê direito de defesa a eles", afirmou Pezão. O governador disse não saber o motivo por que Garotinho e Rosinha foram presos hoje. "Todos que estão presos têm direito a defesa, ele, ela, todos que estão lá", disse.
O caso — O Ministério Público Eleitoral apresentou denúncia contra os ex-governadores e mais seis pessoas, entre outros crimes, por organização criminosa. De acordo com a denúncia, Garotinho era “a pessoa que exercia o comando da referida organização criminosa, por outorga e delegação da segunda denunciada, Rosinha”. O policial civil aposentado Antônio Carlos Ribeiro da Silva, o “Toninho”, é apontado na denúncia como “braço armado da mesma organização”.
A operação Caixa D'Água foi desencadeada a partir da divulgação da delação premiada do diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud. O empresário teria relatado à PF como o esquema com Garotinho teria funcionado a partir de 2014. Depois disso, foi descoberta a participação de um empresário campista, que fechou acordo de colaboração com a Polícia Federal.
A partir das informações, a Polícia Federal investigou e juntou provas que constam do Inquérito Policial 0189/2017. Nele, está relatada uma reunião que o ex-governador Garotinho teria comandado em 2014, na torre do Rio Sul, em Botafogo, Rio de Janeiro. Na reunião, ainda segundo a PF, Garotinho teria cobrado R$ 5 milhões a vários empresários campistas. O dinheiro seria usado na campanha dele ao Governo do Estado. Ainda de acordo com as investigações, Garotinho temia não ir para o segundo turno das eleições por estar perdendo fôlego financeiro.
A defesa de Garotinho e Rosinha informou que só se pronunciará sobre o caso quando tiver acesso aos documentos que embasaram os mandados de prisão, o que ainda não teria acontecido. Já Garotinho, através da assessoria, emitiu nota oficial sobre sua prisão em seu blog, mais uma vez alegando perseguição:
"O ex-governador Anthony Garotinho atribui a operação de hoje a mais um capítulo da perseguição que vem sofrendo desde que denunciou o esquema do governo Cabral na Assembleia Legislativa e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter.
Garotinho preso no Rio
Garotinho preso no Rio
Garotinho preso no Rio
O ex-governador afirma que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de Garotinho, no ano passado, logo após ele ter denunciado Zveiter à Procuradoria Geral da República.
Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeram crime algum e, conforme disse ontem no seu programa de rádio, foi alertado por um agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sergio Cabral e Jorge Picciani, durante a primeira prisão do deputado em Benfica. Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho".
Após as declarações do ex-governador, a Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) divulgou nota de apoio ao juiz eleitoral de Campos.
“Ao longo de processo judicial por crime eleitoral, inúmeras vezes o ex-governador fez acusações sem provas contra membros do Judiciário fluminense.
Rosinha se apresentou na delegacia da PF
Filhos de Rosinha na delegacia da PF
Nesta quarta-feira, o ex-governador volta a atacar magistrados do Rio. Mistura fatos e personagens sem nenhuma relação, com o objetivo de confundir o público, vitimizar-se e desviar o foco do processo judicial, que resultou em sua nova prisão.
A custódia de presos é de responsabilidade da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), do Governo do Estado, não do Judiciário.
Os juízes atuam com independência funcional em cumprimento da lei. A magistratura continuará dedicada ao trabalho sério e de alta qualidade, que fortalece o Poder Judiciário, pilar do Estado Democrático de Direito”, defendeu a Amaerj.
Confira a nota completa sobre a operação divulgada pela Polícia Federal:
“A Polícia Federal cumpre, na manhã de hoje (22/11), 09 mandados de prisão e 10 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Juízo Eleitoral de Campos dos Goytacazes/RJ. Trata-se de ação que apura os crimes de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais.
Participam da operação aproximadamente 50 policiais federais nos munícipios do Rio de Janeiro/RJ, Campos dos Goytacazes/RJ e São Paulo/SP. Dentre os presos está um ex-governador e uma ex-governadora do Estado do Rio de Janeiro.
Durante as investigações, a PF e o Ministério Público Estadual identificaram elementos que apontam que uma grande empresa do ramo de processamento de carnes firmou contrato fraudulento com uma empresa sediada em Macaé/RJ para prestação de serviços na área de informática. Suspeita-se que os serviços não eram efetivamente prestados e que o contrato, de aproximadamente 3 milhões de reais, serviria apenas para o repasse irregular de valores para utilização nas campanhas eleitorais.
Outros empresários também informaram à PF que o ex-governador cobrava propina nas licitações da prefeitura de Campos, exigindo o pagamento para que os contratos fossem honrados pelo poder público daquele município. Um ex-secretário municipal também foi preso. Após os procedimentos de praxe, os presos serão encaminhados ao sistema prisional do Estado onde permanecerão à disposição da Justiça”.