"Servidor tem que ser prioridade"
Suzy Monteiro 04/11/2017 18:07 - Atualizado em 07/11/2017 14:34
João Peixoto
João Peixoto / Rodrigo Silveira
Único político em atividade de sua geração, o deputado estadual João Peixoto, presidente regional do PSDC e da Comissão Provisória municipal, afirma que política é feita com diálogo e sola de sapato. Aos 72 anos, tem rotina intensa: sábado passado, por exemplo, participou de cavalgada em São Sebastião do Alto em um percurso de 8 km. De lá, foi para Itaocara, onde esteve nos festejos pelos 127 anos do município - foi à praça, missa e solenidade na Câmara. Fechou o dia em São Fidélis, visitando a igreja de um pastor: “para estar na política por tantos anos é preciso disposição”, afirma. O parlamentar, adepto do estilo mineirinho, diz que evita bate-bocas e aponta diálogo e sola de sapato como ingredientes que lhe garantiram os seis mandatos na Alerj. Peixoto garante que as obras da ponte entre São João da Barra e São Francisco serão reiniciadas: “mas, primeiro, é preciso pagar os servidores”.
Folha da Manhã – O senhor é aliado do governador Luiz Fernando Pezão, que está à frente do Estado em uma de suas piores crises. Com este empréstimo obtido pelo Estado, acredita que 2018 poderá ser melhor que 2017?
Deputado João Peixoto – Não é porque sou da base do governo que estou falando isso. Mas esta crise que estamos passando no Rio de Janeiro, eu, que já ganhei seis vezes, nunca vi uma crise dessas. A gente não ia imaginar que isso, que começou lá atrás, iria cair na mão de alguém. E caiu com Pezão. Quando cheguei à Assembleia, em 1995, vi uma crise. O governador Marcelo Alencar (1925-2014) pegou o governo de Nilo Batista (1944), que era vice de Brizola (Leonel, 1922-2004). Brizola deixou o governo para concorrer à presidência da República. Uma crise terrível, mas não assim como esta. Então, o que Marcelo Alencar fez? As privatizações. Sanou parte das dívidas do Estado. O que ele privatizou? Banerj, Light, Cerj, Ceg, Barcas. Então, o Governo do Estado, tirando essas responsabilidades que tinha, passou a arrecadar porque aquilo ali dava prejuízo, segundo eles. Então, o governo, naquela época, deu uma recuperada. Depois, passa o governo A, governo B. E aí veio Sérgio Cabral. Ele, com aquela ligação toda com o governo federal, fez muitos compromissos. E o Estado estava tão bem, que quantos incentivos foram dados para que grandes empresas se instalarem no Rio, especialmente no Sul Fluminense? Com a crise, Pezão mandou para a Alerj, cortando os incentivos. Culpam muito Pezão, mas ele já pegou a coisa ruim. Ninguém ia imaginar, também, que se vendia um barril de petróleo a U$ 145 ou U$ 150 e passou a U$ 29. E as despesas só aumentando. A ponto de servidores estarem recebendo igual a Casas Bahia, com pagamento dividido em até seis vezes. O governo sem poder fazer nada, mandou aquelas medidas para Alerj para aprovarmos e poder recuperar o Estado. Aí, o governo federal exigiu várias coisas para poder liberar. A oposição até mostrou algumas coisas. Porque a oposição, quando traz uma crítica construtiva, ajuda a governar. E o governo acatou as sugestões. Nunca tive dúvidas que o empréstimo ia sair. A parte que a Assembleia teria que fazer foi feita. Agora, até a primeira quinzena de novembro, nossos servidores estarão recebendo o salário, gratificações e o 13º de 2016. Isso, para mim, é uma alegria muito grande. Porque eu, que era empregado, ficava feliz quando chegava o final do ano para receber o 13º. Ficava feliz quando chegava dia 30 e recebia meu salário. Eu, que passei por isso, vejo com muita tristeza o que os servidores estão passando. Ver o que a Uenf está passando. Nem segurança tem mais. A Prefeitura que mandou os guardas passarem por lá. Com estes R$ 2,9 bilhões, R$ 2 bilhões serão só para pagar aos servidores. E, com certeza a economia começa a movimentar. Porque as pessoas que estão com seu cartão de crédito para pagar, com suas contas em atraso, coisas para comprar... Sempre acreditei que o governo sairia disso. E, com certeza, uma coisa importante é que aqueles impostos que o Estado tem que repassar ao governo federal não tem mais. É um grande avanço. Tenho certeza que o próximo governo não vai passar as mesmas dificuldades que este, que está sendo um governo impopular por tudo que está acontecendo. Nós, deputados, estamos há dois anos sem ter nossas emendas parlamentares. Meu gabinete todos os anos faz, mas não está conseguindo. A última emenda que consegui foi de R$ 3 milhões para fazer a clínica da família em São Fidélis e São Francisco de Itabapoana. Isso, de 2014 para 2015. Agora estamos preparando as de 2018. Por exemplo, os hospitais estão com muitas dificuldades. Falei com o prefeito Rafael Diniz que, além de ele ter conseguido várias emendas de Brasília, é para ver umas prioridades para Campos. Já coloquei algumas emendas, como hospitais, agricultura, através da Associação dos Produtores de Morro do Coco. Em São João da Barra para Santa Casa. São Francisco, Cardoso Moreira.
Folha – Voltando à recuperação do Estado, e a ponte que liga SJB a SFI? Vai sair?
Peixoto – Estive há dois ou três meses com o governador, junto com o presidente da Câmara de SJB, Aluízio Siqueira, e a bancada toda de São João da Barra que dá apoio à prefeita Carla Machado. E ele se comprometeu comigo e com os vereadores que, em novembro, viria para dar reinício às obras. Há cerca de 20 dias fui cobrar a ele de novo. Sou da base, mas estou cobrando, porque dos deputados estaduais daqui, quem pediu voto para ele fui eu. Então as pessoas não cobram aos outros deputados. Cobram a João Peixoto. Ele me disse: “Joãozinho, estive com o pessoal da Premag, que é a empresa que está construindo a ponte, e está certo”. Mas, com a demora do recurso que tinha que vir para pagar os servidores, não será mais em novembro. Vejo o seguinte: entre a obra da ponte que vai beneficiar três municípios e pagar os servidores, fico com os servidores. Dos R$ 900 milhões que vão sobrar, o governador afirmou que não fará mais nenhuma obra, mas vai terminar as iniciadas e, aí, a ponte é prioridade. Tanto que ele repetiu isso à prefeita Carla Machado (SJB) e Francimara (SFI).
Folha – E para Campos, alguma novidade mais imediata?
Peixoto – Estou tentando marcar uma audiência com o prefeito Rafael Diniz para que ele decrete emergência em Campos por causa da seca. Quem cortou a cana nos últimos 60 dias, as socas estão morrendo todas por falta de chuva. E aqueles produtores que apanharam empréstimos não têm como pagar. Como vão pagar ano que vem se não tem soca? Já falei com o amigo Alexandre Bastos que quero marcar essa audiência com o prefeito até segunda-feira antes de eu viajar para que ele decrete a emergência. Outros municípios já decretaram. Caso não consiga a audiência, vou fazer uma Indicação Legislativa na Alerj para passar para o prefeito e ele tomar as providências necessárias.
Folha – O senhor não apoiou o então vereador Rafael Diniz na campanha para prefeito, embora vereador José Carlos, do seu partido, tenha apoiado. Tudo zerado depois disso? E como está vendo o governo municipal, que também passa por dificuldades?
Peixoto – Não apoiei Rafael, mas, como ele mesmo diz, a eleição acabou em 3 de outubro do ano passado. A partir daí foi uma outra coisa. Minha relação com ele é das melhores. O que eu puder fazer para ajudar o município vou fazer. É aqui que vivo e aqui minha família vive. Não apoiei, mas meu partido fez quase 32 mil votos. Se não tivéssemos esses votos, haveria segundo turno em Campos. Indiretamente, ajudei também. Em relação à crise, falo que, qualquer prefeito que entrasse, passaria pelo mesmo problema. Porque a crise não é em Campos. É no mundo. E no Brasil, parte da “culpa” pela crise é da natureza, porque não está chovendo e não se produz para movimentar a economia.
Folha – Mas a seca não é algo esporádico e a tendência é que se agrave a cada ano. Já não é hora de ter ações concretas para a agricultura?
Peixoto – Sim, claro. Não sou técnico, mas acho que os prefeitos, a sociedade de modo geral tem que se unir em torno de um projeto como este. Uma solução para esse caso.
Folha – O senhor apoiou Caio Vianna. Depois da campanha este relacionamento político teve seguimento?
Peixoto – Não estive mais com Caio. Não tive mais contato com ele, apenas uma vez por telefone. Fiz a campanha, fiquei satisfeito.
Folha – O senhor está no sexto mandato e vai disputar o sétimo. Para o próximo ano surgem outros nomes, como o vereador Cláudio Andrade, o médico oncologista Diogo Neves, filho do empresário Herbert Neves. Tem espaço? Quem é do PSDC ou quer ir para o partido tem espaço para disputar com João Peixoto?
Peixoto – Tranquilamente. Tanto que para o vereador Cláudio Andrade já enviei até a ficha dos prováveis candidatos. Se ele quiser ser candidato a federal ou estadual. Tem o vereador Zé Carlos, que está desconfortável dentro do partido, mas se quiser ser candidato a federal, como está dizendo que vai ser, a nós, do PSDC, não faz diferença nenhuma. Não aconselho a nenhum deles a sair do partido para ser candidato. Mas, se ele quiser ser candidato em outro partido, eu libero para ele sair. O partido não vai entrar na justiça para pegar o mandato. Gil Vianna foi vereador pelo PSDC. Quando ele não quis mais, falou comigo e liberei, sem problemas. Sobre Diogo, as conversas não avançaram, mas o partido está à disposição dele.
Folha – Sobre Gil, vocês chegaram a ter uma conversa este ano. Avançou?
Peixoto – Não, não avançou. Então, o vereador Zé Carlos não terá problemas. Sou pacificador. E aprendi com o saudoso Aluysio Barbosa. O bate-boca não leva a nada. A gente tem é que dialogar.
Folha – O senhor tem caminhado bastante com o vereador Igor Pereira...
Peixoto – Igor tem tudo para ir para o PSDC também. Uma coisa muito importante que é saber reconhecer. E Igor reconhece que começou comigo. Depois foi para o outro lado, mas sempre nos atendeu muito bem. Eu estava prestando contas em Mineiros e ele falou: “deputado, quero andar os 92 municípios pedindo votos para o senhor”. E eu disse: “se vai pedir voto para mim, porque não pede para você também?”.
Folha - Com Kellinho, por exemplo, não foi assim.
Peixoto – Não. Dei três mandatos a Kellinho e depois que ele foi para o outro lado nunca mais falou comigo. Mas, lamento o que ele está passando (caso Chequinho).
Folha – O senhor talvez seja um dos únicos políticos de sua geração em atividade. Acha que ainda há espaço para essa política como há quase três décadas é praticada em Campos?
Peixoto – Sou o único. E como fiz política o tempo todo no solado do sapato. E vejo que essa política agressiva não tem mais espaço. Essa política do toma lá dá cá está ultrapassada. O povo quer é solução. E quer ser ouvido. Eu faço política 24 horas por dia sem tocar em nome de ninguém.
Folha – Além das coisas que o senhor citou, quais têm sido o foco de seu trabalho na Alerj?
Peixoto – Tem a questão do Uber. Vejo uma concorrência desleal do Uber para os táxis. Se um tem que pagar impostos, o outro também tem. Os taxistas pagam todos os seus impostos e o Uber não paga nada? É por isso que faz a corrida mais barata. Se for assim, é só isentar os taxistas. Aí fica uma disputa igual. O Uber teria que ser legalizado também. Outra defesa minha é para rodeios e cavalgadas, que fazem parte da cultura do brasileiro, especialmente do interior. Não defendo sofrimento de animais, mas sim aqueles eventos que são legalizados e com fiscalização para acompanhar isso tudo. Além de diversão, é geração de emprego também, movimenta a economia e não pode acabar.

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